28 de maio de 2009

Estava a ouvir o Governo Sombra da TSF e dei por mim a pensar no seguinte:

Na imprensa, quando a notícia é um insulto proferido por alguém a outrem, a tendência natural é, em texto escrito, trocar o insulto pela primeira letra do mesmo, seguida de asteriscos, resultando, o exercício, em qualquer coisa do género: "... vai para o c******". 
Ora, no caso, o facto é mesmo o caralho. Assim, só por excesso de pudor se compreende a omissão do caralho, sabendo-se, desde logo, que é nele que está a notícia. Omiti-lo é como não contar a verdade. Deixar o caralho de fora é deixar a história por contar.

27 de maio de 2009

Querido diário,

Hoje acordei cedo. Lavei-me - lavo-me sempre - e fui trabalhar. Depois de cerca de uma hora de trabalho parei para comer, como faço todos os dias.
Voltei do café e telefonei para um senhor, a combinar uma conversa sobre um trabalho que tenho em mãos. A conversa ficou combinada.
Continuei a trabalhar. Trabalhei mesmo, até que parei para almoçar.
Voltei do almoço e liguei para o mesmo senhor, a reconfirmar a combinação. "Tudo ok", respondeu ele, querido diário.
Trabalhei a tarde toda. Acabei o trabalho e vim até casa. À hora prevista, antes da hora marcada, saio de casa, para não chegar atrasado. Antes de arrancar com o carro, um telefonema. Continua de pé, o encontro.
Chego à cidade - e não é fácil chegar à cidade - estaciono o carro, peço a um puto para lançar um olho e sigo caminho. Entro no prédio, "ah, ele hoje não veio".
Querido diário, estou um bocado farto disto.

Quando o inesperado acontece

Olhei pela janela e julguei estar a alucinar. Felizmente, o efeito do Dão, Meia Encosta, Tinto já passou há algumas horas. Aqui é Luanda e isto é um autocarro dos Transportes Sul do Tejo, em Luanda. Não é mentira. Em tempos, isto andou mesmo pelas ruas do Seixal, Almada, Sobreda, Costa da Caparica, Fogueteiro e até Arrentela!



26 de maio de 2009

Olha eu (o da camisola às riscas)

No especial de apresentação da nova grelha de programas da Tv Zimbo. Isto pode ser o que é (e não é pouco), mas é meu, também. É meu e têm-se saído da pele, enquanto perco anos de vida.

25 de maio de 2009

Por estes dias temos lá em casa a namorada de um colega. Acabámos de ir às compras. "Vocês não têm comida nenhuma". Eu só pergunto: Qual é o problema dela com Cerelac?

22 de maio de 2009

E está tudo dito

Ontem, numa reportagem nocturna, durante a festa de aniversário de um espaço cultural de Luanda, optei por colocar a todos os [muitos] entrevistados a mesma pergunta e apenas esta:
O que é que o Elinga tem?
A diversidade das respostas foi tanta que daqui podemos tirar uma lição: às vezes complicamos, com frases demasiado elaboradas e perguntas excessivamente forçadas, quando, no fundo, tudo se resume a pequenas coisas.

19 de maio de 2009

33H

Tenho a carteira cheia de notas de 10, tantas que não a consigo fechar. As notas de 10, e as de 5, também, circulam ao ritmo da vida: acelerado. Não é que tenham grande valor, como a vida, volátil, mas são tantas e tão chatas que qualquer pretexto é bom para as despachar.

Em rigor, a minha carteira está quase sempre assim. Se calhar devia fazer como o Ricardo e guarda-las. Tivesse ele falado disso antes e talvez eu próprio fosse hoje um coleccionador de notas de 10. Em cada uma teria escrito uma memória, uma história, um episódio. Sobrariam as narrativas, por falta de notas.

São 9 meses disto, aqui. Fora o que se faz, há tão pouco para fazer que tudo parece imenso. Por falta de distracção, concentramo-nos nas coisas simples. Simples demais, às quais não daríamos importância, não fora o facto de andarmos entretidos com nada, além do circunstancial.

