27 de setembro de 2008

A piscina é já ali ao lado

Finalmente o condomínio onde estou a morar já tem piscina. Há muito que os moradores reivindicavam do INEJ, entidade que gere o espaço, a abertura do mesmo.

Em final de mandato, a actual direcção brindou todos com a abertura do local de descanso e diversão, introduzindo, aliás, algumas alterações na disposição do espaço. A partir de agora, a própria da piscina funciona no apartamento 32, pelo menos a julgar pela quantidade de água que eu tinha em casa, quando regressei de uma ida ao Jumbo (em Luanda, sim!).

Pouca coisa: 3 cm de altura, tirados à força de pás de cozinha ("há que contornar", já dizia a outra).

Aproveito para agradecer à minha empregada por ter deixado a torneira da banheira aberta, com a tampa no ralo. Muito bem, minha menina. Muito bem, mesmo! Tanto favor sexual que tu me deves a partir desta tarde!

Protesto

Às 7:45 da manhã fui acordado por um martelo pneumático que, ruidosamente, partia uma parede, dois andares por cima do meu. Estão a ampliar o wc mais pequeno dos apartamentos alugados onde vivemos.

Fiquei muito mais aliviado quando constatei que existem dois homens, para 20 apartamentos. Vai ser uma obra rápida, portanto.

26 de setembro de 2008

Notas

Artigo publicado hoje em Portugal. Fiquem com ele e bom fim-de-semana.

Clicar na imagem para ampliar.

21 de setembro de 2008

Ai os buracos

O presidente da empresa que presta abastecimento de água à capital, em declarações à Rádio Nacional, justificou uma série de obras, que vão implicar vários cortes no abastecimento, dizendo que "o ano passado aconteceram várias roturas, aproximadamente cerca de quatro".

18 de setembro de 2008

Miramar


Em Luanda, num alto a partir do qual a cidade de estende a nossos pés, há um cinema. Chama-se Miramar. Ao ar livre – calor a quanto obrigas – está hoje meio ao abandono. O ecrã, outrora branco, é agora uma gigante tela cinzenta, na sombra do esplendor que figura, por enquanto apenas, nos compêndios de histórias ou nas memórias de “estórias”.

Quantos heróis salvaram inocentes? Quantos beijos apaixonados? Quantos enamoramentos aquela gigante montra de sonhos teve oportunidade de testemunhar na plateia?

O espaço, igual ao antes, está reduzido à missão de sala ocasional de espectáculos ainda mais ocasionais. O público já não é fixo, os filmes são outros e os enredos bem mais previsíveis. Ainda se vê o mar, a baia e a cidade. Vê-se como é e imagina-se como foi. Só.

15 de setembro de 2008

Um jeito diferente de ser...

Ele é Tókinho, artista de rádio nas horas vagas. Aos Sábados, entra no Submarino Angolano e, entre as 18h00 e as 19h00, na antena da rádio LAC, dá música dos Beatles para toda a cidade de Luanda.

A história da LAC é muito peculiar. Foi fundada por dissidentes da Rádio Nacional de Angola e vive, há 17 anos em contentores, num espaço improvisado, que proporciona, ao visitante, uma estranha sensação de conforto.

Alucinado, como poucos, Tókinho é um verdadeiro rei da rádio. Recebe visitas e manda recados, por entre cigarros. Por entre muitos cigarros.

Há mais fotos, aqui.

9 de setembro de 2008

Foi-se a Marlene

Mudei de apartamento e com a mudança troquei também de empregada. Foi-se a Marlene. Agora há uma Ângela. Já fui repreendido pela primeira, por ter "saído de casa" e comprometi-me a visita-la com regularidade.

Não deixa de ser significativo que as primeiras kambas que faço em Angola sejam empregadas domésticas.

iPod Angolano


8 de setembro de 2008

Recadinho:

Para todos aqueles que, em Lisboa, teimosamente, perguntam "que horas são aí?", a minha indignação, travestida de carinho: porra, é a mesma hora que aí!

Moeda angolana

Em 2000 Angola adoptou o Kwanza como moeda oficial. O novo kwanza substituiu o velho, a uma proporção de 1 para 1000 (e obrigadinho Wikipedia).

Não existem moedas, pelo que é comum termos a carteira cheia (muito cheia, aliás) de notas que, todas somadas, dão para comprar pouco mais do que uma cuspidela de boi, que é uma coisa que, parece, usa-se muito aqui em África.

Ora, depois de terem constatado o quanto eu sei de política monetária, aqui vai mais um ensinamento.

