28 de novembro de 2007

Free Tickets

Eu só gostava de saber se tenho cara de Ticket-Line? Tenho? Não me parece.

Assim, porque raio é que quando toda a gente quer ir ver o que quer que seja, sem pagar, entenda-se, lembra-se que o Matvey, o rapaz da rádio, arranja bilhetes à borla.

No espaço de uma semana foram requisições para: Scorpions, Jesus Cristo Superstar, Xutos e Pontapés e Jardim Zoológico. Destes, sabem quantos levaram resposta positiva? Nenhum. É que, sabem, eu tenho um mau feitio que até me custa aturar-me.

Não consigo ficar bem impressionado com uma pessoa de quem não sabemos nada há vários meses e cuja 'abordagem da reconciliação' é feita, rigorosamente, nestes termos: "Arranjas bilhetes para...?". Cheira a oportunismo, não é?

A partir de agora, o 'rapaz da rádio' arranja ingressos, sim, mas primeiro venha daí 'essa' de 50 euros, que tenho uma família para sustentar e um cão que se caga no corredor.

27 de novembro de 2007

A campanha da Tagus


Uma campanha da cerveja Tagus resultou ontem em polémica, depois das associações de defesa dos interesses homossexuais terem vindo a público criticar o que consideraram ser uma acção com "cunho sexista".

Resumidamente, a Tagus colocou na rua, por intermédio da Porter Novelli, a agência que detém a conta da marca de cerveja, uma campanha publicitária sob o lema "Orgulho Heterossexual". Vários cartazes apresentavam um slogan que apelava ao sentido hetero dos consumidores de cerveja.

Uma das vozes mais críticas da fórmula encontrada pelos criativos foi a dos activistas dos Panteras Rosa. No seu blog teceram vários comentários aos cartazes e ao site, entretanto criado e já modificado.

A campanha da Tagus não prima pelo aprumo e um pouco mais de imaginação e esforço teria evitado a vulgaridade do tema. Como se beber cerveja fosse motivo de rivalidade entre "adeptos" de uma ou de outra orientação sexual. Contudo, registo os argumentos de defesa usados pela associação que aqui citei: "Mas sobretudo porque não é a orientação sexual que é motivo de orgulho. "

No fundo, os Panteras criticam a terminologia usada na acção, sem cuidar de olhar para si próprios. Pergunto, se usar a expressão "orgulho heterossexual" é ofensivo e ostensivo, como é que devemos definir as marchas de "orgulho gay?", onde a pândega sai à rua com plumas e lantejoulas?

A homossexualidade não me incomoda, o que me mina a paciência é a falta de espírito aberto de quem às segundas, quartas e sextas veste de rosa e às terças e quintas detesta quem se atreve a questionar o status quo.

Por outro lado, voltando às marchas, nunca percebi bem onde é que se pretende chegar com um desfile de gente vestida de forma pirosa. Eu aceito alguém que tem uma opção sexual diferente da minha, mas não me obriguem a tolerar um gajo que se veste como se fosse um pavão. As pessoas não andam assim na rua, não se abanam, como se tivesse ovos no meio da peida, e não dão pulinhos como se fossem grilos (os grilos pulam?).

Quem se sente igual, não se deixa ofender por uma piada de mau gosto. Quem se sente igual, comporta-se como os seus pares. Reagir com gritaria a uma má campanha publicitária é relevar a diferença que de facto existe e um certo complexo por se ser como se é.

À Tagus faltou decência. Aos Panteras faltou a tolerância que tanto advogam.

26 de novembro de 2007

D. João VI


Que os portugueses gostam de efemérides, não é novidade para ninguém. Que somos, em geral, ridiculos, nada mais verdadeiro.

Pois bem, não sei já repararam mas diz que há por aí um programa de comemoração de uma data da qual deviamos era ter vergonha.

Há 200 anos o rei pegou na família, meteu-se num barco e fugiu para o Brasil. Alguém deve ter achado que o facto era motivo mais do que suficiente para uma festa e vai de assinalar o facto.

Portanto, no fundo, temos um rei maricas, que à primeira oportunidade foge para o Brasil, com medo de levar um tiro nos cornos e ainda por cima temos orgulho do sucedido e decidimos celebrar a coisa. Umas palminhas, uma caipirinha e uma picanha.