No fundo, é uma estupidez esta maneira de levar a vida. Vai-se da paixão ao desamor num fragmento de segundo, de novo à paixão e daí sabe-se lá para onde. Se agora somos líricos, a seguir seremos é uns grandes idiotas porque perdemos tempo com poesias.

Tenho África entranhada. O calor abre-me os poros e a poeira enche-me a pele de coisas que não consigo definir melhor do que isto.

Tudo é tão rápido, só o tempo demora a passar. Não é que seja penoso, apenas demasiado intenso, real e longe da saída para se fugir “em caso de emergência”.

Ninguém passa por aqui e continua igual a si mesmo. É-se – sou – uma metáfora (na melhor das hipóteses) do que estava convencido ser. Ao olhar do espelho sou mesmo eu, mas o tipo que se reflecte é quanto muito um heterónimo do 33H, TP257.

Não sei quanto tempo é que isto ainda vai durar. Já percebi é que não vai acabar no dia em que me for embora.

Ainda as formigas

Fiquei feliz quando percebi, há escassas horas, que existe no mundo quem compartilhe o gosto pelas formigas. Não é caso menor. De facto, as formigas são a comunidade mais organizada da biosfera e não é sensato ou simpático desprezar a forma como elas funcionam no colectivo. Soubessemos nós metade do que elas sabem sobre vida comunitária e seriamos, certamente, muito melhores enquanto organização.

As formigas - Olívia, onde raio é que tu te meteste? - são o exemplo acabado de que o todo é muito mais do que a soma das partes e a nós faz-nos muita falta perceber isto.

Querida Antígona, sinto contigo a dor pelo genocídio provocado a milhões de formigas (vejam isto) com um fim científico, mas quem parte deixando um exemplo a quem fica morre por uma causa maior. Como Cristo, no fundo.

Olívia e Esmeralda


Tenho duas formigas na minha secretária. Quer dizer, de verdade, de verdade não posso garantir que são duas formigas apenas. Eu é que só vejo duas de cada vez. Criaram os seus hábitos e são minhas amigas. A Olívia está no monitor. Controla os sites que visito e ajuda-me a fazer os alinhamentos do programa. A Esmeralda anda muito entretida com os meus papeis, como se fosse o meu corrector ortográfico.

Ganhei por elas (as duas ou as demais) um grande afecto e não capaz de as tirar daqui. Deixo-as, então, em paz.


15 de maio de 2009

Pequenos nadas

Ora, são quase 23 horas, estou a trabalhar desde as 8:30, já fiz duas refeições, ainda não fechei o programa, já estive com dois editores diferentes - o primeiro acabou o turno dele, o segundo está lá quase - não vou fechar o programa, já parei a edição cerca de 300 vezes e ninguém faz a mais pequena ideia de como é que aquela cassete vai ser digitalizada. O que vale é que hoje vou de carro para casa.

14 de maio de 2009

O texto da vizinha

A modéstia é uma coisa muito bonita. Que se lixe a modéstia. A minha vizinha da blogolândia escreveu sobre mim (com conhecimento de causa) e eu não resisto a publicar aqui um excerto - é o texto todo, mas inibo-me de o assumir - dessa pérola da literatura contemporânea. Nunca um tema foi tão actual:

"O meu Nuno

Embarcámos juntos na aventura - ou desventura - e foi aí que aprendi a conhecer-te, a rir-me das tuas maluquices e a gostar de ti como um amigo. Para quem não te conhece posso dizer que pareces um intelectual certinho, muito educado e formal, uma figura que passa quase despercebida. Mas não és nada disso. 
És um rapazinho cheio de talento, profissionalismo, boa disposição, doido varrido e com uma lata descomunal para se meter com tudo e com todos. Afinal quem perguntaria à senhora que vende cervejas o caminho para Beja? Só mesmo o Nuno, o meu Nuno, sempre pronto para avacalhar o sistema, deixar sem jeito quem o acompanha e tirar um sorriso aos mais antipáticos.
Também sabe ser sensível, carinhoso e boa pessoa, tal como consegue rebentar os tímpanos dos demais com a sua voz de tenor.
Escreve como ninguém, tem um dom para a comicidade e quando acorda gosta de andar de boxers em casa!
Sei que nunca mais seremos tão próximos como fomos, mas sei que ter amigos, por mais desbocados que sejam, é sempre uma mais-valia. 
Podia escrever um texto enorme e nunca conseguiria descrever aquilo que significas para mim. Não posso esquecer as lágrimas e as alegrias, as brincadeiras e as más disposições, os 10 minutos que levas a levantar-te, tomar banho e sair de casa - nunca percebi como conseguias - o Chocapic e as baratas, as latas de grão e de milho que comias às colheres, os posts que escreves na sanita e os gases que soltas com pré-aviso!
Por tudo o que foi, por tudo o que será... Adoro-te!
Agora despacha o trabalho por aí, porque aqui precisamos de ti!"

No fundo, eu gosto é de causar boa impressão.

13 de maio de 2009

Diz-me nada:

Decidi escrever sobre isto sem motivo algum para o fazer. Interroguei-me, pus-me em causa e estive prestes a vacilar. Ainda assim, convicto de que o que escrevo - e o que penso - é o que está certo (é o meu certo, pelo menos), cá está.
Não achem que fico mais tranquilo por abordar o assunto. Não pensem que, ao faze-lo, tiro dos ombros o peso do mundo que ainda sinto. Não. Longe disso, é como se todos os fantasmas que o assunto transporta pairassem sobre este momento solene, do assumir publicamente que sim, faço parte daquilo.
Devia-me proteger mais, evitar a exposição que acabo por conseguir. Ainda na negativa - embora não na negação - sei que se estivesse quieto só tinha a ganhar. Desculpem, não dá. Não dá e agora é tarde. Disse. Digo.

Uma verdade como as outras

Uma dia apareço à tua porta.

10 de maio de 2009

... por isso existe o Ponto de Encontro

Há um lado simpático nas despedidas. Nos momentos seguintes tendem a surgir-nos na memória os momentos bons que nos ligam, de certa forma, à pessoa ou ao lugar que acabámos de deixar. Enfim, é sempre melhor ter a cabeça cheia de coisas boas.
As pessoas fazem os lugares e os lugares vivem das pessoas, mas eles - umas e outros - são também compostos de memórias. Memórias que perduram depois do físico. Há qualquer coisa para lá da matéria.
Nada disto, claro, diminui a tristeza que se sente. Na realidade, apenas nos ajuda a passar pelas despedidas com alguma esperança de que as tais memórias possam encontrar paralelo em novas vivências. Agarramo-nos ao passado porque acreditamos que ele se pode repetir. 
Acontece que a história não se repete. Vive-se uma vez. Talvez sejamos capazes de experimentar algo parecido com o nosso passado, mas nunca a sua reedição. Bem vistas as coisas, ainda bem que é assim. Faltar-nos-ia a diversidade.
Lembro-me de um programa de televisão que fechava cada edição com a mesma frase: "A vida é feita de encontros e desencontros". Felizmente temo-nos a nós para contar como foi.

9 de maio de 2009

Africandade

Uma das vantagens do continente africano (de Angola, em particular) é que por mais que esteja a chover dificilmente não se consegue estar na praia.