Notas de kwanza:

1 kwanza
2 kwanzas
5 kwanzas
10 kwanzas
20 kwanzas
50 kwanzas
100 kwanzas
200 kwanzas
500 kwanzas
1000 kwanzas
2000 kwanzas

Ora, sem moedas de cêntimos, por exemplo, a vida pode ficar bem complicada, porque os preços não são lineares.

Hoje, no supermercado local, perante uma conta dificil, o operador de caixa achou justo facilitar a vida a si próprio e o troco foi dado com a ajuda de... pastilhas elásticas!

And I rest my case.

4 de setembro de 2008

Afinal, de que rabos gostam eles?

A resposta amanhã (talvez).

Espera eleitoral

A partir de hoje e até Domingo aguardam-me vários dias de clausura. As eleições – e tenho uma mesa de voto à porta de casa – fazem parar o país, seja por tolerância de ponto do Presidente, que o povo chama de Zé Du, ou por receio do que possa acontecer. Um dia basta para levar às urnas os muitos milhões de eleitores angolanos, mas serão precisos vários para a divulgação de resultados, que deve acontecer lá para o final da próxima semana.

3 de setembro de 2008

Marlene, essa estranha mulher

A Marlene é a minha empregada.

A Marlene faz-me o pequeno-almoço, o almoço e o jantar.

A Marlene desmancha a minha cama e diz que “assim não fica bem, os lençóis têm que ficar esticados, para conseguir dormir bem”.

A Marlene muda as coisas de sítio, “porque as coisas têm que ficar onde no sítio delas”.

A Marlene dobra-me a roupa tudo, até a suja.

A Marlene canta enquanto trabalha.

A Marlene ralhou comigo, hoje de manhã, porque às sete e meia ainda estava de pijama.

A Marlene ralhou comigo porque deixei arrefecer as torradas.

A Marlene tomou banho e deixou as cuecas – vermelhas, de renda – na casa de banho.

A Marlene mandou-me esperar e, com um guardanapo, limpou-me uma ramela.

A Marlene é bem capaz de me dar umas palmadas se eu fizer asneira.

A Marlene foi à rua e por isso é que estou a escrever este texto.

Constatação angolana, a dois dias das eleições

Se é certo que devia estar a trabalhar desde as 9:00, não é menos verdade que não posso ir a lado nenhum. Os motoristas não apareceram. O Presidente deu tolerância de ponto.

2 de setembro de 2008

Uma bola

Numa terra onde é mais fácil comprar gasolina em bidões, vendida por miúdos, à beira da estrada, comprar uma bola de basquete seria, tendencialmente, uma tarefa difícil. Mas não. A primeira tentativa foi vitoriosa.

A ideia original: aproveitar o campo de jogos do condomínio onde estamos e mexer o corpinho, por estes dias já habituado aos estofos do Lexus.

Se aqui se paga 50 euros num restaurante médio, para comer sem sobremesa, quanto custaria uma bola? Não tanto, por certo, mas não tão pouco quanto menos de 5.

De facto, parece que o basquetebol é um desporto de eleição, o que torna a compra de acessórios mais fácil, numa cidade onde quase tudo está longe da vista, “perto do coração”.

Maya Cool

Pais Novo - Maya Cool

Um dos sons do momento recebe a assinatura de Maya Cool. A música "País Novo" transformou-se, rapidamente, numa espécie de novo hino do país, até porque define aquilo que Angola quer ser.

1 de setembro de 2008

A extensão

Viver em Angola, viver em África, implica ser-se capaz de abdicar de uma série de pequenos luxos a que estamos habituados, como ter transporte ali à mão (por enquanto, pelo menos). Não há transporte facilitado, nem fica tudo "ali ao lado". Demora-se duas horas a percorrer a cidade de uma ponta à outra, não porque seja grande, mas porque é confusa, caótica, se preferirem.

Ainda estranho estar dependente de um motorista para ir a qualquer lado. Ainda duvido que não seja normal sair depois do jantar para tomar café não longe de casa, mas hoje, ao fim de duas noites, acordei e já sabia onde estava.

Precisamos de extensões triplas. Missão razoável? Nem pensar! De facto, a simples intenção de ligar à corrente um candeeiro, longe da tomada, está sujeita à possibilidade de se arranjar, ou não, o dito cabo. Fez-se o pedido. Aguarda-se resposta.

Valha-nos ter o frigorifico cheio de comida. Isso e o calor, tão próprio. O ar, que se respira diferente. O cheiro, que se sente mais forte. A terra, que se apresenta mais vermelha.