Este fim-de-semana, com o alto patrocínio da Marinha, chegámos ao ponto de fazer a reconstituição histórica da partida do mariquinhas. "Ah, vamos lá ver como foi este momento de orgulho patriótico", devem ter pensado os mentores da ideia e os espectadores do certame.

O D. João VI, feio como todos os reis, é uma anedota curiosa. Com a suspeita de que o Napoleão vinha por aí com a cavalaria, disposto a reavivar o espírito do império romano, aliou-se aos espanhois (aliás, já era casado com uma infanta de Espanha, de nome Carlota Joaquina, o que só por si diz muito). Claro, de Espanha só vem cocó e a aliança não serviu de nada. O Napoleão veio mesmo, como os próprios dos Espanhois. "Para proteger o país", disse o VI, "vou para o Brasil" (hum?).

Entretanto, já no Brasil, decide abrir os portos e liberalizar o comércio, o que foi uma desgraça para a economia da metrópole, mas óptimo para o desenvolvimento da colónia.

Não satisfeito, vai de falhar na educação dos filhos. É que o D. Pedro podia ter dado para a droga, mas não. Deu-lhe para Brasileiro.

- Olha, pai, isto agora é meu, eu sou imperador e tu pá ou te portas bem e aceitas ou eu mando-te para Portugal, onde vais passar o resto da tua vida a beber tinto da Bairrada e a comer rojões.

- Mas...

- Mas nada. Calas-te e pronto.

Curiosamente, o mesmo gajo que deu a independência ao Brasil foi o que veio a correr dar pauladas ao D. Miguel, que tinha, por sua vez, vindo salvar o país dos franceses e restante laia, mas que entretanto achava que era dono desta merda toda.

E é isto, meus amigos, que nós andamos a comemorar.

22 de novembro de 2007

Uma novidade fabulosa.

A Auto Motriz e a Credibom, stand automóvel e empresa de crédito, lançaram uma campanha extraordinária(mente parva): A quem comprar uma viatura no stand, recorrendo ao crédito, é oferecida uma vacina contra o cancro do colo do útero!

Gostava de saber quem foi o génio que imaginou e criou esta campanha de marketing que deita por terra anos de teoria publiciária.

Imagine-se a conversa do cliente, na hora de escolher o carro:

- Então, e que extras é que o carro tem?

- Ah, uma maravilha! Este carro vem extremamente bem equipado. Jantes de liga leve, ar condicionado, rádio com leitor de CD e MP3, GPS incorporado no painel e vacina contra o cancro do colo do útero.

- E estofos em pele?

- Isso não. Mas, pronto, vem com a vacina, numa caixinha de cartão, em três doses S E P A R A D A S. Uma categoria. Uma vacina que cai bem, que dá um jeito tremendo. Olhe, isto não se fala de outra coisa.

- Mas eu sou homem!

- Então e depois? Oferece à sobrinha. Que idade é que tem a pirralha? Certamente que... upa, upa. Esta miudagem agora é toda precoce. Safadinhas, o que elas são. Malandras...

Mas a Credibom acha que quê? "Ah, que fofinhos que eles são. Tão docinhos, preocupados". É isto que a Credibom acha que as pessoas vão pensar de uma empresa que tem taxas de juro de 30%? Para mais porque está na cara que a preocupação é que as clientes não morram a meio da liquidação do empréstimo.

Portanto, corremos o risco de estar perto o dia em que isto vai acontecer:

- Eu gosto deste carro, mas é comercial e depois se a família cresce é uma chatice, porque fico sem lugar para os putos.

- Mas não tem problema absolutamente nenhum porque, curiosamente, este carro vem com uma vasectomia de oferta.

Por outro lado, a Marcha sabe que a Smart vai lançar uma linha destina aos obesesos, o chamado Smart For Two with Banda Gástrica.

É que, pior do que juntar carros, créditos e vacinas é publicitar a coisa. Eu se fosse dono de um stand, para já não oferecia vacinas, optava por caixas de lenços (que é uma coisa que dá muito jeito, na praia, por exemplo, para limpar as mãos, depois de comer frango assado), mas "se...", então escondia a vacina... "Parabéns, está aqui a chave do seu carro novo. No porta-luvas vai o manual de instruções, a guia provisória e está lá também a chave extra e ainda o seguro e também um jogo de luzes e, e uma vacina contra o cancro do colo do útero."

UPDATE: O Infarmed proibiu a campanha.

