Prefiro pontos finais. As reticências não são para mim. Escrevo assim, definitivo. Ordeno as letras em palavras, estas em frases, das quais nascem parágrafos e textos. Insignificantes narrativas, iguais a esta e a estas que por aqui se preservam, ao abrigo do tempo, envelhecidas e descontextualizadas por ele, mas aqui, como em tantos outros lugares.
De muitos [deles, dos textos], perdi-lhes o sentido, a intenção. São retalhos de uma vida que, embora minha, sempre minha, inclusive se vivida por outro alguém que não eu, deixou de ter a lógica de outrora, permanecendo-me, porém.
Escolho terminar as frases, ao invés de as deixar abertas. Reticências são isso, continuidade, seguimento, abertura. Prefiro fechar. Preciso de encerrar. Ideias, momentos, sentimentos, contratos, projectos. Só resolvido serei capaz de continuar. Aprendi isso, entretanto.
Do período a que remonta a origem deste blogue sobra a incapacidade de antecipar ou aceitar a antecipação. Mas convenci-me de que só o definitivo satisfaz. Chegado o momento, o momento é esse. Não antes, não depois. Aquele, aquele ali. Agora de agora.
O ponto final é isso, o fim. Tanto como o novo parágrafo é o recomeço. Não se recomeça sem se ter acabado, só se acredita de novo, depois de ser ter desacreditado.
Escrevo para viver. Faço-o literalmente. Do produto da minha escrita, não esta mas a outra, resulta a matéria que me alimenta, que me veste e me transporta. Acontece que passei a última semana a questionar-me e a ser questionado sobre a forma como o faço. Sucessivas horas de dúvida, reflexão e crítica. Saí de mim e vi-me com tanto para aprender. Eu que sou, até com algum orgulho, um homem de pontos finais, percebi que há frases que se escrevem e que, julgando-se terminadas, ainda não chegaram ao fim. Essas frases somos nós.
2 comentários:
Por momentos temi que também a Marcha se fosse! Por favor, não. :)
Não pode haver nada de errado em questionar um pouco as nossas certezas, certo?
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