No último texto deixei implícito o meu habitual sentido de voto. Deixei também aberta a minha opção para as legislativas de domingo. Entretanto, alguns dias depois, já resolvi o problema. Escolhi um pequeno partido. Fi-lo por simpatia pessoal para com o seu líder.
Não estou absolutamente convencido da minha decisão, mas exercer a cidadania também é isto: aceitar o risco e assumir as consequências das nossas escolhas.
A verdade é que a maioria dos partidos que, fora da esfera parlamentar, se apresentam às eleições de dia 5 não são mais do que folclore. Qualquer instituição, maior ou menor, política ou não, se quer ser respeitada, tem de se dar ao respeito. Criatividade e originalidade não são sinónimos de imbecilidade.
Contudo, existem excepções ao senso comum. Grupos de pessoas que, reunidos em torno de um projecto, defendem valores em que acreditam. Talvez não tenham uma visão global da sociedade e pequem por reduzir tudo a duas ou três bandeiras que agitam até à exaustão, mas esses colectivos desempenham um papel fundamental na sociedade.
Como se uma ameaça ao status quo que comentadores e jornalistas percebem e sobre o qual tanto racionalizam, os pequenos partidos são constantemente relegados para um plano secundário. O que dizem, ignorado. O que fazem, esquecido.
O diferente deve ser tratado de forma diferente. Não concordo com quotas (em nenhuma situação) e sei que a informação séria não se faz de calculadora na mão. Quem produz mais matéria informativa deve ser objecto de maior cobertura mediática.
Agora, afastar uma força política - aceite como candidata a um acto eleitoral - dos alinhamentos dos telejornais, das páginas da imprensa e dos noticiários das rádios é transformar a democracia em mero critério jornalístico.
Um critério no qual só cabem aqueles que já chegaram ao poder. Aqueles de quem tanto nos queixamos e repetidamente diabolizamos. "Os mesmos de sempre".
Falemos de debates. Este ano, como em situações anteriores, fizeram-se frente-a-frentes entre os líderes dos "principais partidos". Depois, a RTP juntou todos os outros e abriu a temporada circense com um espectáculo triste de ser visto. Perante aquilo, da parte, o público terá feito o todo.
As providências cautelares que determinaram a realização de debates, envolvendo PCTP/MRPP e MEP com todos os outros partidos dispostos a participar, expôs a forma ridícula e amadora como colectivamente (a nossa justiça é o espelho do que somos enquanto comunidade) lidamos com o pluralismo, com a diversidade e com a divergência.
Claro que é um disparate o espectáculo a que hoje assistimos, com o presidente do Movimento Esperança Portugal a debater, em simultâneo e em três canais diferentes, com outros tantos interlocutores. Mas poderemos nós censura-lo por reivindicar um direito que lhe está consagrado?
Se o comodismo não for demasiado forte, e se as televisões tiraram alguma lição do episódio recente, quando voltarmos a votos, terão encontrado um novo modelo que, servindo a democracia e não as suas próprias agendas, permita a todos os candidatos expor qualidades e fragilidades, tendo muito, pouco ou nada para dizer.
O país não pode ser escolha do editor.
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