Surpreendente

Um vizinho meu, formado em parvoice, achou que apanhar aves protegidas e fecha-las em gaiolas era uma óptima ideia. Sim, porque à boa maneira de ser português (e idiota), o cujo entende-se dono do mundo e zona periférica.

Vivo numa zona rodeada por pinhal, o que facilitou a "caçada". Por comentários que fui ouvindo, aqui e ali, tomei conhecimento da selvajaria. Depois, bem, depois foi só apelar àquele lado mais contestatário que ainda conservo e que, em diversas ocasiões, tenho espelhado neste blog.

A GNR tem um departamento designado por "Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente". O SEPNA cuida de averiguar e agir em conformidade, mediante as denúncias efectuadas pelos cidadãos, nas situações que constituam uma violação das regras de protecção ambiental (animal idem).

Escrevi um e-mail, pouco esperançado numa resposta. Acontece que a resposta chegou e acompanhada duma resolução do problema. A GNR veio à vizinhança, munida de um mandado, e apreendeu de imediato as várias aves em causa. Foi ainda levantado um processo de contra-ordenação, do qual deve resultar a aplicação da respectiva coima.

Resolvida a situação, recebi hoje em casa um carta do Comando-Geral, informando da realização da diligência.

Se não fossemos tão passivos, se exercecemos a nossa cidadania de forma plena, provavelmente viveriamos num país mais justo e melhor. É demagógico, mas verdadeiro.

21 de novembro de 2007

Convidei o José Milhazes para uma grande entrevista...

... e ele disse que sim. Agrada-me particularmente a possibilidade de entrevistar o José Milhazes, num exercício que acredito será mais de conversa informal do que de lógica "pergunta-resposta" simples.

Já entrevistei meio mundo. Desde políticos, portugueses e internacionais, músicos, eruditos ou pimbas, escritores, eventuais e efectivos. Gente de revista e anónimos absolutos.

O Milhazes faz parte de um geração de jornalistas portugueses com a qual as redacções têm muito a aprender e junto da qual os conselhos de administração deviam passar algumas semanas, para perceberem o que é o jornalismo.

Se juntarmos à evidência o facto de José Milhazes viver em Moscovo, então está dado o mote mais do que necessário para ser extremamente apelativa a possibilidade de trocar ideias e aprender certamente muito.

Vamos gravar em Dezembro.

20 de novembro de 2007

Só quero que se saiba isto:

Se eu não fosse o idiota que, no fundo, sou, a esta hora estava em casa a comer Nestum ao invés de continuar aqui enfiado.

Disse.

18 de novembro de 2007

Um anedota de nós mesmos


Não me espantam as notícias recentes sobre novos casos de pedofilia. Espanta-me que não sejam ainda mais surpreendentes no seu conteúdo e nos seus protagonistas.

Incomoda-me apenas que a gratuitidade e o voluntarismo de algumas acusações implique que se crie (ou se proporcione) um clima de suspeição nacional. No fundo, parece que todos somos potenciais pedófilos, ou pedófilos em potencial.

A universalidade deste tipo de acusações resulta directamente da lógica de impunidade que impera na sociedade e nos meandros da justiça. O processo Casa Pia, em julgamento há não sei quantos anos, sem fim à vista, é o melhor exemplo. Carlos Cruz o paradigma perfeito.

Quando foi detido, "não, não pode ser". Quando ficou preso preventivamente, "ah, o sacana". Agora, anos volvidos, "coitado, anda para ali". Não há culpados julgados e por isso somos todos suspeitos.

Num Estado onde a justiça é morosa e principalmente dúbia, todos podemos ser apanhados nas malhas da imprevisibilidade e isso é sinal de uma democracia quinada.

O desconhecimento dos verdadeiros "malfeitores", desta capital do deboche e do nojo, faz-nos julgar popularmente suspeitos e supostos pela fronha ou expressão do momento. "Este cabrão é pedófilo, olha-me lá para a cara dele! Tem cara de pedófilo, o filho da puta!".

Estamos a perder a racionalidade e a clareza de ideias e enquanto isso há miúdos que continuam a ser levados em carrinhas para "Casas de Elvas", estando Elvas em qualquer lado.

Das manchetes de hoje o que sobrará? Um rato parido pela montanha, provavelmente.

Da pedofilia ao futebol e dele até à corrupção.

