tag:blogger.com,1999:blog-310582462024-02-07T04:36:17.297+00:00Marcha dos PinguinsNuno Andrade Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/01700914886164473010noreply@blogger.comBlogger881125tag:blogger.com,1999:blog-31058246.post-47717428477386207622014-01-17T21:16:00.002+00:002014-01-17T21:16:30.259+00:00Nova casaEstamos aqui: http://demito-me.blogspot.com/Nuno Andrade Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/01700914886164473010noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31058246.post-72979901125818511742013-10-19T19:18:00.000+01:002013-10-19T19:18:48.143+01:00Mindelo, 19 de Outubro de 2013<div style="text-align: justify;">
Sobre o protesto de hoje: claro que há ali a escola do PCP, isso todos sabemos, mas a capacidade de mobilização (e organização) da CGTP continua exemplar. Recordo-me da experiência que tive há alguns anos, quando acompanhei a preparação de uma greve geral e segui o dia da mesma nos bastidores da máquina bem oleada da central. </div>
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Teria prefiro a desobediência civil, ainda assim. Já se percebeu que isto não vai lá com marchas lentas. A velocidade tem que ser outra. E o músculo também. </div>
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Desde a minha última vez aconteceu muita coisa, é verdade, mas no essencial está tudo na mesma: o país continua a afundar-se por culpa do governo que, contudo, acha que não, o Presidente não acordou do coma, e o Costa ainda não é o secretário-geral do PS.</div>
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Pelo contrário, no P3 há vida. Os textos (novos) estão todos <a href="http://p3.publico.pt/category/free-tags/nuno-andrade-ferreira">aqui</a>.</div>
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Calor em Outubro: perdi a conta aos banhos que já tomei hoje. </div>
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A música do vizinho continua "xu, xu, xu".</div>
Nuno Andrade Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/01700914886164473010noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-31058246.post-34839981934503554612013-06-21T00:29:00.003+01:002013-06-21T00:29:48.924+01:00Mindelo, 20 de Junho de 2013<div style="text-align: justify;">
Amanhã, a caminho de Santo Antão, para um fim-de-semana de trabalho. </div>
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"How I met you mother"é, no género, uma das melhores séries de todos os tempos. Imperdivel, mesmo que em repetição. </div>
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Quanto a mulher, prefiro-as sarcásticas, donas de si próprias, com imensas certezas, mas cheias de perguntas. Gosto de mulheres que acreditam, que confiam - sem que nunca deixem de desconfiar. Mulheres que nos ponham no lugar. Precisamos de mulheres que nos ponham no lugar.</div>
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Nuno Andrade Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/01700914886164473010noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-31058246.post-68573649249689985752013-06-10T21:06:00.002+01:002013-06-10T21:29:34.491+01:00Mindelo, 10 de Junho de 2013<div style="text-align: justify;">
Dia estranho, este. E-mails que ficam sem resposta, telefonemas que não são atendidos, máquinas que avariam (e voltam a funcionar logo a seguir). </div>
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Às vezes fico com a sensação de viver numa Twilight Zone. Ao princípio da tarde, o Primeiro-Ministro de Cabo Verde surpreendeu toda a gente quando revelou, em primeira mão, a suposta morte de Nelson Mandela. No final de um discurso, evocou o homem e perpetuou a memória. </div>
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Logo depois, seguiu-lhe as pisadas um jornal digital, citando-o e tomando como certa a falsa notícia. </div>
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Os dois exemplos são esclarecedores sobre o amadorismo que persiste tanto no jornalismo como na assessoria política. Se o erro do jornal é grave, a falha de protocolo do Chefe de Governo é gravíssima. Fosse comigo e hoje rolavam cabeças. </div>
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Está na rede a minha mais recente crónica sobre emigração. Como sempre no<a href="http://p3.publico.pt/actualidade/sociedade/8213/dos-amigos"> P3</a>. </div>
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Não estranhem a ausência de comentários em relação ao Dia de Portugal. Guardemos antes um minuto de silêncio. </div>
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Nuno Andrade Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/01700914886164473010noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-31058246.post-75298859393460342202013-06-06T10:26:00.003+01:002013-06-06T23:44:51.194+01:00Mindelo, 6 de Junho de 2013<div style="text-align: justify;">
Tenho feito um terrível exercício de paciência. Espero pela resolução de um problema que, não sendo minha responsabilidade, afecta directamente a empresa para a qual trabalho. Não sei se estou chateado, indignado, ou uma mistura das duas coisas. Mantenho-me calado, por enquanto. </div>
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Preciso de férias. Preciso de férias, olho para o calendário e vou riscando os meses. Junho não dá, Julho nem pensar, Agosto idem, Setembro talvez. Preciso de férias hoje.</div>
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O meu pai fez anos ontem. O meu companheiro e grande amigo, interlocutor das melhores conversas que já tive e - a par da minha mãe - o mais sábio conselheiro, completou 66 anos. À falta de um abraço, dei-lhe uma carga de trabalhos no Facebook, quando pedi que lhe dessem os parabéns no meu mural. </div>
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Nuno Andrade Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/01700914886164473010noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-31058246.post-8450719888458603622013-05-22T13:41:00.001+01:002013-05-22T14:46:44.911+01:00Mindelo, 22 de Maio de 2013<div style="text-align: justify;">
Martim Neves é a nova coqueluche das redes sociais. O jovem, convidado do Prós e Contras desta segunda-feira, protagoniza um video em que 'arruma' com uma professora universitária quando esta o questiona sobre os salários dos operários da fábrica onde são feitas as roupas que desenha. Tem razão em algumas coisas, estará certo quando diz que é preferível os trabalhadores ganharem 500 euros a estarem desempregados, mas não posso deixar de registar a aparente soberba com que o faz. </div>
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Um empreendedor moderno é aquele que deseja o melhor para si e para a equipa, sem fazer a exaltação da miséria (leitor do P3 que me insultou, este sim), como um mal menor, porque a alternativa era uma miséria ainda maior.</div>
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Sei pouco sobre Martim Neves. Tem 16 anos, teve uma ideia que pôs em prática. É um bom princípio e, por si, um bom exemplo. Sei também que Martim Pereira Neves é sobrinho do Primeiro-Ministro de Cabo Verde e que a família a que pertence está social e economicamente numa situação privilegiada. E boas condições de partida são sempre uma vantagem.<br />
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Nada disto lhe tira o mérito, mas ajudará a perceber melhor o contexto. </div>
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Fazemos heróis demasiado depressa.<br />
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<i>Actualização: a propósito do texto acima recebi <a href="https://www.facebook.com/AnonymousLegionPt/posts/474172329328253">este link</a> (clicar). Não pude apurar sobre a veracidade do que está escrito, pelo que cada um tirará as suas conclusões. </i></div>
