Tenho à minha frente o boletim de voto das legislativas. Por ser emigrante (ou imigrante, nunca sei bem) voto por correspondência e antecipadamente.
O papel tem mais de uma dezena de opções. Dos mais mediáticos aos mais exóticos, os partidos estão cá todos, com um quadrado à frente.
Sou um tipo de centro-esquerda e, ao longo dos anos, o meu voto foi sempre no mesmo sentido. Foi, porque acreditava - como continuo a acreditar - que é aí que está a melhor visão de sociedade e a forma mais sensata de nos organizarmos enquanto comunidade.
Felizmente, as ideologias e as doutrinas existem para lá dos partidos e das pessoas que os lideram. Se assim não fosse, com o boletim de voto na mão, estaria hoje ainda mais descrente.
Não sei em quem votar. Não quero votar em branco, porque ser cidadão exige comprometimento. Porque, no final, quando os votos forem contados, alguém terá sido escolhido. Eis-me perante um impasse.
Os nossos políticos são de uma mediocridade tal que chega a ser enternecedora. Qual é a probabilidade de uma nação conseguir juntar um grupo tão mau de gente e fazer desse conjunto de pessoas os responsáveis pelo governo de todas as outras?
Um bom político, um estadista, tem de ser superior. Um homem de inteligência rara, perspicaz e com uma grande capacidade de percepção da realidade. Alguém assertivo e determinado, mas humano e solidário.
O Portugal que eu quero tem protecção social para os que precisam. Um mercado de trabalho aberto e competitivo, mas em que a dignidade do trabalhador é prioritária. Tem saúde e ensino universais, igualitários e gratuitos. Tem um Estado presente e regulador, actuante em áreas vitais, mas que deixa as pessoas respirar, ao invés de as sufocar com impostos, taxas e burocracias. Um Portugal com portugueses orgulhosos do seu país, com uma sociedade civil activa, participativa e exigente.
Sei bem o que quero, só não sei em quem votar.