31 de agosto de 2008

Uma cidade louca

Luanda é uma cidade louca. Vendedores no meio da rua, competem o espaço com os carros nas enormes filas que antecedem qualquer rotunda ou cruzamento.

Muito lixo e muita improvisação. Em cada percurso cruzamo-nos com centenas de jipes e dezenas de Toyotas, deambulando, quase tão ao acaso como os peões. Afinal, não há exactamente faixas de rodagem. Apenas uma estrada, ocupada, na sua largura, por tantos carros quantos os que couberem lado a lado.

Faixas improvisadas e enormes cartazes fazem as honras. Afinal, estamos a uns dias das eleições legislativas, as primeiras desde 1992.

“Apatia”, descreve a imprensa internacional o estado de espírito dos Angolanos perante a chamada às urnas. Não sei se o será. Talvez receio que se repitam os graves conflitos que se seguiram a outros actos eleitorais.

Dia 5 – talvez só uns dias mais tarde – se verá se a história se repete.

25 de agosto de 2008

Um pouco de religião (em jeito de desabafo)

Passeava-me ontem por Évora e decidi, porque não conhecia o monumento, visitar a Sé. Ao chegar à porta, qual não é o meu espanto quando verifico que o acesso ao interior está sujeito ao pagamento de um determinado valor. De resto, uma fila de turistas formava-se até à “recepção”.

Convencido de que apenas se pagaria para visitar uma determinada parte museológica do espaço, observo mais atentamente o preçário. Não. Afinal, a primeira impressão estava certa: Queres ver Cristo? Então abre aí a carteira.

Não é a primeira vez que, em Portugal, assisto a tal fenómeno. Nesta, como noutras situações, virei as costas e desci a rua.Acho ofensivo, irónico até, que o acesso a um lugar sagrado seja, desta forma, vilipendiado.

Que se cobre o acesso a determinadas partes – dessacralizadas – da “casa do Senhor”, mas que não se vede o acesso gratuito e livre ao altar.

Visto ter passado, a bem da pureza da fé, o tempo da dízima, os profetas de Évora conseguiram encarnar, com mestria, a figura bíblica dos vendilhões do templo. Pois que o são eles próprios.

Argumentará, por certo, o douto clero, que durante as cerimónias religiosas as portas estão livremente abertas. Então o catolicismo só acontece com hora marcada?

Dirão ainda, achando-se na posse da razão, que a contribuição é a forma encontrada para manter o monumento. Mentira, pois que são mais que muitas as capelas, igrejas e catedrais deste país que estão abertas e estimadas, sem que para isso recorram à ingenuidade dos visitantes mais incautos.

Perante tão frouxas justificações, digo eu que aquilo que aqui se trata é da usurpação de um património que, erigido pelo Homem, ao Homem não pertence.

No fotógrafo

Com as fotos "tipo passe" na mão.

Eu, irónico: Epá, que homem mais bonito!

Funcionária, séria: Deixe lá, há bem piores.

22 de agosto de 2008

Festival Internacional de Máscaras e Comediantes


Começou ontem, no Castelo de São Jorge, o Festival Internacional de Máscaras e Comediantes. Trata-se da sétima edição de um evento que surge integrado nas Festas de Lisboa. Além do Castelo, também o Museu da Marioneta é palco das apresentações que vão decorrer até dia 31 e que têm em comum a máscara como elemento central.

Assisti ao espectáculo de estreia - Splash - e deixo os demais por vossa conta. Mais informações aqui.

Update sobre Angola

Para quem se tem perguntado sobre a minha ida para Angola, uma breve nota: A partida, inicialmente agendada, como se recordam, para 21 de Julho, já tem nova data. Não a revelo por enquanto, aguardando a confirmação de quem de direito.

16 de agosto de 2008

Deolinda

Os Deolinda apresentam uma nova abordagem ao fado. São frescos, são diferentes e muito engraçados. Música bem disposta.

Fica o video da passagem pela Antena 3.

