8 de dezembro de 2010
4 de dezembro de 2010
2 de dezembro de 2010
Diferenças
Em parte, será pela minha mistura genética: mãe portuguesa, pai angolano, avô brasileiro. Será também pela educação aberta que recebi e através da qual aprendi a aceitar a diferença. Talvez seja ainda pelas experiências que fui tendo, as amizades que fui fazendo e os sítios por onde fui passando. A verdade é que não suporto gente racista.
Existem diferentes tipos de racismo. O assumido militante, expresso através de grupos organizados, ou praticado isoladamente, sem vergonha na cara. O assumido não militante, vindo de gente que diz o que pensa sobre as pessoas que não têm a sua nacionalidade e/ou cor de pele, mas mantém alguma reserva em faze-lo ao pé dos visados. O cínico, que é aquele que diz coisas do género "racista, eu? nem pensar", antes de dizer que "jamais namoraria com uma preta". E o ingénuo, o que tem comportamentos racistas ou xenófobos, sem uma intenção deliberada. Este é, vulgarmente, o autor de frases que começam por "as pessoas de cor" (como se existisse alguém transparente).
No último fim-de-semana, enquanto assistia com um amigo a um jogo de futebol, fui abordado por um sujeito que, com o pretexto de que eu tinha um pé apoiado numa cadeira livre (eu sei, as pessoas educadas mantêm os pés no chão), decidiu fazer uso do pior vernáculo que lhe veio à cabeça, de forma absolutamente desproporcional. Nos dois minutos que durou o festival fui, aos olhos daquele senhor, o pior indivíduo à face da terra. Um branco oportunista que está em Cabo Verde para (re)colonizar o arquipélago e enriquecer à custa dos nativos.
Infelizmente, apesar de ter falhado o alvo, e do exagero da forma e do conteúdo, ele não deixou de ter alguma razão. Os sentimentos racistas podem ter muitas origens e, por estas bandas, uma delas é o comportamento autoritário de alguns que, vindos de fora, se acham donos do que é dos outros. Revolta-me o tom ariano com que muitos dos meus compatriotas se dirigem aos cabo-verdianos (como em Angola aos angolanos, na Guiné aos guineenses, etc).
Indigna-me que muitos estejam aqui, não para amar este quase nada de mundo, o som único da sua música, o ritmo tranquilo do dia-a-dia, a cachupa e o mar imenso, mas apenas para, com sobranceria, fazerem "na terra dos pretos" a fortuna que o seu próprio país reservou para alguém mais habilitado. Tiram-me do sério aqueles que, nas 24 horas que o dia tem, não perdem uma oportunidade para mostrar uma pretensa superioridade intelectual e moral, dissertando sobre temas de grande elevação e desvalorizando sistematicamente a cultura e as práticas locais. É gente que não tem onde cair morta e que veio cá parar não por opção, mas porque tinha a barriga a dar horas.
Um dia, alguém me questionou sobre como é viver em minoria. A pergunta, cheia de oportunidade, fez-me pensar que, de facto, a empreitada que tenho feito é mesmo singular.
Esta casa não é minha e mesmo assim deixaram-me entrar. Este quarto não é meu e apesar disso posso usar a cama. Se a cozinha é comum, ao menos lavo a loiça quando terminar de jantar.
Não concordo nada com a ideia de que somos todos iguais. O complexo da igualdade é um disparate. Somos diferentes e o que nos separa será sempre maior do que aquilo que nos une. Não há nada de errado nisso. O desafio está em aceitarmos e elogiarmos a diversidade. Seremos capazes?
Existem diferentes tipos de racismo. O assumido militante, expresso através de grupos organizados, ou praticado isoladamente, sem vergonha na cara. O assumido não militante, vindo de gente que diz o que pensa sobre as pessoas que não têm a sua nacionalidade e/ou cor de pele, mas mantém alguma reserva em faze-lo ao pé dos visados. O cínico, que é aquele que diz coisas do género "racista, eu? nem pensar", antes de dizer que "jamais namoraria com uma preta". E o ingénuo, o que tem comportamentos racistas ou xenófobos, sem uma intenção deliberada. Este é, vulgarmente, o autor de frases que começam por "as pessoas de cor" (como se existisse alguém transparente).
No último fim-de-semana, enquanto assistia com um amigo a um jogo de futebol, fui abordado por um sujeito que, com o pretexto de que eu tinha um pé apoiado numa cadeira livre (eu sei, as pessoas educadas mantêm os pés no chão), decidiu fazer uso do pior vernáculo que lhe veio à cabeça, de forma absolutamente desproporcional. Nos dois minutos que durou o festival fui, aos olhos daquele senhor, o pior indivíduo à face da terra. Um branco oportunista que está em Cabo Verde para (re)colonizar o arquipélago e enriquecer à custa dos nativos.
Infelizmente, apesar de ter falhado o alvo, e do exagero da forma e do conteúdo, ele não deixou de ter alguma razão. Os sentimentos racistas podem ter muitas origens e, por estas bandas, uma delas é o comportamento autoritário de alguns que, vindos de fora, se acham donos do que é dos outros. Revolta-me o tom ariano com que muitos dos meus compatriotas se dirigem aos cabo-verdianos (como em Angola aos angolanos, na Guiné aos guineenses, etc).
Indigna-me que muitos estejam aqui, não para amar este quase nada de mundo, o som único da sua música, o ritmo tranquilo do dia-a-dia, a cachupa e o mar imenso, mas apenas para, com sobranceria, fazerem "na terra dos pretos" a fortuna que o seu próprio país reservou para alguém mais habilitado. Tiram-me do sério aqueles que, nas 24 horas que o dia tem, não perdem uma oportunidade para mostrar uma pretensa superioridade intelectual e moral, dissertando sobre temas de grande elevação e desvalorizando sistematicamente a cultura e as práticas locais. É gente que não tem onde cair morta e que veio cá parar não por opção, mas porque tinha a barriga a dar horas.
Um dia, alguém me questionou sobre como é viver em minoria. A pergunta, cheia de oportunidade, fez-me pensar que, de facto, a empreitada que tenho feito é mesmo singular.
Esta casa não é minha e mesmo assim deixaram-me entrar. Este quarto não é meu e apesar disso posso usar a cama. Se a cozinha é comum, ao menos lavo a loiça quando terminar de jantar.
Não concordo nada com a ideia de que somos todos iguais. O complexo da igualdade é um disparate. Somos diferentes e o que nos separa será sempre maior do que aquilo que nos une. Não há nada de errado nisso. O desafio está em aceitarmos e elogiarmos a diversidade. Seremos capazes?
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