Nuno Andrade Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/01700914886164473010noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-31058246.post-26593437677304624612013-05-19T12:52:00.002+01:002013-05-19T12:52:56.586+01:00Mindelo, 19 de Maio de 2013<div style="text-align: justify;">
A asquerosa discussão que se seguiu à aprovação, no Parlamento português, da lei sobre a co-adopção mostra bem o estado de desenvolvimento em que ainda nos encontramos. Li gente a defender a institucionalização de crianças, com o argumento de que "pelo menos nas instituições não correm o risco de chegarem à adolescência e serem seduzidos pelos pais". Concluo que, em Maio de 2013, ainda há portugueses que acham impossível uma lésbica ou um gay terem amor pai-filho, mãe-filha, sem que isso implique desejo sexual.</div>
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Há gente que precisa de institucionalização, de facto. Em hospitais psiquiátricos.</div>
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Foi criado um portal para denunciar casos de "empregadores sem vergonha". Alguns minutos no <a href="http://ganhemvergonha.pt/">site</a> são suficientes para perceber que os casos de abusos laborais se multiplicam e com contornos cada vez mais grotescos. A crise revela-nos como somos, para o bem e para o mal, e é desculpa para muita coisa. Pena que continuemos restritos aos protestos de sofá. <br />
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Vou daqui a pouco para o Calhau, visitar uma feira de mulheres, com exposição e venda de produtos tradicionais e artesanato. Boa comida e ainda melhor bebida, assim se espera.<br />
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O Porto renova hoje o título. <br />
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Nuno Andrade Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/01700914886164473010noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-31058246.post-57651884694985018712013-05-16T14:06:00.002+01:002013-05-16T14:15:12.475+01:00Mindelo, 16 de Maio de 2013<div style="text-align: justify;">
A época que está prestes a terminar tem tudo para se tornar um fiasco. O Benfica foi - e não pode ser - a equipa do quase. Quase campeão, quase vencedor da Liga Europa. Dos segundos não reza a história. O Benfica de Jesus tem muitos méritos, mas tem o grande desmérito de ser uma equipa que falha em cima da linha de meta. Não é de agora. Aconteceu várias vezes ao longo dos últimos anos.</div>
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A França entrou em recessão. O crescimento económico na Alemanha está a abrandar e os germânicos podem seguir o mesmo caminho dos vizinhos gauleses. Péssimas notícias para Merkel, prestes a ir a votos, mas nada que surpreenda - a economia alemã depende, em grande escala, das exportações e os seus clientes preferenciais estão em crise prolongada.</div>
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Gosto muito do Miguel Esteves Cardoso e das coisas acertadas que escreve (e da forma como o faz). Preferia-o, contudo, no pré-romantismo. O tamanho do amor pela Maria João chega a incomodar. Inveja minha, talvez.</div>
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Nuno Andrade Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/01700914886164473010noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31058246.post-26882888748917310652013-05-15T10:47:00.000+01:002013-05-15T10:51:44.708+01:00Mindelo, 15 de Maio de 2013<div style="text-align: justify;">
Sou um tipo que fala sozinho. Frequentemente. Resolvo muitos assuntos assim. De manhã, especialmente, protagonizo monólogos enormes. E hoje, assim que acordei, percebi com clarividência que tenho uma natural tendência para os loucos, que me agradam, mas que já me falta paciência para os mentalmente desarrumados. Gente que não sabe o que quer, que hoje é isto e amanhã é aquilo. Não há nada que substitua as pessoas que estão bem consigo próprias.</div>
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O iTunes acordou-me hoje com Sam & Dave, <i>Hold On, I'm comin'</i>. Gostava de perceber alguma coisa de música para rematar este parágrafo com uma frase sábia e definitiva.</div>
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Há coisas que não mudam. Por exemplo, inventar 'cenas' para fazer quando alguma coisa chata precisa de ser feita. Lembro-me dos tempos de faculdade, das vésperas do exames e das vezes que arrumei o quarto nesses dias. </div>
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Chega hoje às bancas francesas um novo jornal. Em tempos de crise e severa redução de vendas,<i> L'Opinion </i>é uma ousadia. Dirigido por Nicolas Beytout, que já andou pelo <i>Figaro</i>, o título quer fazer a ponte entre o online e o impresso, para que uma e outra edições se complementem. Já ouvimos isto antes - dezenas de vezes - e até agora ninguém cumpriu a promessa. </div>
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Continuo a achar que há lugar para jornais em papel (e até já achei o contrário). Têm é que ser a antítese daquilo que têm sido até agora. Espero (ainda que desconfiado) que seja desta. O mercado precisa de sinais. E as crises precisam de bom jornalismo. Mais <a href="http://www.lesoir.be/242533/article/culture/medias-tele/2013-05-14/l-opinion-reinvente-presse-francaise">aqui.</a> </div>
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Nuno Andrade Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/01700914886164473010noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-31058246.post-46900859359918694212013-05-13T20:21:00.001+01:002013-05-13T20:23:27.022+01:00Mindelo, 13 de Maio de 2013<div style="text-align: justify;">
Quando se vive no estrangeiro, ter amigos é tudo. São a nossa base de sustentação, a nossa família. Acho que encontrei o tema da próxima crónica para o Público. </div>
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Por falar em família e amigos, este é um ano de visitas simpáticas. Em Março foi a minha prima Inês, em Junho será outra Inês, neste caso uma grande amiga. Em Julho, a minha tia Lena, acompanhada da minha afilhada Dulce. Em Agosto, a Patrícia e a Paula (que chegam a meio do festival, pelo que já foram avisadas sobre a necessidade de trazerem consigo pastilhas apropriadas para estado de ressaca). Se tudo correr bem, o ano terminará com a estadia prolongada dos meus pais. </div>
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Profissionalmente, tenho-me saído bem. Acho que consegui, até agora, tomar as decisões certas, nos momentos exactos. </div>
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Pessoalmente, a história é outra. O caminho que devo percorrer é ainda muito longo. Sujeito-me, repetidamente, a situações às quais me deveria poupar e que acabam por ter reflexos na minha vida e na vida dos implicados. Presumo que seja uma aprendizagem e por isso espero aprender rapidamente. </div>
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Candidatei-me ao mestrado. Não sei bem onde é que me estou a meter.<br />
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Demasiado trabalho em mãos. Além do costume, uma entrevista para a The Africa Report e uma reportagem para o i. Uma e outra já atrasadas. <br />
<br />Nuno Andrade Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/01700914886164473010noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31058246.post-35908955785404461052013-05-11T19:30:00.001+01:002013-05-12T12:52:40.878+01:00Mindelo, 11 de Maio de 2013<div style="text-align: justify;">
Salvo raras excepções, há muito que os fins-de-semana deixaram de o ser verdadeiramente. Sábado é dia de trabalho, ainda que a velocidade de cruzeiro, calções e chinelos. Domingo em <i>stand by</i>, mas com urgentes e pendentes quase sempre.<br />
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Polémico, o meu <a href="http://p3.publico.pt/actualidade/sociedade/7864/basofaria">último artigo no P3</a>. Sempre que se fala em viver com menos, os portugueses perdem as estribeiras. Não todos, é certo, mas uma grande maioria, e habitualmente com insultos. Estranha forma de argumentar.</div>