13 de agosto de 2008

O jeito que a guerra lhe dá


Ainda que ao mundo ocidental, no qual nos incluímos – geograficamente falando – pareçam estranhos os motivos da guerra que a Rússia “declarou” à Geórgia, uma coisa é certa: a guerra deu-lhe um jeito imenso.

Pela primeira vez, desde que chegou ao cargo, o actual presidente russo consegue afirmar a plenitude do seu apelido, Medvedev, descolando de Putin. Ainda que o ex-presidente continue, porque continua, a ter grande influência no Kremlin, o que o actual ocupante da “casa do poder” russa recolhe, depois da cruzada bélica na Ossétia do Sul é uma grande dose de protagonismo.

Mais do que meia dúzia de discursos bem feitos, eloquentemente afirmados, perante uma ruidosa multidão, que se rende às palavras do seu líder, a guerra, ou se quiserem, “A Guerra”, consegue fazer dos homens que a protagonizam, figuras míticas. Agora, certamente que a História dos povos não se vai esquecer desse apagada figura.Ela fica-te mesmo bem, Dmitri.

12 de agosto de 2008

O espanto dele

George W. Bush mostrou-se hoje totalmente "contra a invasão da Rússia a um país soberano", o Iraque... perdão, a Geórgia.

6 de agosto de 2008

Ser jornalista é:

Perigoso. Ser jornalista é arriscado e perigoso, porque quem o é, como eu, está sempre dependente das arbitrariedades humoristicas de quem emprega. Num país onde o patronato tende a ser pouco formado, pouco evoluido e pouco capaz, quem detém empresas de comunicação social é, não raras vezes, o espelho de um tecido empresarial aquém das necessidades, mas ao nível das expectativas.

Vejam o caso d' "O Primeiro de Janeiro", onde um grupo de camaradas jornalistas foi deixado à sua sorte, depois de (mais uma) diarreia mental do dono do título. Uma atitude que, existam regras e reste moral, não pode ficar impune.

Já trabalhei com gente muito capaz. Já fui chefiado por pessoas habilitadas. Contudo, triste sina a minha e a nossa, a generalidade dos que me pagaram ordenados ao final do mês, não percebiam a diferença entre uma breve e uma reportagem.

Aos camaradas do Norte, um "não desistam" da profissão. Que o episódio que vivem sirva para tornar o jornalismo ainda mais nobre e combativo, assim sejam os seus operários melhores guerreiros.

5 de agosto de 2008

Silêncios perturbadores*


Se há coisa que detesto são refeições partilhadas com pessoas com as quais não tenho confiança. Não é o facto de comer calado que me chateia, mas antes o saber que o silêncio que se criou é o resultado de uma total ausência de assunto de conversa. É por isso que evito partilhar a hora de almoço ou de jantar com gente que nada mais tem para me oferecer que não 60 minutos de nervos.

Do que é que se fala, quando não se tem nada para dizer?

Sou um mestre nas desculpas rápidas e com facilidade esquivo-me a factos que pareciam absolutamente consumados. Não é para me gabar, mas em poucos segundos consigo inventar uma história libertadora. Algumas são tão fabulosas que eu chego a acreditar viver nesse mundo de fantasia.

Quando não há escapatória possível, o que sobra é ter coragem. No caminho para o restaurante (se no carro do carrasco, ainda pior) procuro construir, mentalmente, umas linhas de conversa. Não podem ser demasiado genéricas, para que não me seja descoberta a careca. Não podem ser demasiado profundas, porque posso ficar a leste num instante. Temas ali no meio-termo. Se é um colega de trabalho (ou mesmo um chefe ou patrão), a vida da empresa é garantida e aqui sim, torno-me na mais hipócrita das pessoas. Escolho muito bem as palavras e nunca me comprometo.

Lá diz o ditado. "Mais vale só..." enfim, vocês sabem o resto.



* E é isto. Desculpem, mas com este calor não dá para mais.