25 de abril de 2011

Nós, a montanha e o mar

 « O sol das 11 horas é quente. O Hiace não vai cheio e no seu interior são quase todos turistas. A viagem desde o Porto Novo é rápida e inclui uma paragem, pouco antes da localidade de Janela, para uma curta sessão fotográfica. O cenário é perene e ergue-se imponente à vista de todos. A montanha e o mar. Ouve-se um "ah", seguido de um "uau", rematado com o definitivo "incroyable [incrível]", indício da eventual nacionalidade dos companheiros de viagem.
"Français? [francês]". "Oui [sim]". Raphael veste caqui. A aparência não ilude. Está ali para caminhar e se dúvidas restassem, o próprio cuida de as esclarecer rapidamente (...) »


Uma reportagem feita em Santo Antão, para ler no Marcha dos Pinguins - Trabalho, o nosso vizinho do lado.

A crise também somos nós

Se excluirmos o Benfica, tudo o resto que vai além da nossa vida individual ou familiar interessa-nos pouco. Se nem o nome do vizinho da frente sabemos, quanto mais preocuparmo-nos verdadeiramente com o estado do país. E preocupar não significa mandar umas bocas no café ou à volta do bebedouro no escritório. Preocupar é fazer parte. É manter uma participação cívica activa. 

Não será por acaso que, em todo o mundo, as democracias mais avançadas e aquelas em que os políticos mais respeitam a coisa pública e, por inerência, os cidadãos, são as mesmas que têm uma sociedade civil vibrante e integradora de vontades. 

Já escrevi muito sobre a nossa total inaptidão para uma vida em comunidade. Somos individualistas, invejosos e até cruéis para com o próximo. Passamos o ano a lutar por nós próprios (e ainda bem que o fazemos) e para isso abdicamos dos escrúpulos (o que já não tem tanto mérito assim). Depois, achamos que nos redimimos com um quilo de feijão na campanha do Banco Alimentar. 

Se fossemos mais cordiais, solidários e unidos (talvez conscientes e inteligentes), Portugal não estaria como está. Pois que venham os Deolinda ou os Homens da Luta. As manifestações e os "gosto disso" no Facebook. Que venha até o Fundo Monetário Internacional, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu. 

Em pouco mais de 30 anos, conseguimos ir por três vezes à bancarrota. E continuaremos a ser prodigiosos na arte de nos arruinarmos enquanto não metermos na cabeça que viver de esquemas, de manigâncias, berliques e berloques não é próprio de um país moderno. Se pudermos fugir aos fisco, fugimos. Se pudermos não passar factura, não passamos. Se der para não pagar IVA, não pagamos. Até com os corruptos somos condescendentes, especialmente se forem autarcas: "bem, o gajo rouba, mas ao menos...". 

Queremos estar empregados mas desde que não dê muito trabalho. O Estado não é pessoa de bem e  a administração pública existe para se alimentar a si própria. Os empresários não são empreendedores e os patrões preferem ser chefes a líderes. 

Falam-nos de flexibilidade laboral e comparam-nos à Alemanha, mas o que nos querem dizer é que somos tão importantes como um dos operários da fabrica chinesa em Yiwu especializada em falsificar produtos de marca.

Os que pululam em torno do poder não são piores ou melhores do qualquer um de nós. São apenas portugueses. Portugueses como nós.

Aquilo de que precisamos não é de 74, mas de 2011. Precisamos do Abril de agora, que nos traga um Abril em nós próprios. A revolução está feita. A ela só faltamos nós.

6 de abril de 2011

"O Blog do Desassossego" acabou hoje. Há pouco, antes de publicar o seu último post, a Diana explicou-me o que se passava e quis saber a minha opinião sobre a sua intenção.

Concordei com ela e fiz apenas uma exigência: "tens de acabar com um 'puta que pariu'". Lá está ele, no remate de meia década de memórias.  

A Internet é uma gigantesca base de dados, onde a informação se conserva, acessível a todos, até à eternidade. Temos um rasto difícil de apagar.

Um dos argumentos para o fim do Desassossego é-me muito caro. Como a Leididi, também eu passo o dia a escrever. Nem sempre foi assim. Quando esta Marcha começou, há quase cinco anos, trabalhava numa rádio. Entretanto, estive na televisão. Agora, vim parar a um jornal. Nunca escrevi tanto como agora, mas também nunca o meu blogue ficou tanto tempo esquecido. 

As palavras esgotam-se. As minhas, pelo menos. Não é que não tenha coisas para partilhar. O que me falta é a capacidade de as organizar em frases coerentes, capazes de resultar em algo de que não me envergonhe.

Não imaginam a quantidade de vezes que abro o blogger e fico longos minutos, com os dedos apostos, a olhar para o cursor. De vez em quando arrisco um parágrafo. Quase sempre, porém, desisto ao fim de duas linhas.

Os blogues pessoais estão a acabar. As pessoas encontraram outras formas de comunicação, mais rápidas e instantâneas. Continuamos cheios de desabafos, mas entretanto existem outros sítios - um em especial - onde nos dão atenção mais rapidamente. 

A lista de ligações aqui ao lado assinala cada vez menos actualizações, sinal de que a blogosfera se está a transformar num gigantesco cemitério de confissões. Nós, os que persistimos, somos pré-históricos.

Um dia, o Marcha dos Pinguins também vai acabar. Quando isso acontecer, escreverei o devido elogio fúnebre (porque quando morremos, somos todos bestiais). Algumas semanas depois, apagarei o que restar. Nunca se deve deixar um morto por enterrar. 

De alguma forma, a Diana inspirou-me a fazer isto. E por enquanto apetece-me continuar. Desculpem-me se não conseguir ser o que esperam de mim.