Os dois árbitros apanhados, literalmente, como a "mão na massa" são o exemplo acabado de como se chega ao povinho. Sexta-feira foram 500 euros, na semana passada talvez alguém se tivesse lembrado de oferecer um presunto.

Ver futebol em directo na televisão e depois acompanhar em diferido a detenção de dois juízes do apito, militantes dum anedótico e menor campeonato distrital! Fossem os 500 euros, os presuntos e as entremeadas a expressão da verdadeira corrupção em Portugal e estávamos nós muito bem.

Vivemos num país que não confere a si mesmo a dignidade de ser Estado. Somos uma ironia. Anedóticos.


Créditos da imagem: http://www.audienciazero.org/eixo/content/view/325/26/

15 de novembro de 2007

Oh que maravilha...

Um artigo que escrevi em inglês, dias antes da recente cimeira UE-Rússia, foi citado e recomendado em Polaco:

"Priwiety iz Rossii!
Pojawił się ciekawy artykuł na temat stosunków europejsko-rosyjskich w
Newropeans-Magazine. Proponujemy lekturę artykułu wstępnego autorstwa Nuno Andrade Ferreira na temat szans zmarnowanych w czasie portugalskiego przewodnictwa w UE w obliczu zbliżającego się szczytu Rosja-UE, który pewnie nie przyniesie żadnych owoców. Poza tym parę artykułów o prezydencie Putinie i jego pozycji w Rosji:"



Em bom rigor, não percebo nada de Polaco e por isso recorri a um site manhoso, para tentar traduzir.

"(...) Um curioso artigo foi publicado sobre as relações União Europeia-Rússia. Sugerimos a leitura do texto de (aqui era o meu nome completo), a propósito das oportunidades perdidas pela presidência portuguesa (...)"


Portanto, já ganhei o dia. É que isto quando se é pequenino, qualquer mimo sabe bem.



13 de novembro de 2007

Chavez, Juan Carlos, a democracia e nós próprios


Se Hugo Chavez dissesse de Durão Barroso o que disse de Aznar, Cavaco diria a Chavez o mesmo que disse Juan Carlos? Sinceramente, não tenho a certeza.

Recordo-me da forma como Cavaco defendia Portugal em Bruxelas, no seu tempo de Primeiro. Eramos, recordem-se, o "bom aluno". Lá nisso a Polónia soube fazer a coisa. Na União há 3 anos e já levanta a crista, como se fosse fundadora da ideia de Europa comunitária.

Gosto de políticos que "os" tenham no sítio. Gostei de ver o rei a defender o seu ex-governante (por ele nomeado, de resto). Discorde-se de tudo, preserve-se a dignidade.

Juan Carlos disse a Chavez aquilo que o mundo queria ouvir. Louco, tão louco como Bush, que tanto gosta de criticar, Chavez apoderou-se de mais do que do Poder. Fez-se dono de um Estado, que usa como palco no seu Late Night Show. Chavez é rídiculo, como são todos os ditadores. O problema dele (e dos outros, também) é que usa o povo como personagem da telenovela que realiza sem guião.

A soberba de achar que um país, a sua história, as suas gentes, cabem em 100kg de carne humana é tão redutora, quanto inquietante. Achamos piada às suas loucuras, rimo-nos do aspecto de cartoon. Ignoramos, por entre graçolas, que aquele homem é um ditador como Fidel, como Mugabe. São iguais, não pelos que matam, mas pelos que calam. A morte apaga o corpo, a censura enclausura o pensamento e não há nada mais perturbador do que uma vida pela metade.

Ditadores da categoria "palerma", como Chavez, não são um perigo para o Mundo. São perigosos para quem depende da arbitrariedade dos actos de sujeitos que se acham donos da suprema razão.

Contudo, o Mundo precisa de tiranos. Precisamos de gente mesquinha, capaz de se perpetuar no poder, pelo sinples gosto de ocupar o trono. Gente que cai no rídiculo. Precisamos de Chavez, de Fidel, de Mugabe, e de Mahmoud Ahmadinejad, também da China e do Alberto João. São eles que nos fazem valorizar viver num sítio onde podemos mandar as convenções às urtigas e virar o cu ao Governo. Sem eles seriamos ainda mais passivos e a lógica democrática estaria condenada a desaguar em qualquer coisa pior.


12 de novembro de 2007

E agora...