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<br /></div>
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De facto, acho mesmo que a crise nos ensinará sobre a necessidade de abdicar de algumas coisas secundárias. Contra mim falo. Não sou um exemplo de desmaterialização. Certo é que se trata de um processo ao qual ninguém escapa.<br />
<br /></div>
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A forma com sentimos a crise tem tudo a ver com gestão de expectativas. O que esperávamos ser, aquilo que esperávamos ter e atingir. Aos nossos filhos, aqueles que nascem neste mundo em mudança, será mais fácil explicar isto.</div>
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<br /></div>
Nuno Andrade Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/01700914886164473010noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31058246.post-12653539451906849432013-05-10T10:15:00.000+01:002013-05-10T10:15:23.364+01:00Mindelo, 10 de Maio de 2013<div style="text-align: justify;">
Queixam-se os meus amigos do pouco uso que lhe dou (ao blogue, bem entendido). E eu acho que estão cheios de razão. </div>
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Tentarei recupera-lo, mais uma vez, entregando-o agora ao estilo de diário (que sei à partida ser apenas uma força de expressão). Não há periodicidade definida, apenas a possibilidade de textos abreviados, ao ritmo da vida mundana. No fundo, o que procuro é uma justificação editorial para poder vir aqui e criar um <i>post</i> só com três palavras: "puta que pariu". </div>
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Eu e o meu blogue - a caminho dos sete anos - temos uma daquelas relações enfadonhas, que já deram tudo o que tinham para dar, mas que mesmo assim persistem. Neste caso a estupidez é ainda maior, uma vez que nem filhos temos. </div>
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<br /></div>
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Não esperem nada de muito empolgante. Vivo numa ilha e demoro 15 minutos a chegar ao ponto mais longe da mesma. Se começar a falar demasiado em cabras, desconfiem. </div>
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<br /></div>
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Textos maiores podem acontecer, mas em geral será uma experiência eminentemente bucólica. </div>
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<br /></div>
Nuno Andrade Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/01700914886164473010noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-31058246.post-35296856577833081552013-03-25T21:45:00.000+00:002013-03-25T21:45:46.398+00:00Escuro<div style="text-align: justify;">
Está sentado numa cadeira normal, na sala escura. As duas janelas, uma atrás e outra à esquerda, estão abertas e só as cortinas, leves, separam a rua da casa.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Desligou a televisão, o rádio, o computador e o telemóvel. Há por isso um silêncio apenas quebrado, a espaços, pelo ruído de um carro a passar na estrada calcetada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Antes de se sentar, tirou a roupa. Descalço, sente o frio do chão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Estica o braço direito. Toca no corpo nu à sua frente. Acompanha a curva do ombro e, com delicadeza, desce pelo braço. Detém-se a meio caminho. Passa do braço para o seio. Com um dedo apenas, a ponta do dedo, desenha círculos à volta do mamilo, que enrijece. Repete o caminho com a outra mão, no braço esquerdo, primeiro, no peito, depois. Aperta-lhe agora as mamas. O corpo estremece e o seu também. Contraria a vontade que se manifesta e que lhe pede que a tenha logo ali.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ao mesmo tempo, as duas mãos seguem até ao ventre que lhe parece liso como nenhum outro. A pele - imagina-a como de seda fina - arrepia-se e a barriga contrai-se. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
As pernas estão juntas mas sem aviso separam-se. A mão esquerda continua na barriga, antes de subir novamente até ao peito. A mão direita, dois dedos apenas, percorre o interior da coxa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Do sítio até onde chegou já consegue sentir o calor e, quase que jura, o sabor. Espera a aprovação que surge com um ligeiro deslizar para a frente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Toca-lhe por fim no sexo húmido, alvo. Primeiro um gemido, depois outro, ao qual se junta pouco depois, em coro, ainda mais um, este mais grave. Finalmente, respirações ofegantes acompanham os gemidos, gemidos e respirações, ofegantes, gemidos, respirações. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Até que tudo acaba como começou.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um homem e uma mulher, sentados frente a frente, em cadeiras normais, na sala escura, duas janelas abertas, o chão frio e um carro a passar na rua.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />Nuno Andrade Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/01700914886164473010noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-31058246.post-65141224960982671522013-03-25T19:56:00.001+00:002013-03-25T20:08:22.109+00:00- Não sei que te diga.<br />
<br />
- Não preciso que me digas nada.<br />
<br />
- Mas é surpreendente.<br />
<br />
- Para ti.<br />
<br />
- Achas normal?<br />
<br />
- Acho uma merda.<br />
<br />
- E esperavas?<br />
<br />
- Nunca.<br />
<br />
- E agora?<br />
<br />
- Não faço ideia.<br />
<br />
- Pois, presumo que não.<br />
<br />
- Café?<br />
<br />
- Café.Nuno Andrade Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/01700914886164473010noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31058246.post-47546261372308627042013-03-19T10:04:00.003+00:002013-03-19T13:22:09.327+00:00Do pai João<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRKKsqczaA6k8jbOhUg2EYYyzNcx0Ua1k6OwitD-W2-QE5VvM76umHi-MZj2KdWDZ6Slf01WU6y-cnU7SfXtOGXqRtwQImLrOi6b46Hjahqvh-b8NEsMaK8fYV0cSTW9qRBktTgQ/s1600/BeFunky_jc.jpg.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRKKsqczaA6k8jbOhUg2EYYyzNcx0Ua1k6OwitD-W2-QE5VvM76umHi-MZj2KdWDZ6Slf01WU6y-cnU7SfXtOGXqRtwQImLrOi6b46Hjahqvh-b8NEsMaK8fYV0cSTW9qRBktTgQ/s400/BeFunky_jc.jpg.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Deixem-me ser claro: devo-lhe muito. Devo-lhe, por exemplo, e acima de tudo, o carácter forte. Espero um dia dever-lhe também a moral inabalável e a consciência tranquila de quem nunca, deliberadamente, prejudicou o outro. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Digo-o sem exageros: o meu pai é fabuloso. É isso tudo, por todas as coisas que me ensinou, mas principalmente por tudo aquilo que aprendi com ele, sem que disso tomasse fé. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O meu pai é um homem bom. Um homem bom, que ama a vida, que ama a terra e as coisas simples. E com isso me ensinou que o amor reproduz-se em mais amor e que a essência da felicidade está guardada em nós e nos actos que praticamos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O meu pai é também um homem inteligente. Um conhecedor profundo, um curioso incansável, um investigador determinado. E foi com ele que aprendi a nunca me contentar com um encolher de ombros, a perguntar sempre, por mais estúpida que possa parecer a pergunta. Mas conheci também o valor do silêncio, de nem sempre dizer tudo, porque há coisas que devemos guardar só para nós.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ao meu pai devo, assim, a maior parte de mim. Aquela em que sou quem quero ser.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
