9 de setembro de 2010

Ordem de expulsão

Como emigrante (ou imigrante, consoante o ponto de vista) que sou, indignam-me comportamentos indignos como os de Sarkozy e do Governo francês contra os cidadãos de países estrangeiros, alguns até naturalizados.

Sejamos francos: de ciganos, ninguém gosta. E não há grande mal nisso, porque é justo não gostar de quem não gosta de nós. A integração de uma comunidade só acontece, por mais programas e políticas inclusivas, havendo vontade própria. Agora, usar uma minoria como arma de arremesso contra sondagens desfavoráveis e fazer da ciganada um argumento para ganhar votos é até um pouco repugnante.

Em Portugal, o ideal era corrermos, não só com os ciganos, como também com os pretos, os ucranianos, os chineses e os brasileiros. As brasileiras podiam ficar, porque têm fama de acrobatas na cama.

No essencial, somos tão intolerantes quanto grotescos e lidamos mal com a diferença. Do que gostamos é de conservar a linhagem, mas se calhar o nosso avô devia ter pensado nisso antes de ir para Angola fazer um filho à criada que tinha em casa.

Numa coisa somos muito parecidos com os franceses: eles e nós, estúpidos como poucos. O que nos distingue é que, agora, eles têm coragem de fazer aquilo que há tanto tempo desejamos.

Puro sangue, nos dias que correm, só os cavalos e apenas porque crescem em cativeiro. A mistura, a mestiçagem e o regabofe genético fazem parte da condição humana e a história já nos devia ter ensinado que selecções raciais dão sempre mau resultado.

O José Falcão, da SOS Racismo, disse-me certa vez que prefere os xenófobos e os racistas que dão a cara. Também eu. Pior do que um francês atrevido, só um português de falinhas mansas, como aqueles que - e nunca me vou esquecer disto - num inquérito que fiz no oitavo ano, me responderam que "racista? nem pensar", para logo a seguir garantirem que jamais beijariam alguém de outra cor.

4 comentários:

andorinhaavoaavoa disse...

Como emigrante que já fui, não compreendo a expulsão por si só. Acho que todos, seja qual seja a raça, tem o direito a procurar uma vida melhor. Não concordo é com a emigração desleixada, de um Portugal de portas abertas, a tudo o que dá à costa. Expulsem sim, quem não está legalizado e quem não pretende trabalhar, mas sim viver de subsídios e ajudas governamentais. Os ciganos são todos pobrezinhos, mas os luxos estão à vista de todos, menos de quem lhes dá dinheiro de mão beijada todos os meses. Quanto à mestiçagem, penso que é um fenómeno mundial e nunca conseguiremos, nem ansiamos, por uma pureza total.

Ana C. disse...

Pensei precisamente nisto quando o Sarkozy começou a sua razia. Que muita gente, bem no seu íntimo, devia estar a sorrir e a apoiar, enquanto por fora fazia a sua expressão mais indignada.
Sinceramente, não gosto de descriminação pela negativa, mas muitas vezes ainda me irrita mais a descriminação pela positiva. Andar em pezinhos de lã com os ciganos-sugadores-de-subsídios e outros parasitas amarelos, pretos, brancos, só para não se ser rotulado de xenófobo, ou racista mexe-me com o intestino delgado.

Amílcar Tavares disse...

Falou bem! Nada a acrescentar.

Alexandre Campos Silva disse...

PARTILHADISSIMO !

Não mereces, mas PRONTUS :)