20 de setembro de 2007

Rotina

Quando saio de manhã, por esta altura do ano, ainda é de noite. Nos 100 metros entre a porta do prédio e o estacionamento, trajecto para demorar 20 segundos a percorrer, gosto de olhar as janelas iluminadas. São vulgarmente cozinhas e quartos de dormir. A luz branca adivinha leite morno e pão quente, ao passo que o estore a meio tom preconiza um sonolento vestir.

No primeiro andar, duas almofadas refrescam do suor nocturno dos seus ocupantes. Fronha branca, sempre.

Do lado de lá, uma senhora que passeia o cão. Sempre à mesma hora, no mesmo local. Veste um roupão branco e calça uns chinelos. As noites deve estar mais frias: passou o Verão todo a mostrar as pernas e hoje saiu à rua de pijama comprido.

Ao virar da esquina, o senhor do R/C, segurança, veste fato cinzento, gravata vermelha, entrincheirada em camisa branca. Põe a Renault a trabalhar enquanto espera mulher e filha.

Faço que digo bom dia ao cenário matinal. Afinal, são as primeiras pessoas acordadas que encontro às 6:45. Há tantos anos que acordo às seis, que deixei de ter sono. Menos, por certo, do que o sujeito mal vestido que espera o autocarro para Cacilhas, curvado sobre si mesmo, fisgando o que sobra do orvalho da noite.

Deles conheço o rosto, um ou dois hábitos e pouco mais. No essêncial, são meus vizinhos e é tão reconfortante sabe-los ali, como inquietante imaginar quebrada a rotina.

Faço a curva e entro na nacional. Daí em diante é estrada, urbanidade e pouco mais.

1 comentário:

Leididi disse...

Muito giro :)
Vês como escreves tão bem sem nojices?ahahah