6 de maio de 2009

Oh Lena,

Nesta morada, que é minha, mas um bocadinho tua (e de todos os outros leitores, seus invejosos) tratamos as pessoas pelo nome próprio. De resto, foi pelo próprio nome que cheguei a ti, não há tanto tempo quanto isso, mas há distância do continente que nos separa, agora, de casa.
Vais voltar para lá, não é? No enredo que também escreveste, a tua história acaba agora. Sais de cena tão baça como nós, que ficamos. Talvez seja da poeira, embora eu ache que a culpa é do sol, demasiado tórrido. De certa forma, todos perdemos o brilho com que chegámos. Devíamos ter previsto isto. Se calhar, deixámos que a sofreguidão pelo não fracasso nos toldasse a razão.
Lena, contigo, na bagagem imaterial que transportas, vão muito mais de 20 quilos. Fosse isto matéria e seria objecto de muito volume. Não sendo, cabe na descrição que se faz quando se detalha o infinito. Não é exagero. Estaremos juntos, mesmo que apenas na memória perene, daqui até lá ao fundo. Não precisei de me apaixonar por ti, de dormir contigo, de te desejar (não apaixonei, não dormi e não desejei) para te querer o bem.
A casa que partilhámos - com as suas memórias, segredos e 'irrevelações' - ergue-se ainda em homenagem às desventuras do "nós" quase desfeito.
Sabes, isto valeu a pena. Valeu mesmo. E valeu ainda mais porque valeu contigo. Bem vistas as coisas, não nos ficamos por aqui. As pessoas que somos - que somos agora - testemunharão, até nos tornarmos novamente diferentes, que estivemos aqui. Dissemos presente e agora não te digo adeus. Só até já. Lá.

5 de maio de 2009

Pequenos partidos

Estou aqui a ver o debate que a Sic Notícias organizou com os pequenos partidos concorrentes às eleições europeias. Nunca chegarão a Bruxelas, não só por uma questão matemática de votos, mas principalmente porque as suas posições - a par da sua imagem - são demasiado frágeis. Poucos fazem ideia, sequer, do que é a União Europeia e os que têm essa noção, não vão além de generalizações eternas.
Não é só o Frederico que aproveita o palco para fazer campanha pró-referendo monárquico. No fundo, estas campanhas e estes minutos de fama televisiva são o palanque perfeito - e raro - para fazer alguma doutrina. 
Acredito que quem milita um pequeno partido - e se sujeita ao quase ridículo de se candidatar sem esperança de eleição - não alimenta outra vontade que não a de viver na permanente tertúlia de quem leva a peito a ideia que a polis é mesmo o centro da coisa pública.
À primeira pergunta da jornalista - também às seguintes, em bom rigor - os candidatos vão caindo um por um (Frederico, desculpa voltar a ti, mas "fazer um site com coisas na Internet" não é uma grande proposta). Frases feitas, discurso ensaiado, citações de autoria duvidosa, episódios fora de contexto. Seria um perigo deixar gente desta dirigir os destinos da freguesia da Ajuda, quanto mais da Europa dos 27. Ainda assim, é a festa da democracia, senhores. É a festa da democracia.

1 mensagem não lida

09:22. Toca o telefone. Uma mensagem. "Clipovoa-Amarante lembra que Nuno Ferreira tem consulta no dia 06/Mai às 09:20. Caso não possa comparecer por favor ligue 255410200/1/2".

Liguei.


- Clipovoa bom dia.

- Muito bom dia. O meu nome é Nuno Ferreira e recebi uma mensagem escrita a alertar para uma consulta no dia 6 de Maio, na vossa clínica. Pode-me dizer qual é a especialidade?

- Dermatologia.

- Pois, não me leve a mal, mas não vou conseguir comparecer à consulta. É que estou em Luanda e dificilmente marcaria uma consulta para Amarante. Só pode ser engano.


A conversa prosseguiu, com uma explicação atabalhoada para a mais que certa troca de nomes. Contudo, foi preciso desligar o telefone para perceber o real motivo do sucedido. Julgo possivel uma das seguintes justificações: a) Uma ex-namorada a gozar com a minha cara (o que é um disparate, porque para surtir efeito devia mandar-me ao urologista); b) Deus a dizer-me que esta cena de coçar o rabo não é fixe.

4 de maio de 2009

Confirma-se. A minha mãe chorou quando leu o post.

"Do teu..."

