As campanhas eleitorais são períodos especialmente ricos em episódios, instantâneos e casos. Habitualmente, os partidos e os candidatos endurecem o discurso e, à medida que se aproxima o dia das eleições, tendem a radicaliza-lo ainda mais. Nunca faltam revelações, contradições e manipulações. Como jornalista, gosto deste tipo de discussões.
Agora, aquilo de que eu gosto mesmo numa campanha é do papel a que algumas pessoas se prestam. Numa lista existem sempre várias categorias de pretendentes ao poder.
Primeiro, aqueles que lá estão por verdadeira convicção. Na sua maior parte, políticos com experiência e mais ou menos reputação (boa ou má, entenda-se). Quanto a esses, exceptuando os mais caricatos (pela aparência ou veemência do discurso), nada a dizer. Já todos os conhecemos.
Seguem-se os obrigados (mas não necessariamente forçados). Quanto mais partidarizada é uma sociedade, mais espécimes destes se encontram nas listas, especialmente do partido que está no poder. São gestores de empresas ou institutos públicos, gente da administração local ou do Estado. Enfim, pessoas que, com ou sem competência para os cargos que ocupam, não podem correr o risco de dizer que não a um "convite" do partido.
Jogam em duas frentes: em caso de nova vitória, garantem o tacho que ocupam (ou até, na loucura, uma promoção); se houver uma reviravolta, têm poiso assegurado num órgão de poder. Se não lhes conhecemos o rosto, podemos indentifica-los pela cara de tédio com que participam em qualquer actividade. Levantam a bandeira a contra-gosto, aplaudem sem convicção e olham ciclicamente para o relógio.
Finalmente, aqueles de quem mais gosto: os estreantes. Militantes ou "independentes" (também gostos muito de "independentes"), fazem a sua gloriosa estreia na vida política activa. A maior parte está num lugar não elegível e então passam quinze dias a desejar que aconteça alguma coisa aos colegas. Na ilusão, deliram. Quando sobem ao palco nos comícios acham-se logo figuras públicas. Enquanto os bêbados da primeira fila jogam piropos, eles dançam, pulam, improvisam coreografias e esperam, esperam com muita, muita força, que alguém repare neles. Se o presidente do partido estiver presente então aí ninguém os segura. E se por acaso alguém lhes pede para falar, ficam a instantes de um orgasmo. Apelam às suas origens humildes, recordam como, também eles, são do povo e como, no dia da sua eleição, vão fazer tudo, mas tudo, para trazer um bebedouro para a praceta onde, enquanto crianças, costumavam jogar ao berlinde.
1 comentário:
:):):):) Estás cada vez melhor :)
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