26 de maio de 2011

Indecisões

Tenho à minha frente o boletim de voto das legislativas. Por ser emigrante (ou imigrante, nunca sei bem) voto por correspondência e antecipadamente.

O papel tem mais de uma dezena de opções. Dos mais mediáticos aos mais exóticos, os partidos estão cá todos, com um quadrado à frente.

Sou um tipo de centro-esquerda e, ao longo dos anos, o meu voto foi sempre no mesmo sentido. Foi, porque acreditava - como continuo a acreditar - que é aí que está a melhor visão de sociedade e a forma mais sensata de nos organizarmos enquanto comunidade.

Felizmente, as ideologias e as doutrinas existem para lá dos partidos e das pessoas que os lideram. Se assim não fosse, com o boletim de voto na mão, estaria hoje ainda mais descrente.

Não sei em quem votar. Não quero votar em branco, porque ser cidadão exige comprometimento. Porque, no final, quando os votos forem contados, alguém terá sido escolhido. Eis-me perante um impasse.

Os nossos políticos são de uma mediocridade tal que chega a ser enternecedora. Qual é a probabilidade de uma nação conseguir juntar um grupo tão mau de gente e fazer desse conjunto de pessoas os responsáveis pelo governo de todas as outras?

Um bom político, um estadista, tem de ser superior. Um homem de inteligência rara, perspicaz e com uma grande capacidade de percepção da realidade. Alguém assertivo e determinado, mas humano e solidário.

O Portugal que eu quero tem protecção social para os que precisam. Um mercado de trabalho aberto e competitivo, mas em que a dignidade do trabalhador é prioritária. Tem saúde e ensino universais, igualitários e gratuitos. Tem um Estado presente e regulador, actuante em áreas vitais, mas que deixa as pessoas respirar, ao invés de as sufocar com impostos, taxas e burocracias. Um Portugal com portugueses orgulhosos do seu país, com uma sociedade civil activa, participativa e exigente. 

Sei bem o que quero, só não sei em quem votar.

25 de maio de 2011

Contradições

Sou inconstante e temperamental. Nada em mim é eterno e nada em mim resiste. O que hoje satisfaz, amanhã sabe a pouco. O que neste instante é bom, daqui a pouco será mediocre. 

Sou uma permanente incógnita. Desconfiado, desatento. Alerta, distante. Observador, abstraído. No detalhe, insisto ou desisto.

Os lugares maravilham-me ou entediam-me, as pessoas encantam-me ou saturam-me, as palavras  estimulam-me ou cansam-me. Mudo de casa, de emprego, de cidade e de país. Barba curta, barba mais comprida, sem barba. Cabelo assim, cabelo diferente. T-shirt, camisa. Calças, calções. Sapatos, ténis, chinelos.

Agora fala comigo, agora fica calado. Agora tudo bem? Agora merda para ti. Estou presente e ausente. Disponível e sem paciência. Começo e não acabo.

Sou democrata e ditador. Podes pensar como quiseres, desde que penses como eu. E já agora, penso à esquerda e à direita.

Povoam-me o imaginário figuras de todos os tamanhos. Tenho com elas diálogos imensos. Isolo-me na minha fantasia e confudo-me entre a multidão. 

Percebo-me muito bem e não me compreendo de todo. Tenho a certeza, hum, nem por isso. Pergunto, respondo. Afirmo, desminto. Prometo, não cumpro. Cumprimento, despeço-me.

Só sou constante na inconstância, convicto na dúvida e sempre no nada.

Sim, o blogue mudou. Voltou a mudar.

11 de maio de 2011

Teresa

Do teu nome completo, da tua data de nascimento. Do teu pouco jeito para a cozinha e do talento para os trabalhos manuais. De te acordar a horas impróprias e de nunca me negares uma boleia. Lembro-me de ti. 

De ter tirado a carta, comprado carro e teres reclamado por já não precisar que me fosses levar e buscar. De me pores de castigo uma única vez. De nos termos zangado muito a sério por coisa nenhuma e ficarmos à espera que alguém desse o primeiro passo.

Lembro-me de ti. Imperfeita, verdadeira, disponível, frontal, transparente, corajosa, orgulhosa, empenhada, lutadora, vencedora, amiga, companheira, mãe de muitos filhos que não eram teus e de uma que será para sempre tua.

Do telefone a tocar, da voz trémula do outro lado. Chorei-te e sorri-te.

A morte é uma despedida. Um "não sei bem se nos voltamos a ver". Em ti, a morte foi libertação. Por isso, abraço feliz a tua memória e o teu exemplo. O teu compromisso.

Talvez devesse ter telefonado mais: ia faze-lo nessa manhã. Talvez devesse ter chegado antes. Agora é tarde para arrependimentos. Foi como foi e como foi para sempre será.

Não sei se ainda me lês. Espero que não. Sempre te disse que era dispensável esse exercício de ler este tão pouco que tenho para dar. Não preciso que me leias. Não preciso que me escutes. Não preciso que me vejas. Não preciso de uma lápide para te recordar. Conjugamo-nos bem neste desencontro de espaços.

Não te esqueço - não tenho como te esquecer - mas quero que saibas que não preciso de ti. Fazes-me falta, mas sou maior do que a tua ausência. Sei que me preferes assim. Eu enorme comigo.

Chamo-te e não preciso que me respondas. Chamo-te hoje. Há um ano que não dizes nada. Olá Teresa. Olá, obrigado e adeus.