À distância de algumas horas de voo, porque foi assim que reconfigurámos o nosso amor, estás sempre comigo, companheiro. Sempre. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Este é o abraço que te dou.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Nuno Andrade Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/01700914886164473010noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-31058246.post-77787431586231270832013-01-30T08:56:00.001+00:002013-01-30T08:56:29.234+00:00Viver sem joelheiras<div style="text-align: justify;">
São para mim tudo as pessoas que não se conformam. Sou um bocado assim, também. Quanto temos um problema, se estamos insatisfeitos, o melhor que podemos fazer - e talvez a única coisa a ser feita - é arregaçar as mangas e reverter a situação. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Da minha experiência, sei que nem sempre conseguimos (ou pelo menos com os resultados esperados), mas alguma coisa, nem que seja o embrião de uma mudança, fica ali, a germinar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No final do ano passado, uma amiga de muita estima disse-me que se preparava para largar tudo: a cidade e a família que ama, os amigos que adora e um emprego confortável e que lhe garantia um futuro sem grandes sobressaltos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Isso não lhe basta. O emprego e a cidade, um e outro - que no caso se relacionam - não lhe bastam. Porque precisa de novos horizontes, porque olha para a secretária do lado e não se revê na tacanhez das ideias e das vidas feitas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Disse-lhe o que pensava: se vais, corta de vez. Se é para cortar, que seja a direito. Se vais arriscar, arrisca sem medo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quando arriscamos, existe sempre a possibilidade de correr mal. Mas o resultado do atrevimento, na sua imprevisibilidade, só é conhecido depois de feito o exercício. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sou assim pelo risco. Pelo tentar. Por isso, apaixonam-me as pessoas ousadas, que perseguem ideais, que sonham, ambicionam. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
De uma forma ou de outra, todos procuramos o nosso lugar no mundo, na cidade <i>latu sensu</i>. Há quem o encontre em rotinas e dias programados Há quem o deseje em empregos estáveis. E depois existem os outros, os que não o encontram numa vida de longo prazo e que por isso mesmo precisam de continuar a procurar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Será essa a principal maravilha dos tempos modernos. É fácil - é muito mais fácil, pelo menos - concretizar a inquietude.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Nuno Andrade Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/01700914886164473010noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-31058246.post-2386305584498872252013-01-12T11:44:00.001+00:002013-01-12T11:45:07.945+00:00Nota breve sobre os silêncios<div style="text-align: justify;">
Com a idade, vai-se tornando cada vez mais óbvia a minha incapacidade para conversas de circunstância. Com a idade também - e esta é a parte boa - habituei-me ao facto e aceitei-o, até. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Percebi, enfim, que nunca serei daquelas pessoas capazes de passar horas a trocar trivialidades com um qualquer interlocutor. Para mim, uma conversa deve ser suculenta. Pode até estar cheia de disparates, mas ainda assim, no registo, suculenta. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Foi uma conquista importante. Deixar de me sentir obrigado a manter viva uma troca de palavras só pelo cumprimento de uma obrigação social (?). Agora, assumo os silêncios. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Se perante alguém, não tenho nada para dizer, então o que tenho a dizer é isso mesmo: nada. Libertador.<br />
<br />
</div>
Nuno Andrade Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/01700914886164473010noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-31058246.post-78666075720687445712013-01-08T00:32:00.002+00:002013-01-08T00:44:17.174+00:00Miguel<div style="text-align: justify;">
Traz no olhar (como nos ombros caídos, no andar arrastado, nas costas curvadas) a tristeza de sempre. Empurra a porta, que alguém deixou encostada, com uma mão, enquanto na outra segura o saco das compras. Entra no prédio frio e dirige-se às caixas do correio. Tem a jeito a chave e com ela faz rodar a pequena fechadura. No interior, nada. As notícias porque espera insistem em não chegar (nem repara que hoje já ninguém escreve em papel). Não chegarão, mas ainda não o sabe. Ou talvez o saiba e prefira negar-se a aceitar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Estamos em 2009 e à mágoa guarda-a desde há dois anos. Há 746 dias, aliás, e contou-os assim, exactos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No saco das compras a que nos referimos no início, e ao qual voltaremos por mais uma vez além desta, está o essencial - e nada mais do que isso - para se manter viva. Come por verdadeira necessidade, não encontrando no acto o mais ínfimo gáudio. De resto, prazer de qualquer espécie é nela substantivo abstracto.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Miguel - disse ao chegar a casa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Miguel - repetiu ao não obter resposta.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Miguel - procurou no telemóvel.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Miguel - disse-lhe a voz do outro lado a meio da frase "Olá sou o... e não posso atender". </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Miguel - pensou repetidas vezes nas horas seguintes. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Miguel - contou a toda a gente, do ex-marido ao resto da família. Da polícia aos amigos. Dos vizinhos a desconhecidos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Miguel - chorou como ainda chora sempre que se aproxima do quarto, intacto, como no dia em que Miguel, demasiado novo para não estar ali, desapareceu. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A cama continua por fazer, a roupa ainda está espalhada e a secretária onde estudava e fazia os trabalhos de casa (ou fingia fazer uma e outra coisa) permanece desarrumada. Nos dias, raros, em que não sente que morre, diz, como se fosse ouvida, "olha como é que deixaste o quarto". </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O pão, os iogurtes, as maçãs, o saco vazio que aperta nas mãos. Fixando o olhar num ponto indefinido, paralisa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Miguel - volta a chamar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há uma lágrima - provavelmente sempre a mesma - a escorrer-lhe pelo rosto. Desencontraram-se para nunca mais. Em suspenso, recomeça a cada dia, ignorando que o ciclo não vai ter fim. </div>
<br />
<br />Nuno Andrade Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/01700914886164473010noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31058246.post-24149887283160567482012-12-31T14:45:00.000+00:002012-12-31T14:53:09.918+00:002013<div style="text-align: justify;">
Quando criança, talvez nos meus 6 ou 7 anos, à pergunta "o que é que queres ser quando for grande?" costumava responder "Presidente da República". Cresci mais um pouco e percebi que a vocação, afinal, seria para outras áreas mais dentro da lei.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Tenho muita sorte e digo-o muitas vezes (porque me acho realmente um privilegiado): há quase treze anos que faço aquilo que sempre sonhei fazer. E nunca precisei de fazer outra coisa que não isto. À minha volta, vejo tanta gente com talento, com tanto para dar, agarrada a empregos que não lhes dizem nada e a vidas aborrecidas que lhes tiram os sorrisos e só me posso considerar um sortudo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas a sorte também se conquista. Com trabalho, abnegação e muitas, muitas horas de entrega àquilo que acreditamos valer a pena. Na faculdade, tive um professor que, além dos péssimos hábitos de higiene, tinha uma frase que usava sempre que nos queria fazer entender. Dizia mais ou menos assim: "só depois de terem feito a vossa parte é que têm direito de reclamar se as coisas não vos correrem bem". </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
