Caros Marujos,
Ousei ontem utilizar o vosso serviço fluvial, nas ligações Cacilhas – Cais do Sodré e Belém – Cacilhas. Permitam-me breves notas.
Cartão 7 Colinas? Mas vocês estão parvos ou quê? A ideia, que é uma boa ideia, resultava em cheio se o cartão sequer funcionasse, o que não é o caso.
Primeiro, a máquina não o lê. Depois, um senhor de mau cheiro (sem olfacto, presumo), oferece “ajuda”, absolutamente inconsequente, claro (um homem que não cuida de si sabe lá cuidar dos outros). Ida à caixa, má disposição do funcionário – coitado, devia estar convencido que me prestava um grande favor, ao atender-me – e um barco perdido. Fico a saber que o malfadado cartão não vai funcionar (apesar de estar em perfeitas condições) e que, contas feitas, vou ter que pagar por um novo: “ah, se tivesse a factura deste, ainda lho trocava”.
Para já não é factura, é recibo e depois, senhores, eu agora guardo toda a espécie de lixo na carteira, meses a fio? Por acaso guardo, mas a minha onda é mais talões de desconto. Calculo que muitos dos vossos clientes tenham por hábito produzir bilhética contrafeita e que por isso o recibinho seja fundamental.
De regresso à Margem Sul, com a micose em sangue, que um rural não se dá bem com os ares da capital do império, um “eu já visto”: O cartão não funciona! Situação agravada pela total ausência de funcionário na estação de Belém, embora aqui eu compreenda: como só há barcos de hora a hora, porque não dar um giro pela frente ribeirinha? Fumar um cigarrinho, urinar (3 vezes), evacuar, enfim…
Meus queridos, a tecnologia tem um lado maravilhoso, mas quem olha para a idade dos vossos barcos percebe que vocês não foram feitos para ela. Por isso, desistam. Por vocês, por nós e pelo bem comum.
Pensando nos bons momentos que passámos juntos, despeço-me com afecto.
Um beijinho deste vosso admirador… doidões.
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