Sou da geração a que se refere a música viral dos Deolinda. E embora seja daqueles que fez questão de a partilhar nas redes sociais, olho para ela com a desconfiança própria dos que já não têm esperança nenhuma em si próprios, individual e colectivamente considerados.
Ninguém me tira da ideia que o facto de "termos" escolhido como hino uma canção que, no fundo, nos descreve como uns sujeitos passivos, absolutamente confortáveis com a merda que nos rodeia, dá a nossa respeito uma imagem de seres amorfos que, revolucionários fossemos, quereríamos, isso sim, afastar.
Mas somos uns pacóvios, não é? Somos tão geneticamente conformados que aplaudimos de pé e entramos em histeria quando alguém canta "sou da geração sem remuneração e não me incomoda esta condição". Aplaudir é gostar, gostar é identificar-se e nós, ao que parece, identificamo-nos com quem nos revela quão parvos somos por termos a sorte de poder estagiar.
"Sou da geração casinha dos pais, se já tenho tudo, para quê querer mais?", perguntam-nos, com toda a propriedade. Os nossos pais (não os meus ou os vossos em particular, entenda-se) deram cabo disto. E nós agradecemos-lhes com uma vénia à estupidez.
A música dos Deolinda não é um incentivo à luta, à resistência, ao protesto. A canção da Ana Bacalhau (e haverá algo mais português que o bacalhau, mesmo que da Noruega?) é apenas a descrição exacta daqueles para quem ela canta. E "gostamos disso". Somos bobos e achamos piada.
Por isso, ao olhar para as reacções que se seguiram à divulgação na Internet dos vídeos manhosos, gravados em telemóvel, durante os concertos nos coliseus, fico ainda mais preocupado. Como se já não bastasse sermos moles, agora também somos burros. E pergunto-me, em que altura da caminhada para a vida adulta nos foi dito que não vale a pena ter juízo crítico sobre as coisas?
Na Tunísia, no Egipto, na Líbia, as pessoas saem à rua e reivindicam que os seus países lhes sejam devolvidos. Em Portugal, entretemo-nos a fazer revoluções nas caixas de comentários dos jornais on-line ou nos blogs, em textos como este.
Quando um dia formos nada e os nossos filhos nos perguntarem o que é que fizemos para mudar o nosso destino, o mais provável é que tenhamos vergonha de lhes responder. Aí, como agora, encolheremos os ombros e seguiremos caminho, fingindo que não se passa nada.
Somos fracos e temos o país e os políticos que merecemos, porque iguais a nós. Em dias como o de hoje, tenho muita pena disso. Tenho muita pena mesmo.
Ninguém me tira da ideia que o facto de "termos" escolhido como hino uma canção que, no fundo, nos descreve como uns sujeitos passivos, absolutamente confortáveis com a merda que nos rodeia, dá a nossa respeito uma imagem de seres amorfos que, revolucionários fossemos, quereríamos, isso sim, afastar.
Mas somos uns pacóvios, não é? Somos tão geneticamente conformados que aplaudimos de pé e entramos em histeria quando alguém canta "sou da geração sem remuneração e não me incomoda esta condição". Aplaudir é gostar, gostar é identificar-se e nós, ao que parece, identificamo-nos com quem nos revela quão parvos somos por termos a sorte de poder estagiar.
"Sou da geração casinha dos pais, se já tenho tudo, para quê querer mais?", perguntam-nos, com toda a propriedade. Os nossos pais (não os meus ou os vossos em particular, entenda-se) deram cabo disto. E nós agradecemos-lhes com uma vénia à estupidez.
A música dos Deolinda não é um incentivo à luta, à resistência, ao protesto. A canção da Ana Bacalhau (e haverá algo mais português que o bacalhau, mesmo que da Noruega?) é apenas a descrição exacta daqueles para quem ela canta. E "gostamos disso". Somos bobos e achamos piada.
Por isso, ao olhar para as reacções que se seguiram à divulgação na Internet dos vídeos manhosos, gravados em telemóvel, durante os concertos nos coliseus, fico ainda mais preocupado. Como se já não bastasse sermos moles, agora também somos burros. E pergunto-me, em que altura da caminhada para a vida adulta nos foi dito que não vale a pena ter juízo crítico sobre as coisas?
Na Tunísia, no Egipto, na Líbia, as pessoas saem à rua e reivindicam que os seus países lhes sejam devolvidos. Em Portugal, entretemo-nos a fazer revoluções nas caixas de comentários dos jornais on-line ou nos blogs, em textos como este.
Quando um dia formos nada e os nossos filhos nos perguntarem o que é que fizemos para mudar o nosso destino, o mais provável é que tenhamos vergonha de lhes responder. Aí, como agora, encolheremos os ombros e seguiremos caminho, fingindo que não se passa nada.
Somos fracos e temos o país e os políticos que merecemos, porque iguais a nós. Em dias como o de hoje, tenho muita pena disso. Tenho muita pena mesmo.
4 comentários:
A esta geração falta-lhe muita coisa. Estão conformados com tudo e não lutam por nada. Assim, nem com os canudos se salvam, quanto mais com canções de uma suposta "intervenção", que afinal não faz mais do que cantar os males de que todos se queixam!
Não conheço os Deolinda, ainda não ouvi as suas letras, mas sou da geração que, segundo as tuas palavras "deu cabo disto".
Não posso deixar de dizer que essa é uma visão bastante simplista "da coisa", que compreendo pela frustração que "escuto" nas tuas palavras. A minha geração, a dos teus pais, viveu tumultos e reviravoltas radicais e fez, com eles, o melhor que pôde e soube. Dizes bem quando te questionas sobre o que dirão "os vossos filhos", ou vocês a eles. Tem por certo que, seja o que for que vocês façam, ainda que nada, será por eles julgado e criticado. O que é um óptimo sinal já que, à minha geração e àquela antes de mim, a crítica esteve, durante grande parte das nossas vidas, vedada.
Até que enfim que alguém escreve aquilo que eu pensei ao ouvir a "famosa" canção. É exactamente isso! Porquê aplaudir e louvar uma canção que apenas é uma descrição de como esta geração é "conformada"? Não é uma canção de intervenção. É uma crítica pura e dura à dita geração. Geração essa que não o percebeu. Mais uma vez, virou a coisa, conformou-se e achou que é mais fácil alguém fazer as coisas por eles, alguém falar por eles. "Para quê querer mais?"
Exmo. Nuno Andrade,
Encontrei o seu blog através do "Café Margoso" que ando a seguir. Observei que tem artigos interessantes de ler, não só pela abrangência dos temas (já que aborda temas sobre Cabo Verde), mas também pelo jornalismo autêntico que apresenta e pela excelência da sua redação.
Logo, decidi seguir o blog.
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