No fundo é isto. Fazer a nossa parte. No limite, podemos fazer até o que nos compete e mesmo assim não resultar. Mas desistir antes de tentar, é assumir a derrota sem sequer termos entrado em campo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os bons empregos conquistam-se, a realização profissional e pessoal alcança-se. Mas custa. O que eu vejo hoje, para além de toda a crise, é a promoção da cultura do facilitismo (e os seus resultados). Pais que levam os filhos ao colo até muito depois do que era suposto e filhos que esperam que os pais lhes bastem muito para lá do que deveriam bastar.<br />
<br />
É preciso lutar por aquilo que queremos e os protagonistas das nossas lutas só podemos ser nós.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Já não quero ser Presidente da República, mas quando cheguei a adulto percebi que o disparate de criança tinha, afinal, que ver com outra coisa: ambição. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quanto maior sonharem, mais longe chegarão. Mas acordem, entretanto. Acordem e façam o que querem que seja feito. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Que 2013, para lá de todos os défices, seja o ano de quem ambiciona. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />Nuno Andrade Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/01700914886164473010noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31058246.post-82475036816818601312012-12-26T12:12:00.002+00:002012-12-26T12:23:29.161+00:00Telefonar<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/15/1896_telephone.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/15/1896_telephone.jpg" height="320" width="310" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Por favor, não me telefonem. Se tiverem alguma coisa para me dizer, enviem um e-mail, sms, até uma mensagem no Facebook. Telefonar, não. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O telefone tem para mim funções essenciais. Mas telefonar não é uma delas. Não contem por isso com conversas prolongadas ou simpatias extremas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Restrinjamo-nos ao estritamente necessário: se, à distância, querem mesmo falar comigo - se não podem (ou não sabem) escrever - digam-no rapidamente, sem rodeios. E terminada a empreitada, desliguem na hora. Um "até logo" é suficiente para indicar o fim da conversa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Por outro lado, se sou eu a telefonar, notem que o faço com um interesse específico. Para perguntar alguma coisa, dar um recado que é mais perceptível dito que escrito, ou confirmar uma informação. Ou seja, poupem nas derivações.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não encontro, acreditem, ponta de romantismo em telefonemas sussurrados, prolongados no tempo durante horas a fio. Não desvendo, confirmo-vos já, réstia de amabilidade em perguntas de circunstância. Acho até suspeito que queiram saber sobre a minha prima e pior ainda sobre a saúde dos meus gatos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Se por acaso tentaram falar comigo e eu não atendi, o mais provável é que tenha optado por vos ignorar. Não vos guardo nenhum rancor, não me recordo do grande mal que pensam ter feito (o que quererá dizer que não me fizeram grande mal nenhum). Simplesmente, simplesmente mesmo (e às vezes as coisas são lineares, sim), não quero falar ao telefone. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Temos uma relação difícil eu e ele. O meu telefone de casa, que tive de instalar para poder ter ADSL, está na realidade desligado, arrumado a um canto. E quanto ao telemóvel, é óptimo - fundamental - para aceder à Internet em qualquer lugar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Num sentido restrito, telefonar é uma seca. Poupem-me ao aborrecimento. Por favor.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Nuno Andrade Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/01700914886164473010noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-31058246.post-28421395664063312022012-12-25T18:42:00.000+00:002012-12-25T20:23:35.676+00:00Volúpia <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhf_X1OmKaBGD6BiHtq6jFlJQe-eRRZ1F-UmESBnP0j7prAW9NSAyl6WFhg0IRFPWAmleHzV9_vPe_ImwvgWiVYV3kC0U_YeRmqdwtCCLWr6dkeVg7Hrgz95wgOolUbwmzY_jeYw/s1600/em205.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhf_X1OmKaBGD6BiHtq6jFlJQe-eRRZ1F-UmESBnP0j7prAW9NSAyl6WFhg0IRFPWAmleHzV9_vPe_ImwvgWiVYV3kC0U_YeRmqdwtCCLWr6dkeVg7Hrgz95wgOolUbwmzY_jeYw/s1600/em205.jpg" height="271" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E no final fica assim, deitada, de lado, corpo despido, apenas parte das pernas tapadas com a colcha. Virada de costas para ele e de frente para a janela, olhando a rua e esperando um abraço não demasiado apertado ou excessivamente longo. Apenas a mão por alguns segundos em cima da sua barriga, subindo depois numa carícia até ao peito nu, apertando-lhe um dos seios.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
É como se ainda o sentisse dentro dela. O seu sexo continua húmido e quente, latejando de desejo, mas agora de uma vontade consumada. Um fio do prazer dele escorre-lhe pela coxa e acabará por cair no lençol. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fumasse, fumaria agora um cigarro, entregue à volúpia do momento. Quem a vê com o este ar doce, olhos semi-cerrados, não imagina que, não há muito tempo, o seu corpo esteve entregue a uma transe de gemidos e gritos e palavrões e expressões faciais.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Da viagem recente ao Mali, trouxera um CD de Salif Keita. Foi então ao som do pouco condizente Madan que tudo se passou. E o que se passou foram gestos largos, posições de momento, pedidos de "mais forte", "tudo, tudo", "agarra-me", "puxa-me o cabelo", "o rabo, o rabo" e um expressivo "ohhhh foda-se, estou-me a vir" final, a duas vozes. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Para ela, o sexo deveria ser sempre assim, com foi o de hoje. Preliminares - muito importantes - demorados, de preferência num lugar inesperado. Despida peça a peça, roupa espalhada pela casa, apalpada contra a parede, em movimentos descoordenados pela tesão. E então atirada contra a cama, "come-me agora". </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O seu sexo não tem hora marcada. Também não tem proibições prévias. Entrega-se e espera que desse acto de confiança resultem orgasmos, de preferência muitos e de preferência vários seguidos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Nuno Andrade Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/01700914886164473010noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31058246.post-83948190164351313782012-12-23T20:56:00.000+00:002012-12-23T20:57:10.608+00:00De umas e outras coisas<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVwzyIwfGdR3cWzTRx8q0C6AKmZoqXwIORdHlvSFDcEc1MIA-YIkAJ0H1IM8260-I6U56LFdJJZtoTu6DNrMklWfuqoFEkhmXkuGRVm6qXjJqUYtSrTlhyphenhyphen0a2dfbpiBamXeXlyHg/s1600/PAR74092.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVwzyIwfGdR3cWzTRx8q0C6AKmZoqXwIORdHlvSFDcEc1MIA-YIkAJ0H1IM8260-I6U56LFdJJZtoTu6DNrMklWfuqoFEkhmXkuGRVm6qXjJqUYtSrTlhyphenhyphen0a2dfbpiBamXeXlyHg/s1600/PAR74092.jpg" height="400" width="300" /> </a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E haviam os lugares e as pessoas nos lugares. E haviam os cheiros e as conversas. E assim haviam os lugares, as pessoas, os cheiros e as conversas. E tudo no mesmo tempo, aquele em que, sem darmos por isso, éramos felizes, tanto como se pode ser. