Pega no cigarro com a ponta dos dedos, deixando-o arder. Com a mão
livre, num gesto propositadamente demorado, tanto quanto reflectivo, recolhe o açúcar caído sobre
a mesa, levando-o à boca. Afasta o pires chávena vazia do café.
Num dos poucos bares da cidade onde ainda se pode fumar o ambiente é soturno. Uma nuvem de fumo paira por cima dos presentes. As conversas de uns são abafadas pelas conversas dos outros.
Baixa a cabeça e finge procurar alguma coisa caída no chão. Pega na carteira que ainda tem no colo, pousando-a na cadeira vazia do lado esquerdo. Recosta-se, deixando o corpo afundar ligeiramente. Inspira, sustendo a respiração.
- O que eu queria era que tu me fodesses por trás.
À frase sentencial segue-se um silêncio que só não o é completamente porque a sala está no reboliço próprio das 18:30 de uma quinta-feira véspera de feriado.
- Tu sabes, é que eu gosto que me comam de quatro. Quanto a isso, nada a fazer. Que me agarrem o rabo com força, que me puxem os cabelos ou apertem as mamas, e que me façam gritar. Que me façam gritar muito, 'tás a ver?
De P., perante aquilo, nada a dizer. Sem pinta de sangue noutra parte do corpo que não a cara, procura, sem sucesso, as palavras certas para uma resposta, se não à altura, pelo menos de sobrevivência. Tudo o que não esperava daquele rendezvous era que lhe saísse uma ninfomaníaca despudorada, tão eloquente quanto detalhada na descrição dos seus voluptuosos e carnais prazeres.
- A cena é, não sou de compromissos. Ah, e não gosto à canzana. Vai ser assim: eu em baixo, tu em cima. Fazes o trabalhinho todo e eu ali a apreciar. - afirmara, minutos antes, ar maroto, afagando o peito, tomando-se cheio de razão, numa frase que D. assumira como de desafio, incitação ao seu lado mais libidinoso e, por ventura, desequilibrado.
Detesta homens com pelos púbicos e pichinho arqueado, mas o que a deixa fora de si, mais do que qualquer outra coisa terrena ou espiritual, são sacaninhas de jeito gingão. A esses pega-os pelo pescoço, deixando-os inspirar apenas - e não mais do que isso - o ar necessário para que se mantenham vivos.
Mortos não poderiam apreciar o espectáculo vindouro, a consumação da vergonha suprema e o deleite da vitória feminina sobre o eternamente flácido orgulho machão.
De P., perante aquilo, nada a dizer. Sem pinta de sangue noutra parte do corpo que não a cara, procura, sem sucesso, as palavras certas para uma resposta, se não à altura, pelo menos de sobrevivência. Tudo o que não esperava daquele rendezvous era que lhe saísse uma ninfomaníaca despudorada, tão eloquente quanto detalhada na descrição dos seus voluptuosos e carnais prazeres.
- A cena é, não sou de compromissos. Ah, e não gosto à canzana. Vai ser assim: eu em baixo, tu em cima. Fazes o trabalhinho todo e eu ali a apreciar. - afirmara, minutos antes, ar maroto, afagando o peito, tomando-se cheio de razão, numa frase que D. assumira como de desafio, incitação ao seu lado mais libidinoso e, por ventura, desequilibrado.
Detesta homens com pelos púbicos e pichinho arqueado, mas o que a deixa fora de si, mais do que qualquer outra coisa terrena ou espiritual, são sacaninhas de jeito gingão. A esses pega-os pelo pescoço, deixando-os inspirar apenas - e não mais do que isso - o ar necessário para que se mantenham vivos.
Mortos não poderiam apreciar o espectáculo vindouro, a consumação da vergonha suprema e o deleite da vitória feminina sobre o eternamente flácido orgulho machão.