7 de fevereiro de 2012

Pieguices


O que eu espero de um político? Que seja assertivo, ciente do caminho a percorrer e determinado em alcançar as metas que define.

Não discuto aqui, já se vê, a razoabilidade das propostas, o sentido da estratégia, tão pouco os resultados produzidos (ainda que elas, ela e eles sejam o mais importante de tudo, claro está). Quero apenas saber, no caso concreto e definido, da postura: aos governantes, prefiro-os assim.

O problema é que os que se sentam à direita do Pai conservam aquele ar sobranceiro, de quem ‘nunca se engana e raramente tem dúvidas’, peculiar característica da generalidade dos protagonistas da vida pública portuguesa.

Confunde-se em Portugal determinação com arrogância. Como se ser humilde signifique ser-se fraco.

Para o politico médio português, cumprir bem o papel que lhe foi confiado é sinónimo de discurso duro e palavras a roçar o insulto.

Gostamos de chicote, pois sim. Preferimos ser mandados, a liderar processos. Os Coelhos desta vida sabem-no na perfeição e, sabendo-o, governam-nos pelo medo.

Escorraçam-nos daqui para fora, rotulam-nos de piegas, dizem que precisamos de trabalhar mais, que somos molengões, uns bandidos cheios de vícios. 

Bem, seremos tudo isso e de facto o melhor é emigrar, mas o que não pode acontecer é que seja o Primeiro-Ministro, e não o nosso pai, a dize-lo.

Não sei se já estiveram (ou estão) num daqueles casamentos em que sempre que a outra parte abre a boca, mesmo antes de falar, já sabemos que dali não vem nada de bom.

Se a minha mulher passar a vida a chamar-me nomes, se todos os dias me disser que o melhor é eu sair de casa, que por mais que me esforce nunca vou deixar de ser uma fraude, o que é que ela espera que eu faça com essa informação, mesmo que verdadeira?

As relações constroem-se com base na confiança. Se confio, sigo. Se me entrego, sou melhor. Não acreditamos, não vamos.

Talvez não seja suficiente, mas os portugueses atravessam dias de aperto. Vivíamos uma mentira, já antes o escrevi, mas foi a treta em que nos fizeram acreditar – com o tal tom de ‘Deus no céu e eu aqui’. 

Acordámos, estamos a tomar consciência do que se passa – embora longe da percepção real da embrulhada em que estamos metidos – e, dentro dos possíveis, tentamos seguir com a nossa vida. Tudo o que não precisamos é que o rosto actual da pobreza que nos invade tenha a desfaçatez de dizer que somos o seu maior estorvo. 

É que, Pedro, antes de tudo o resto, Portugal somos nós. O que sobra é abstracção.