28 de julho de 2009

Crónicas de um homem apaixonado (parte seguinte à anterior)

O rapaz – o tal que acima se afigura com a soberba de “homem” – já não lhe botava os olhos há para lá de quinze dias. Um insignificante particular no geral da vida, mas uma eternidade para quem não gosta muito de “amores à distância”, mesmo que só por umas férias, curtas, ainda por cima. Adiante.

As saudades seriam tantas, presumo eu (como se não tivesse nada a ver com a história), que bastou avista-la, carregada com duas crianças, nem todas suas, e outras tantas malas, em igual circunstância, para o seu coração parar, ainda que não literalmente, com a eterna graça de Deus.

Mas tu tens frio, mulher? Perguntou-lhe o rapaz, também não literalmente, embora em pensamento, enquanto recuperava a respiração, entretanto suspensa. Arrebatadora, como sempre, aliás. Foi assim que ela voltou de viagem.

Ficas desde já a saber que há-de passar um bom tempo até tornares a estar, no limite, a mais do que algumas centenas de metros da minha pessoa. Não por mim, claro, mas pelo tal rapaz, acima afigurado como “homem”, que já não estava a suportar a ideia de mais uma noite sem ti.

26 de julho de 2009

Novo terminal de chegadas

O aeroporto de Luanda tem um novo terminal de chegadas. A notícia não interessará à generalidade dos leitores, presumo, mas diz muito a quem, por uma vez, pelo menos, já desembarcou em Luanda. A partir de agora, a velha sala, sem ar condicionado, demasiado apertada, com poucos balcões de imigração, faz apenas e só parte da história.
Daqui por diante, quem chega a Angola, deixa as más impressões da capital para depois do aeroporto. Assim, as autoridades poupam os forasteiros ao choque de uma má recepção.
A nova sala é espaçosa, refrigerada, com um aspecto moderno e um atendimento bem mais rápido e, arrisco-me a dizer, mais simpático.
Esta é a minha forma de anunciar que... estou de volta a Luanda.

22 de julho de 2009

No dia 20 este blog fez três anos e eu nem sequer dei por isso. Três anos. Quem me dera que as minhas relações durassem tanto.

Mijando na luz

Estive hoje no Estádio da Luz. Os mais informados do mundo futebolístico saberão que hoje foi dia de jogo de apresentação do Benfica aos sócios. Os mais conhecedores da minha pessoa saberão que eu não sou um grande adepto de futebol, embora não perca uma oportunidade de ir ao estádio. Mais do que o jogo em si, do que eu gosto mesmo é do circo que se monta. Mas adiante.
O dia que tinha tudo para ser só mais um de bola acabou por se tornar uma revelação. Pela primeira vez na minha vida - se calhar sou eu que não saio muito de casa - estive numa fila para o urinol. Além de ter achado a cena particularmente feminina - o que me provocou um certo arrepio no saco - gostei de constatar a cara de claro incómodo dos meus parceiros de espera. É pitoresco ver um grupo de inflamados adeptos à rasca para mijar, enquanto esperam que os semelhantes atinjam o alívio.
O engarrafamento e a quantidade - significativa - de mictórios levaram os machões a fazer aquilo que passam a vida a evitar: olhar para os outros homens a verter águas, tentando perceber qual deles é que vai acabar primeiro.
Três vivas para as bexigas cheias! Vamos lá: Um, dois... oi... três!

19 de julho de 2009

Os homossexuais e as dádivas de sangue

Há agora uma grande discussão sobre a proibição de homossexuais (homens) darem sangue. A questão não é nova. Há muitos anos que sou dador e sempre que fiz uma dádiva, ao passar pelo rastreio, tive como pergunta a inevitável: "já teve alguma relação homossexual?"
Ora, confesso que o critério sempre me causou algum incómodo e só não percebo porque é passaram tantos anos até a polémica rebentar.
Fazer depender a aceitação da dádiva de alguém de uma pergunta deste género é, mais do que uma violenta forma de discriminação, um grande disparate. Em primeiro lugar, não é sensato partir do pressuposto de que todos os homossexuais levam uma vida sexual desprotegida. Depois, é como se não existissem heterossexuais com o juízo fora do sítio (enquanto põem outras coisas em sítios que mal conhecem). Finalmente, a maioria do homens que têm comportamentos homossexuais não o assumem no seu círculo de amigos mais fechado, quanto mais perante uma enfermeira que conheceram há 20 segundos.
O sangue doado é sempre devidamente analisado e não é um questionário de escola que vai impedir o dador de doar o seu sangue, se for essa a sua verdadeira intenção. Toda a gente mente e no que toca à nossa vida privada mentimos com quantos dentes temos, sem grandes problemas de consciência. Assim, porque raio é que não se aceita a oferta de quem quer doar e, depois das análises, se o sangue não servir, logo se informa o dador do porquê? A prática nem sequer é inovadora. Eu próprio, que nunca parti o farolim, já tive sangue rejeitado por culpa de um problema de fígado.
Bem vistas as coisas, se o Estado acha que os gays deste país são todos uns pervertidos, eis uma boa maneira de lhes descobrir as doenças que, pelos vistos, andam a espalhar pelos rabos da nobre Nação.