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mudaram então as coisas, as coisas todas. E do passado fica o restolho, as cadeiras vazias e a sala desarrumada. Fica o eco das conversas que já não se têm. E as memórias, as lembranças até do cheiro que já não se sente, a não ser de olhos fechados. E fechando os olhos voltamos a estar ali - por ficar tão perto - no lugar onde as coisas aconteciam.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Crescemos uns, envelhecemos e morremos, outros. E conjugávamos o verbo assim, sempre na primeira pessoa do plural, fazendo-nos parte da colectividade, dos que ao mesmo tempo entre os que cresceram e os que morreram, porque era assim, unos, que nos tínhamos uns aos outros, não só ali, naquela mesa comprida, mas sempre que precisos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os abraços e os beijos, o afecto. E percebemos agora as palavras, uma, outra e a terceira. Entendemos que havia ali tempo presente, o mesmo que agora é passado. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E agarramo-nos às recordações. E no que não esquecemos mantemos viva uma coisa qualquer, indefinível, mas decifrável, se nos restarmos a pensar sobre o quê, onde e quando.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nas palavras em desalinho, sem que as frases que delas resultam tenham que fazer sentido, eternizamos qualquer coisa, que nem sabemos o que é. Que nem será o que julgamos ser. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas não lamentamos. Temos saudades, mas não sentimos pena. Foi como acabou por ser. É como se tornou. E, com o fatalismo com que se justificam as coisas que não têm explicação - ou não precisam de ter - aceitamos o que a vida fez connosco, o que a vida fez de nós.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Natal feliz.<br />
<br />
</div>
Nuno Andrade Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/01700914886164473010noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-31058246.post-62533021794139434182012-12-22T21:07:00.001+00:002012-12-22T21:07:21.726+00:00Vinho<div style="text-align: center;">
<i>(se o autor do blogue gostasse de coisas vulgares, aqui estaria uma imagem com uma frase feita atribuída a Clarice Lispector, mesmo não sendo ela a autora) </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A mais firme convicção que me chegou com os trinta é a de que não voltarei a beber vinho mau. Porque a diferença que há entre um bom e um mau tinto - e o vinho será sempre tinto - é a duração do final. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A partir de uma determinada idade um homem deixa de ter vontade de perder tempo com copos de três, bebidos de penalti, sujeitos a uma cara feia e a um ligeiro esgar que, não sendo de dor, será sempre de algum arrependimento. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Escolhi, então, beber vinho bom, mesmo que isso signifique que beberei menos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não sei o momento exacto da decisão, mas aqui há dias dei por mim a olhar para o expositor do supermercado e a concentrar-me apenas nas garrafas das prateleiras mais altas.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Acontece que este não é um texto sobre vinho. E a ser sobre alguma coisa, então ele é sobre decisões, sobre estar preparado para as tomar e até sobre a sua inevitabilidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há um momento em que tudo faz sentido. O momento em que nos sentimos libertos (e não apenas livres) e em que, mesmo sem darmos por isso, respiramos de alívio porque estamos a conseguir seguir em frente.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Aceitarmos as coisas - boas e más - como naturais será a condição essencial para aceitarmos, logo a seguir, que não há histórias perfeitas. E o dia em que compreendemos isso - e compreender não é só perceber - torna-se o dia em que nos sabemos capazes de recomeçar tudo de novo. E recomeçar não tantas vezes quantas necessárias, mas tantas quantas aconteçam. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E de repente acontece mesmo. E mesmo sem quereremos - ou querendo sem saber - deixamos que seja assim e acaba por ser muito melhor do que pensávamos que seria. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Uma amiga que sabe da vida muito mais do que eu disse-me em Outubro, à
mesa de um casamento, que é tudo uma questão de escolha, de querer e fazer por isso. Parece que a nossa vida depende muito mais de nós do que aquilo que imaginamos. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Com a idade, tornei-me muito mais exigente com o vinho. E o que de melhor isso tem, é que sou agora capaz de o apreciar como nunca antes o fizera. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Nuno Andrade Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/01700914886164473010noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-31058246.post-17068356184345867022012-12-16T18:42:00.000+00:002012-12-16T18:47:19.892+00:00Condição: estrangeiro em qualquer lugar<div style="text-align: justify;">
Sou de um país de gente ainda muito preconceituosa e onde o racismo
persiste, em grande medida, por força da ignorância (mas sou inteligente
o suficiente para perceber os enormes progressos alcançados no espaço
de algumas gerações). </div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Se agora estou em Cabo Verde, antes vivi em Luanda e em Angola - onde passei alguns dos melhores momentos da minha vida - houve uma altura em que recebi ordens para, em reportagem, assegurar que o operador de câmara ocultava a minha mão branca da imagem.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sociedades totalmente inclusivas só
existem nas concepções teóricas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Participo. Envolvo-me activamente na minha comunidade. Formulo e emito opiniões. Contribuo e não me conformo. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não me acho um "mau imigrante". Não sou um agiota, como tantos. Não estou aqui a fazer fortuna à custa dos recursos do país ou dos "locais" - ou fortuna, de qualquer forma e feitio. Trabalho para uma empresa local - como sempre trabalhei - e ganho um salário condizente com a média salarial cabo-verdiana (e muito abaixo, até, das funções que desempenho). Mantenho uma relação cordial com os meus colegas e de grande respeito por toda a gente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Se quiserem, estou aqui porque escolhi estar. Porque troquei um bom salário, casa e viagens pagas pelo embalo destas ilhas e um orçamento apertado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Permitindo-me a lei fazê-lo, recenseei-me e votei nas últimas eleições autárquicas. Porque não quero e não sei ser indiferente. Não sou pessoa de chegar, estar e ir. O exercício do voto dá-me, de resto, não só o direito, como o dever de ser parte activa. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sei bem o que se está a passar (e lamento as causas tanto como discordo das consequências). Sei e sinto um aumento da hostilidade
generalizada em relação aos portugueses, em número cada vez maior no
país e na ilha. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Os fluxos migratórios são assim mesmo. Quem não tem
emprego na sua terra, procura-o na terra dos outros. Mas sei também que
muitos cabo-verdianos qualificados estão a ser preteridos a favor de
estrangeiros com as mesmas habilitações e sei bem o que é que isso, numa
sociedade jovem, com uma significativa taxa de desemprego, pode
significar. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Talvez o governo deva legislar sobre isto, mas talvez
o governo de um país que tem mais nacionais no estrangeiro do que no
seu território não o possa fazer com a assertividade que as pessoas
