11 de maio de 2011

Teresa

Do teu nome completo, da tua data de nascimento. Do teu pouco jeito para a cozinha e do talento para os trabalhos manuais. De te acordar a horas impróprias e de nunca me negares uma boleia. Lembro-me de ti. 

De ter tirado a carta, comprado carro e teres reclamado por já não precisar que me fosses levar e buscar. De me pores de castigo uma única vez. De nos termos zangado muito a sério por coisa nenhuma e ficarmos à espera que alguém desse o primeiro passo.

Lembro-me de ti. Imperfeita, verdadeira, disponível, frontal, transparente, corajosa, orgulhosa, empenhada, lutadora, vencedora, amiga, companheira, mãe de muitos filhos que não eram teus e de uma que será para sempre tua.

Do telefone a tocar, da voz trémula do outro lado. Chorei-te e sorri-te.

A morte é uma despedida. Um "não sei bem se nos voltamos a ver". Em ti, a morte foi libertação. Por isso, abraço feliz a tua memória e o teu exemplo. O teu compromisso.

Talvez devesse ter telefonado mais: ia faze-lo nessa manhã. Talvez devesse ter chegado antes. Agora é tarde para arrependimentos. Foi como foi e como foi para sempre será.

Não sei se ainda me lês. Espero que não. Sempre te disse que era dispensável esse exercício de ler este tão pouco que tenho para dar. Não preciso que me leias. Não preciso que me escutes. Não preciso que me vejas. Não preciso de uma lápide para te recordar. Conjugamo-nos bem neste desencontro de espaços.

Não te esqueço - não tenho como te esquecer - mas quero que saibas que não preciso de ti. Fazes-me falta, mas sou maior do que a tua ausência. Sei que me preferes assim. Eu enorme comigo.

Chamo-te e não preciso que me respondas. Chamo-te hoje. Há um ano que não dizes nada. Olá Teresa. Olá, obrigado e adeus. 

4 comentários:

Melissa disse...

Lindo, Nuno.
Quem me dera.

Alda Couto disse...

Apetece-me dizer qualquer coisa. Preciso de dizer qualquer coisa porque custa ficar quieta e calada perante um texto tão simples e tão...belo? sim - belo. Estou assim dividida entre o peso do conteúdo e a leveza do texto. Provavelmente é aí que está a beleza :)
Bjs

Anónimo disse...

Bonito Nuno, mesmo sem nome, dava para ver quem é-era.
És um sortudo por a teres na tua via, é uma grande mulher, desejo mesmo que com ela sejas enorme, ainda mais...
Um abraço
Guida

Lucy Fields disse...

huum, grande mudança de design no blog... lindo texto!