10 de março de 2011

Estivesse em Portugal e iria à manifestação de Sábado. Iria porque sim. Porque qualquer protesto, qualquer acto que implique levantar o rabo do sofá, merece ser apoiado.

Incomodam-me sempre aqueles que, como Miguel Sousa Tavares - mas como tantos outros, feitas as contas - olham para a iniciativa do próximo fim-de-semana, não só com desdém mas também com sarcasmo e menosprezo.

Certo, o que se vai passar em Lisboa (e ao que parece noutras cidades do país), dificilmente será um 25 de Abril ou um 1º de Maio de 74, mas ainda assim, desvalorizar ou satirizar aqueles que decidem fazer uso do seu direito ao protesto e à indignação parece-me uma atitude muito saudável.

Portugal é o país do comentário. Português que o seja tem uma opinião formada sobre tudo. Aliás, basta vermos a capacidade incrível que os nossos comentadores de televisão têm para falar sobre todo e qualquer assunto (quase tão curioso como o facto de serem, quase todos eles, jornalistas). Comenta-se de mais e faz-se de menos. Claro, é mais fácil estar sentado, a gozar o prato e a aproveitar o palco mediático.

Li o que escreveram os organizadores do protesto de dia 12. Não há ali nada de novo. Falta até alguma coerência. Preferia que fosse diferente, mas então? Querem ver que os partidos têm feito melhor. As greves da CGTP contra "as políticas do governo" têm mais sumo, é isso?

Agora são - ou somos - os Deolindas. Os opinadores já rotularam esta massa de gente sem ideias e sem ambição. De facto, a geração que nos antecede está cheia de razão, querem ver. E que triste que é ver uma sociedade em que os mais velhos - amplamente responsáveis pelo nosso triste estado - ridicularizarem os mais novos (o contrário também é válido).
 
Todos, pela nossa apatia intrínseca, temos a nossa responsabilidade pelo lugar até onde trouxemos Portugal. Fizemos do nosso país um país amorfo, sem um rumo e sem motivação. Engaram-nos, deixámos que nos enganassem e gostámos de estar enganados. Domingo vamos acordar iguais. Na segunda teremos esquecido tudo e voltaremos à vidinha mundana e sem sentido em que nos tornámos doutores. Para recomeçar, é preciso dar o primeiro passo. Que seja assim, que seja Sábado, se não puder ser de outra forma.

9 comentários:

Melissa disse...

Que bom ler isto!

Ana C. disse...

Sim Nuno, infelizmente sim, somos precisamente assim.

gralha disse...

Eu também iria. E é preciso muito para me arrastarem para uma manif.

Amílcar Tavares disse...

Revisitando as recentes Presidencias (a maioria dos lusos reclama mas faz sempre a mesma escolha), podemos dizer com algum grau de certeza que essa manif será um exercício inútil. E a pirâmide de idades do país não ajuda, julgo.

andorinhaavoaavoa disse...

Eu não vou! Simplesmente porque penso que nada vai mudar! Posso ser incrédula, mas é isso que sinto!

Ricardo disse...

Andorinhavoavoa, a Manif. não teve como objectivo mudar nada. Não era a solução para todos os problemas do mundo. O objectivo era (apenas) demonstrar o descontentamento do povo. Pois quem ouve os nosso políticos, estamos todos muito bem...

Alda Couto disse...

Só li este agora. Gosto tanto de te ler mas fico sempre triste quando dizes que foram enganados. Dá um saltinho lá ao meu canto. Talvez percebas, se é que não sabes já, o porquê desse engano :)

Beijinho

Sílvia disse...

Nuno, sem duvida alguma que todos temos o direito à manifestação e à indignação e que sim senhor, se calhar foi por estarmos com o cuzinho alapado no sofá durante tantos anos, encostados aos títulos de Dr. e Engº, porque na altura até pingava, que trouxemos todos juntos o país ao ponto onde hoje se encontra, deixando não só a geração, mas todos nós, à rasca. Acho que sim! Temos que nos indignar pá! Mas é associando-nos aos 'Homens da Luta' e aos 'Deolindas', que na minha opinião não trazem nada de positivo nem acrescentam valor, que vamos fazer a mudança? Tudo bem, movem as multidões mas e depois? Pegam num megafone e debitam chavões do tempo do 25 Abril, camarada prá esquerda, camarada prá direita, rebeubéu pardais ao ninho e sei lá mais o quê mas vai-se a ver, isto tudo esmifradinho não se aproveita nada. Estamos em crise mas a crise vai muito para lá dos nossos bolsos. Estamos em crise de líderes, de Referências com "R" grande. Somos um país sem governo em todos os sentidos da expressão mas o mais grave nem é isto tudo que acabei de dizer, o mais grave é que não temos oposição de jeito que mude este país para melhor porque se tivéssemos aí sim, bastava-nos chegar à frente de uma mesa de voto, com a faca e o queijo que temos nas mãos, de seu nome Democracia, para com um simples gesto mudar o futuro deste país. Sadly, assim não é.

andorinhaavoaavoa disse...

Ricardo, nunca pensei os problemas do mundo estivessem em vias de solução! Mostrar o descontentamento do povo? Todos nós, todos os portugueses, sabem bem o descontentamento que nos une. Uns fingem não saber, outros fingem não ver. Eu simplesmente não perco tempo com passeatas! Posso ser demasiado egoísta, mas mais vale estar a fazer algo por mim e pelos outros, do que andar a gastar solas de sapato e ouvir canções ridículas do "descontentamento"!