esperam. Ou talvez não seja uma questão de lei, mas sim de bom senso: aquele que às vezes falta aos decisores do Estado e das empresas, eles próprios cabo-verdianos, que preferem um expatriado a um patrício seu (e não será isto preconceito também?). </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Talvez devêssemos deixar de depender tanto da ajuda externa para sermos mais donos do nosso destino (e que me desculpem aqueles a quem possa causa estranheza o verbo na primeira pessoa do plural).</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
"Somos de onde nos sentimos e não de onde nascemos", dizia um amigo a propósito de uma polémica recente (disse-o em espanhol, o que conferiu um outro encanto à frase original). É assim que penso. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Só não podemos esperar que isso seja verdade para as nossas próprias opções de vida e não para as opções dos outros. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O homem faz-se e conquista o seu lugar na polis pelo mérito que tem. Não quero ser bem visto se não tiver direito a uma opinião. Não me peçam que seja passivo. Se algum dia isso se tornar inevitável, arrumarei as malas e partirei para outro lugar. Jamais viverei sem o meu juízo crítico. Fui ensinado a pensar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Vivo neste limbo: aqui nunca serei de cá; onde nasci, não voltarei a ser de lá.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fazer pela vida tem destas coisas, o não sermos de lugar nenhum. Valha-nos o facto de, não sendo de um sítio só, podermos ser de todos os sítios que quisermos. Mesmo que sejamos os únicos a pensar assim.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Nuno Andrade Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/01700914886164473010noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31058246.post-4757100026797127842012-12-08T07:00:00.000+00:002012-12-08T07:00:03.763+00:00Entrevista ao comandante Pedro Pires: "Ainda não nos libertámos da dependência do Estado" <br />
<div style="text-align: justify;">
Figura cimeira da política nacional desde a independência, o comandante Pedro Pires considera que em Cabo Verde ainda existe uma cultura assistencialista. O antigo Presidente da República assinala os progressos verificados ao longo das últimas décadas, mas pede rigor na gestão dos recursos dos Estado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlfO_48AwkWGu-jRBYsuq4kkY9VGr6yH0kXpeunFcIqriYpJ_bpxBwnmBJ9vEDXB7clM4-E2qHvJXv51_EMM8P46_1Ntd2Jg-qFAJchvLTr4R2Ij62MxfNjUTqeo8mUIzJUr5RJQ/s1600/PEDRO+PIRES-FOTO+DN.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlfO_48AwkWGu-jRBYsuq4kkY9VGr6yH0kXpeunFcIqriYpJ_bpxBwnmBJ9vEDXB7clM4-E2qHvJXv51_EMM8P46_1Ntd2Jg-qFAJchvLTr4R2Ij62MxfNjUTqeo8mUIzJUr5RJQ/s1600/PEDRO+PIRES-FOTO+DN.jpg" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Somos uma sociedade participativa?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Acredito que sim, se nós fizermos uma análise apurada podemos ver que há uma boa participação dos cabo-verdianos na vida da sua sociedade e da sua organização. Podemos começar, por exemplo, pelos clubes de futebol ou por outro tipo de organização e com o tempo, apareceram outras formas de organização. Entendo os cabo-verdianos são participativos e há uma tendência para melhorar essa participação.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Na palestra que proferiu no IX Encontro de Fundações da CPLP disse que "a participação e responsabilização cívica são dois elementos essenciais para o aprofundamento da vida democrática e para a consolidação dos regimes democráticos."</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Até que ponto é que a sociedade cabo-verdiana já interiorizou de facto esta ideia? </b></div>
<div style="text-align: justify;">
Às vezes temos a impressão de que as pessoas agem de uma forma despreocupada, sem o esforço de aprofundar e analisar bem as suas responsabilidades. Todos nós somos responsáveis por aquilo que acontece na nossa terra e somos responsáveis pela construção do nosso futuro. Mas uma coisa é a responsabilização política, cívica se podemos dizer assim, e outra é a responsabilização social. Muitos dos problemas existen-tes podem ser resolvidos com a participação interessada do cidadão sem que haja necessidade da intervenção do estado e dos municípios.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Existe de alguma forma em Cabo Verde, uma cultura assistencialista, nessa ideia de que o Estado é o garante de tudo?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Sim, ainda não nos libertámos dessa dependência do Estado, de modo que há necessidade de se descobrir outras formas de contribuir para a solução dos problemas que possam existir.</div>
<div style="text-align: justify;">
Por exemplo, a questão do emprego: será que o Estado é o único responsável pela criação de emprego? Está claro que não, porque os serviços públicos não têm lugar para toda a gente, nem podiam ter. Cabe ao cidadão, ao privado e a cada um de nós trabalhar no sentido para que haja mais emprego. Pode-se dizer que para ter emprego precisamos de dinheiro, isso sim, mas podemos ter outras iniciativas. Uma das iniciativas possíveis, por exemplo, é o cooperativismo, o mutualismo. Entendo que podíamos resolver muitos problemas do sector da saúde com organizações mutualistas ou o próprio sector da educação, mas não há ainda essa cultura, não há essa preocupação, de modo que há que insistir nesse sentido e quebrar a ideia do monopólio de responsabilidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Alguns Estados experimentaram, com sucesso visível, soluções de cooperativas em diferentes sectores de actividade, como a agricultura. São experiências que poderíamos replicar em Cabo Verde?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Há sociedades onde de facto o cooperativismo tem um enorme peso. Por exemplo, nos países nórdicos, mas até lá chegarmos vamos levar muito tempo. Falou da agricultura. Há vários níveis de cooperativas, a cooperativa não significa que temos de juntar as propriedades, mas podemos cooperar na transformação, pode-se cooperar na venda, na compra dos adubos, há várias formas de cooperar. Por exemplo a cooperativa do vinho de Chã das Caldeiras, não é uma cooperativa completa, no sentido em que as propriedades estão juntas, é uma cooperativa de produtores, que produzem a uva, vendem à cooperativa a um preço, faz-se a transformação e no fim fazem-se as contas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Ao longo das décadas, o próprio Estado não contribuiu para fomentar nas pessoas o sentimento de que é o garante principal das suas vidas?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