Não sei o que é que me faz gostar assim tanto das lojas de velharias. De início concentrei-me nos cheiros, pesados, húmidos, depois na habitual pouca luz. Não sei o que é que me faz gostar assim de lojas de velharias, mas tenho uma pequena ideia. Acho que é a história que nelas se escreve.

Para ser sincero, nem sequer estou a falar das relíquias que só um olho treinado encontraria num espaço lúgubre como é uma loja de velharias. Aquilo de que eu gosto mesmo é daqueles objectos que nunca ninguém irá comprar. Afinal, são eles que nos levam até à vida de alguém. Imaginar que aquele “aquilo” teve um dono – talvez até mais do que um – é ‘cousa’ à qual não se fica, digo eu, indiferente.

Gosto especialmente de pentes. A par das escovas de dentes, os pentes são dos objectos mais pessoais que temos. Dificilmente partilhamos, de bom grado, a nossa caspa com alguém. Queria ser capaz de perceber neles coisas sobre quem os usou. E vai daí interrogo-me: que idade teria? Cabelo comprido? Encaracolado ou liso? Não percebo nada através deles. Não percebo nada e tenho pena, mais não seja porque este texto ficaria muito mais bonito se eu tivesse uma história para contar.

Foi numa dessas frustrações que encontrei, certo dia, um molhe de cartas. Dentro de uma caixa, em envelopes amarelecidos, misturados com outros envelopes amarelecidos, estava a correspondência amorosa trocada durante anos entre um soldado e a sua amada.

Li a primeira, li a segunda e à terceira decidi que compraria, sem cuidar do preço, todas quantas encontrasse. Já em casa, organizei a novela amorosa – em 22 capítulos – numerei-a e pus-me a par. Que amor, aquele. Cheguei ao fim com o propósito de encontrar os autores das cartas. Uma bela demanda em perspectiva, ou não fosse o enredo datado dos anos 50.

Fui à morada da Maria Isabel – assim se chamava - numa rua de Lisboa, num prédio com o mesmo cheiro das lojas de velharias. Bati à porta certa, mas ninguém a abriu. Perguntei a alguns vizinhos mais antigos e nenhum me soube responder. Acabou por ser numa troca de favores que descobri que o “Do teu…” estava muito doente num lar em Santarém. Sobre ela, nada.

Gostava de lhe ter devolvido as cartas, mas o tempo passou e a vontade também. Não ficou, sequer, a intenção. Apenas a vontade de um dia escrever sobre isto.

Budapeste e tudo à volta

Li algures que uma blogger que não conheço vai/está/esteve em Budapeste. Conheci a capital da Hungria há alguns anos, numa das minhas incursões europeias. Há quem a chame de "a Paris do Leste". Longe disso, Budapeste é uma cidade com personalidade própria (é como comparar Bruges a Veneza).

Não é empolgante. É diferente. À data, muitos edifícios pediam obras. Algumas ruas precisavam de limpeza e faltava a afirmação turística, como aconteceu à vizinha Praga. Porque é que Budapeste resulta tão bem? Precisamente porque é "só mais ou menos para turistas" e eu gosto de cidades que pensam nos locais, muito mais do que nos visitantes. Gosto sempre de me perder nas ruelas que não aparecem nos guias da American Express.

Porque o dinheiro era curto, fiquei hospedado num velho hotel (à distância de uma hora de qualquer outro ponto de interesse), no topo de uma verdejante colina. Agro Hotel, assim se chamava. Os quartos que denunciavam os anos passados - cravados numa arquitectura de inspiração claramente soviética - serviam na perfeição aquele que poderia ser o propósito maior daquele edifício, naquele sítio: fazer o visitante concentrar-se na esplendorosa vista para a Hungria para lá da capital.

Aliás, a Hungria que interessa está muito mais fora de Budapeste, do que no seu interior. Uma breve viagem de comboio permite desvendar um país pobre, mas verdejante. À espera de desenvolvimento, mas com uma beleza singular.

Não sei porquê, lembrei-me disto agora.