A Canon EOS 400 D já cá canta, meus amigos. São 10,5 Megapixéis, duas objectivas (18-55 e 55-200) e grip de alimentação. A paciência é uma virtude, definitivamente. Depois de tantos meses atento ao mercado, a promoção da gama EOS da Canon não poderia ter vindo em melhor altura. Para mais, assinalando os 20 anos da etiqueta, alguém no Reino Unido vai transferir para a minha conta €70, só porque comprei esta menina.

Compreendem, por certo, que devolva a Powershot à progenitora.

8 de novembro de 2007

Alguém reparou na principal notícia que vinha ontem no DN? Não? Eu mostro...


"A clássica série protagonizada por David Hasselhoff (que fazia de Michael Knight), intitulada em Portugal de O Justiceiro, vai ter uma nova versão, com um novo piloto e com um carro dotado de novas potencialidades, segundo anunciou o site Hollywood Reporter.

Justin Bruening foi o actor escolhido para protagonizar o novo Michael Knight e para pilotar Kit, o carro ultraveloz que tudo fazia, tudo conseguia. Até falava...

Na nova versão, Justin Bruening [o fuinha da foto], que entre outros trabalhos integrou o elenco da novela da ABC All My Children, faz de filho do herói da série original.

Quanto ao carro, deverá sofrer algumas transformações para a nova série, devendo passar a ter a capacidade de mudar de forma, ao estilo de Transformers."

6 de novembro de 2007

Roberta Sá

Não há volta a dar, não. Hoje vou estar com ela e vou pedi-la em casamento.


Para os mais incultos, a Roberta Sá é uma das novas vozes da MPB, que lançou agora o seu segundo disco, "Que belo estranho dia pra se ter alegria".

3 de novembro de 2007

Colegas


Este post é inspirado em algo que li por aí.

Trabalho num sítio onde as pessoas não abundam. Uma redacção pequena, emagrecida pela "crise", não deixa espaço para grandes jogos de cintura. Somos aqueles, estamos lá o dia todo e, gostemos ou não, temos que nos aturar.

Crente da inevitabilidade do acto, embora descrente na ordem das coisas, dou por mim a achar, legitimamente, creio, que não há volta a dar: ou gostas de trabalhar com eles ou tens a vida feita num inferno.

Sou um dos poucos trabalhadores (sentido geral), jornalistas (sentido restrito), que no seu primeiro emprego virou funcionário de quadro. Tenho subsídio de refeição, de férias e de Natal. Depois, não vivo a angústia dos 6 meses de contrato. Um dia convidaram-me para ficar e eu disse que sim.

O estatuto pode dizer pouco, embora diga qualquer coisa. Dá-me, na essência, uma cadeira no meio da sala, de onde vejo gente a entrar e a sair. Chegam, sentam-se durante uns meses, vão embora e nunca mais voltam. Tenho só sete anos de profissão e ainda assim, ainda assim, sou o mais antigo, sem ser o mais velho.

Nunca experimentei detestar as pessoas com quem trabalho. Claro, há gente que recebe um esforçado "bom dia", mas não nego uma graçola a ninguém, nem respondo mal ao pior dos javardos. Tendo a fazer-me de ingénuo, simplesmente para não ter que passar o dia (os dias) na mais ridícula ginástica mental de que há memória.

A um amigo, com quem nos trocámos de razões, deixamos de telefonar, de aparecer. Com um colega, nada feito. Amanhã voltamos a vê-lo.

Somos hipócritas no trabalho, sim. Seremos, eventualmente, metade de nós próprios. Ainda assim, prefiro ver uma parcela de mim, a imaginar entrar à porta e suportar 12 horas de um Auschwitz de paredes brancas.

Felizmente existem aqueles "camaradas" com quem conversamos, trocamos e-mails idiotas e bebemos café. Podemos não saber nada da vida pessoal deles (a não ser o que o tempo de convívio obrigou a conhecer), mas sabemos perfeitamente que cara fazem quando não querem ser incomodados.

No fundo, vivemos com eles. Partilhamos a casa, temos um microondas comum e tomamos as refeições juntos. Usamos a mesma casa de banho e limpamos o cu ao mesmo papel.

E tenho dito (ponto)

Tenho uma editora francesa à espera de um artigo de opinião. Usei a desculpa mais disparatada do mundo, quando a demora é apenas por um motivo: Falta de assunto.