É bem possível que sim. As pessoas precisam sempre de garantias e numa sociedade pobre, que começa a vida de Estado independente, você tem de dar uma garantia e essa garantia quem a pode dar é o Estado, mas em certas condições, as prioridades tinham de ser garantidas pelo Estado. Em sociedades pobres e subdesenvolvidas o estado tem um papel extremamente importante, mas não deve cometer o erro de convencer as pessoas que é a partir das instituições públicas que vamos resolver todos os problemas. Tem de saber estimular as pessoas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Esses estímulos estão a ser dados?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Talvez não o suficiente, mas o liberalizar a economia é um sinal grande que significa que agora a economia privada, o promotor privado, têm um papel fundamental, mas nós aqui estamos a falar da sociedade civil, no contexto da economia social, aquilo que se pode fazer sem ter como motivação primeira o lucro, mas ter como motivação a prestação de um serviço ao seu associado. Entendo que na economia Cabo-Verdiana há um espaço para a economia social e até agora isso tem tido desenvolvimentos e recuos. Seria necessário fazer um esforço para que não tenha mais recuos, se estabilize e cresça.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Relativamente à criação de uma sociedade civil, ela pode ser medida também numa dimensão política. Os partidos políticos cabo-verdianos têm deixado que imerja essa sociedade civil, que haja participação política extra-partidária?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Tudo sai do mesmo bule, da sociedade no geral. A orientação e o campo de intervenção. A sociedade politica intervém no campo da organização do poder politico, as organizações da sociedade civil, não a sociedade civil, intervêm noutro campo diferente, que pode ser económico, pode ser no campo cultural, social, cooperativo mutualista, num campo muito próximo da politica, embora não seja a mesma coisa, que são as fundações.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Diz-se frequentemente que a sociedade cabo-verdiana é ainda uma sociedade exces-sivamente partidarizada. No seu entender isso é verdade?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Entendo que sim. Muitas vezes fica-se com a impressão que a pessoa não tem opinião própria. Mas há que enveredar-se para outra situação em que há um espaço que não é o espaço dos partidos políticos, mas sim o espaço dos cidadãos que podem intervir sem ter que se referir a ideologias ou à posição de um partido. Admito que haja essa necessidade. Do meu ponto de vista, isso é muito necessário, porque nós não podemos resumir as opiniões e as analise às posições dos partidos políticos. Eu acho que é reducionista, então precisamos de espaços mais ou menos neutros, imparciais onde a pessoa pode emitir a sua opinião sem problemas e sem complexos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>A sociedade cabo-verdiana, neste ano de 2012, é uma sociedade muito diferente daquela que existia nos anos 70, no período imediatamente após a independência. Como é que encara estas aceleradas mudanças?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Em 1975 havia mais pobreza, mais falta de instrução. O que se conseguiu no decurso desses anos permitiu a melhoria das condições de vida, das relações entre as pessoas, entre as ilhas, entre as comunidades e com o exterior.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Aumentaram também as desigualdades sociais?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Aí tenho dúvida, porque havia tanta miséria que eu não posso afirmar que houve aumento da desigualdade social. Não é possível uma comparação. Mas se me perguntar se houve uma diminuição da miséria, digo que sim. Depois da redução da miséria, podemos discutir se houve ou não aumento da desigualdade social. Houve crescimento da riqueza e a repartição é que não terá sido a mais justa, mas tome nota que na altura a pobreza era muito maior. Podemos dizer que o desenvolvimento da nossa sociedade poderá ter sido ou estará a ser desigual e que é preciso ter cuidado com essa desigual-dade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Como é que olha para fenómenos que são relativamente recentes, nomeadamente questões de violência urbana, criminalidade urbana e juvenil. Pergunto-lhe se estes são sinónimos dessa evolução que a sociedade tem verificado?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Está claro que é um fenómeno endógeno com influências externas. Se é produto nosso, se é gerado aqui dentro, é consequência do desenvolvimento dessa sociedade de todos os pontos de vista. É consequência do desenvolvimento da sociedade cabo-verdiana e se podia ser ou não evitado, eu acho que sim, talvez pudesse ser evitado e o problema que se coloca é analisar e aprofundar o conhecimento das causas, para se poder reduzir esses factores e essas causas. Eu não diria que o desemprego é um factor determinante nisso. Um outro elemento que podemos colocar diz respeito ao funcionamento das famílias. Há uma desresponsabilização das famílias.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Desestruturação familiar?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
As famílias não estão a funcionar devidamente para dar protecção ou orientação aos seus membros. Mas há mais: o problema da urbanização rápida, a perda de referências e do controlo social, as mudanças demográficas, a educação, o papel desempenhado pela co-municação social. Existem, portanto uma série de factores.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Como é que se devolve a família à sua função original de elemento primário de socialização dos indivíduos?</b></div>
<div style="text-align: justify;">
Não devemos olhar para a família de uma forma utópica. Não sei até que ponto é que as nossas famílias funcionaram bem durante todo o tempo. Entendo que a sociedade é formada por famílias estruturadas e famílias desestruturadas e quando você tem situações em que os pais não estão presentes ou o pai não está presente ou não se responsabiliza pela educação dos filhos, há então uma certa desresponsabilização. Quando as pessoas não se preocupam com isso e preferem sair a noite ou preferem ir ao bar ou fazer a vida de botequim, isso fica complicado, então o que eu acho é que não há uma responsabilização com a educação dos filhos e muitas vezes a educação dos filhos está entregue às mães desprotegidas. É tudo isso que é preciso melhorar. Assistimos hoje em dia a uma crise internacional que tem consequências que são por todos conhecidas e que tem contornos mais ou menos claros. Essa crise tem levado a que muitos estados em dificuldades questionem em particular aquela que deve ser a função social do Estado.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Como é que o Comandante Pedro Pires olha para esta discussão que é feita, sabendo que a função social do Estado não se limita ao pagamento de prestações sociais, vai também à saúde, à educação, à promoção da cultura, etc.? </b></div>
<div style="text-align: justify;">
Essa crise já se anunciava há muito tempo. Há anos que se tem estado a debater como garantir a sustentabilidade dos sistemas de previdência social, mas isso é um problema antigo. Em Cabo Verde, não temos condições para ter um estado social, porque os estados sociais nascem com o grande desenvolvimento industrial e económico dos países mais ricos e nós não temos ainda essas condições, mas as pessoas quando falam, quando exigem, quando pedem, dão ideia que já temos as condições para ter um estado social. A meu ver, nós não temos condições para ter um estado social e às vezes as pessoas confundem tudo isso e apresentam soluções que não são as viáveis.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>As pessoas esperam mais do que o Estado pode dar? </b></div>
<div style="text-align: justify;">
Eu acho que sim, que devemos ser realistas e ter uma gestão rigorosa, porque Cabo Verde foi, é e continua a ser um desafio e esse desafio exige sempre uma gestão rigorosa e prudente. Há uma grande diferença entre o rigor e a austeridade. O rigor é um princí-pio de gestão e a austeridade é uma medida emergência para enfrentar situações de risco. Assim, o rigor exige que os meios sejam bem utilizados mas também exige que a pessoa tenha a produtividade necessária para compensar o salário que recebe. A questão do rigor e a questão da produtividade e da poupança são princípios fundamentais que não se confundem com a mera austeridade. Logo, o rigor no bom uso de recursos e a produtividade constituem princípios elementares de uma boa gestão. Por outro lado, partir do princípio que o que é do Estado não tem dono, que pode ser gasto à toa, é mau e não conduz a parte nenhuma.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
<i><span style="font-size: x-small;">originalmente difundida na Rádio Morabeza e publicada no jornal Expresso das Ilhas (Cabo Verde)</span></i></div>
Nuno Andrade Ferreirahttp://www.blogger.com/profile/01700914886164473010noreply@blogger.com0