A manifestação de sábado foi um sucesso. Um sucesso porque fez largos milhares de portugueses trocar uma tarde de centro comercial ou de passeio saloio por umas horas de luta e isso, para todos os efeitos, é uma história que merece ser contada.
Claro que se sucederam os comentários a tentar desvalorizar o que aconteceu em Lisboa, no Porto e um pouco por todo o país (até na Madeira, caramba). Faz parte. Faz parte haver quem até ache que está tudo mal, mas não esteja disposto a dar o corpo ao manifesto. Quem espere que o país melhore, mas prefira que sejam os outros a cuidar do seu descontentamento. Depois, enfim, há também aqueles para quem é bom que tudo fique como está.
Dos dois grupos, só o primeiro é que me chateia. Enfurece-me gente comodista. São esses, os que, sempre cheios de retórica, preferem ficar no passeio, a ver o cortejo passar, só para depois terem o que dizer ou escrever, que inspiram a classe política, os empresários e os gestores a fazerem de nós, comuns mortais, pouco mais do que lixo.
O povo tem uma força imensa. E o povo não precisa de mais conteúdo do que aquele que existe na vontade de mudar. O desejo da mudança é quanto baste. Para descer a avenida, não é preciso um programa de governo, uma política alternativa, um rumo definido. Basta a ambição de um país diferente. Desde quando cabe ao povo a missão de governar? O 'não quero mais disto' tem de bastar.
Não sair à rua é esconder o descontentamento. Argumentar que os manifestantes são incoerentes e inconsequentes, é ceifar-nos a capacidade - o direito e o dever - de sonhar.
Quando o povo se resigna, como muitos de nós nos resignámos, é a Nação que está em risco. Portugal é nosso. Se o queremos, temos que o resgatar. Precisamos de um novo rumo, precisamos de novos políticos e de novas políticas. Foi este o recado que deixámos dia 12.
Talvez ninguém faça caso disso. Talvez. Talvez devêssemos ser menos doutores e engenheiros. Talvez. Menos aristocratas, burgueses e armados em gente fina. Até seria bom se muitos tomassem banho mais vezes por semana.
O que eu sei é que, às vezes, lutarmos por nós próprios, individual ou colectivamente considerados, não tem mal nenhum. Pode até fazer muito bem. Se isso implica ler e ouvir o que talvez não devesse ter sido escrito ou dito, pois que assim seja. Haverá sempre quem não perceba que da diferença e da incoerência também podem nascer coisas boas.
4 comentários:
E agora estou de pé, a aplaudir :):)
É a primeira vez que aqui comento, embora leia assiduamente este blog. Desta vez tinha de aqui deixar qualquer coisa... Eu estive lá. E não tenho um trabalho precário, não sou da geração 500 euros e ainda assim, nem por isso estou mais feliz com o meu país e com o estado das "minhas pessoas". E só por isso, sem saber qual a alternativa, qual o rumo, qual a resposta, desci a avenida. Parabéns pelo post.
Na mouche.
Entrei aqui através de um link... apenas tenho a dizer: Bravo!
Cátia
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