3 de maio de 2009

Crazy mom

Passei a semana a trabalhar num programa dedicado ao dia da mãe e chegado o dia foi preciso entrar num blog vizinho para me lembrar que, afinal, é hoje.
A minha mãe fica muito chocada quando eu arroto à mesa. Não gosta que eu fale demasiado alto ("os vizinhos ainda pensam que isto é uma casa de doidos") ou que finja discursos à janela. Já lhe expliquei que falo alto para ter a certeza de ser ouvido, discurso à janela porque há-de haver alguém a precisar da minha luz e não faço ideia porque é que arroto à mesa.
Ela é chata, porra. Como todas, presumo. Ainda agora, e olhem que estamos separados por muitos quilómetros - o que é óptimo para fazer coisas que ela não aprovaria, sem precisar de me preocupar com a sua aprovação - continua, torna não torna, a recordar-me que a luz é para apagar, os óculos para tirar e a televisão para desligar antes de ir dormir. Oh mãezinha,  tu achas mesmo que eu faço isso tudo só porque tu me dizes para fazer? 
É uma pena não a ter mais perto. Não só porque era ela quem apagava a luz, tirava os óculos e desligava a televisão, mas também porque sou egoísta ao ponto de querer ter o seu abraço logo ali e usa-lo, ao meu próprio gosto, quando muito bem me apetecer.
As mães - a minha, pelo menos, que é o caso que melhor conheço - acham sempre que nós crescemos bem devagarinho (a minha deve-me presumir ainda com 12 anos). Os filhos - eu, pelo menos, que é o caso que conheço melhor - fazem-se de difíceis, até porque acham que qualquer excesso afectivo pode ser confundido com 'mariquice', mas adoram saber que, no matter what, elas vão estar sempre ali, à espreita, prontas para nos recordar que carregaram connosco durante 9 meses. Mesmo que já se tenham passado 26 anos.

2 de maio de 2009

As baratas

Acho que já cheguei a comentar convosco que tenho baratas em casa. Bem, se calhar, por não ser uma boa nova, talvez não. Mas é verdade: Tenho baratas em casa. Em tempos, nos dias bons, passados, limitavam-se ao armário da pia. Agora, aos poucos, vão tomando território, espalhando-se pela sala e wc. Sei que em breve vou passar a dormir acompanhado e confesso que não me desagrada de todo a ideia de ter uma castanhinha a afagar-me as partes.

Estou a tentar estabelecer regras de convivência, afinal, sou dono de um bom coração, tantas vezes desprezado. Não mato mais de duas por dia e evito faze-lo se não sairem da cozinha. Não sei até quando o acordo vai ser respeitado. Quero acreditar que as próprias são senhoras de bom tino e que isso bastará. Estou em plena guerra fria.

Não me tomem por parvo: já pedi uma desinfestação. Responderam-me que está agendada. Há um mês.

1 de maio de 2009

Acabado de sair do coma


Parece que afinal foram só 12 Cucas por três pessoas. Já agora, desminto categoricamente que tenha bebido as tais 6 de que sou acusado por uma leitora-colega-de-apartamento na caixa de comentários do post respectivo. Juro, pela minha saudinha, esse bem tão precioso, objecto do meu maior desrespeito, que não me lembro de ter passado da terceira (mãe, a cirrose está tão fixe como eu, embora quase sempre mais sóbria).

Há muita magia numa lata de Cuca. Desde logo o seu aspecto exterior, com aquele amarelo torrado, um verdadeiro convite ao deleite. Depois, toda a estética escondida no seu conteúdo, revelado ao mundo no momento da abertura, como se de uma mulher acabada de estrear se tratasse.

Geralmente, excepto nos dias maus, limpo sempre à volta. Afinal, com tanta doença que há por aí, não é sensato meter no desconhecido sem, pelo menos, dar-lhe um asseio rápido.

O "ritmo Cuca" (ouvissem a 96.5) é tão bom que repito sempre a gracinha. Uma, duas, três vezes. E não é que não me lembro de algum dia ter passado da terceira?