16 de julho de 2009

Os dois anos do museu Berardo


Aquela cena do museu Berardo é uma grande invenção. Primeiro, porque não se paga, depois, porque explora uma série de conceitos artísticos muito interessantes e finalmente porque é a porta de entrada de muita gente para o lado mais cultural da vida. No caso da Cristina (ah, ah), a porta precisa de ser um bocadinho maior, mas isso será tema para outra conversa.
A propósito do segundo aniversário, o comendador decidiu oferecer um programa de 24 horas ininterruptas de actividades que fundem música e artes plásticas e lá estava o povo todo, tão glorioso quanto orgulhoso, porque afinal este país até tem coisas giras. Bem, estava o povo e estava eu também.
A verdade é que depois de toda a polémica, dos adiamentos, das discussões e das disputas do espaço, o museu de arte moderna é hoje um espaço singular da cidade e do país e por mais pop que seja o seu conceito, não me choca nada que haja quem queira fazer da cultura uma coisa de massas. Só está contra quem não tem mais nada com que se preocupar.

15 de julho de 2009

E para os senhores da Segurança Social não vai nada, nada, nada? Vai tudo, tudo, tudo. E tanto foi que já não lhes devo nada.

Relato das primeiras horas

Muitos dos sítios por onde costumo passar dariam, por princípio, um bom texto. Sempre que venho de viagem cumpro uma espécie de rotina. Bem, pelo menos foi assim que se passou nas três vezes que cheguei de Luanda. Saio do aeroporto, chego a casa, tomo o pequeno almoço, lavo as partes visíveis e invisíveis., mudo de roupa, pego na chave do carro e, ainda o relógio não marca 7 e meia, já estou na estrada.
O primeiro dia é sempre vivido com muita velocidade, como se não quisesse deixar nada por fazer. Vou colando umas actividades com as outras e quase esqueço que fiz sete horas de viagem, dormidas num banco de avião demasiado apertado.
A primeira escala do meu périplo terrestre é a casa das minhas tias. Tenho-as como uma referência, são como "segundas mães" e gosto de lhes bater à porta bem cedo. A cara delas, meio ensonadas, meio surpreendias é priceless.
Sigo depois para o banco. Como o próprio fica ao lado da rádio onde trabalhei muitos anos dou o inevitável toque à colega-amiga que resta na redacção e antes que o banco abra - ainda faltam uns minutos para as oito e meia - já estou no café do Sr. João a beber a primeira bica em muitos meses (existe uma grande diferença entre um café mal tirado e uma bica a sério).
Como tendo ao esquecimento, a Neusa do Millennium acaba por ser, depois dos pais, das tias e da Sandra, uma das primeiras caras que vejo. Por dez minutos dou um ar de emigrante e deposito os dólares que trago de viagem.
A partir daí é um bocado ao improviso, consoante as necessidades mais imediatas. Em Janeiro fui à missa, em Abril ao Corte Inglês e ontem fui à Springfield. Precisava, respectivamente, de paz de espírito, um portátil e roupa para vestir.

8 de julho de 2009

Excentricidades

Perdi a cabeça. Perdi a cabeça e jantei no restaurante mais caro da cidade. Não me posso queixar de nada, nem do preço. Afinal, fui de livre vontade e sabia exactamente o que me esperava. Aliás, nem sequer estou a pensar em reclamar. A comida estava óptima, o vinho também e a refeição valeu bem os muitos dólares que ficarem em cima da mesa e que, feitas as contas, não foram muitos mais do que aqueles que já dei por muito menos.
Tudo perfeito, portanto. Ou nem tanto. Habituado a comer por 500 kwanzas, 800 nos dias de loucura, fico sempre sem saber o que fazer ao sujeito que faz de sombra dos clientes. Felizmente lembrei-me de tomar o Pancreoflat.

4 de julho de 2009

Afinal estava errado

Tomei banho de chuveiro pela primeira vez em muitas semanas. Foi bom descobrir que não estou mais gordo, tinha apenas muito sarro.

2 de julho de 2009

Os chifres do outro


O Manuel Pinho passou a Legislatura a fazer disparates. Disse as maiores asneiras e cometeu gaffes gigantescas. Hoje foi o golpe de mestre final: Fez uns cornos ao Bernardino Soares (ou ao Louçã). Depois, demitiu-se, antes de ser demitido, as bancadas mostraram-se chocadas, o Sócrates pediu desculpas e o Gama lamentou. Tudo certo.
No final, os jornalistas pressionaram deputados e ministros. O próprio corno falou e repetiu o que já tinha dito. Correcto.
No meio disto tudo, apenas uma pergunta por fazer: Afinal, Bernardino (ou Louça), o que é que o Pinho sabe que nós não sabemos?