10 de junho de 2011

Português de primeira

No fundo, sou um patriota. Um daqueles com nível, claro. Não preciso de bandeirinhas, nem do Graciano Saga. O Tony basta-me.

Apesar de me irritar com tanta coisa que se passa em Portugal, e apesar de dele estar longe há alguns anos, continuo a arrepiar-me sempre que escuto o hino nacional e emocionar-me quando... bem, na realidade não me emociono com nada. 

Quando estamos longe do nosso país, as coisas ganham outra dimensão. Sem merdas, a feijoada é mais saborosa, os pasteis de nata mais importantes e o Benfica ainda maior.

Uma vez que continuo a ser em Cabo Verde o miserável que era em Portugal, até me abstenho daqueles comentários depreciativos de quem vive fora e regressa à terra Natal uma vez por ano. Não só não tenho um BMW, como, porra, ando quase sempre a pé ou de autocarro.

Gosto de feriados, das datas que eles representam. Escolho três: 25 de Abril, 10 de Junho e 5 de Outubro. A liberdade, Portugal e a república. Também escolhia o Natal, mas isso seria pelas azevias de grão.

Tenho pena de em nenhum dia do ano celebrarmos com o fervor do 4 de Julho norte-americano. Um pouco de nacionalismo bacoco, não sabem o bem que nos fazia. 

Gostamos pouco do nosso país e daí advêm grande parte dos nossos problemas. Quem ama cuida. A mãe pátria mais parece a nossa sogra. 

Não queremos saber e deixamos andar. Irra, desde que não nos venham ao bolso, está tudo bem. Fodam lá essa merda toda. 

Somos pitorescos por isso. Arranjamos heróis onde outros encontrariam cabrões. O Afonso bateu na mãe, o Sebastião borrou-se, o Scolari é brasileiro, e o Sócrates andou seis anos (eis anos e ninguém deu por nada?) a dar cabo do que restava e agora vai para Paris ,estudar filosofia, presumo que aos domingos.

Tenho-o escrito e continuarei a faze-lo: o país que temos é o povo que somos. Seremos mais, quando quisermos mais. Seremos melhores, quando ambicionarmos melhor. Até lá, por aqui estaremos, nós mesmos, só como nós. 

Hoje, aqui, trabalha-se. Vou vestir as cuecas de duas cores, com tanto de verde esperança, como de vermelho sangue. Se encontrar com o que faze-lo, talvez até corte as unhas. À noite, vou ao jantar da embaixada (não se preocupem, o Estado não me está a dar nada, pago 13 euros do meu bolso) e prometo comer que nem um alarve, até não me caber mais nada no bucho. Se ficar até ao fim, ainda peço que me ponham os restos numa caixinha.

Não me levem a mal, sou um português de primeira. Assim fraquinho, igual a vocês.


6 comentários:

Alda Couto disse...

:):):) Bom apetite.

gralha disse...

Muito bom, Nuno :)

andorinhaavoaavoa disse...

Podes ser fraquinho como todos nós, com merdas e coisas dessas, mas continuas a ser TUGA! E a escrever muito bem!! :)

andorinhaavoaavoa disse...

Com merdas e sem elas, continuas a ser um Tuga! E a escrever bem!

andorinhaavoaavoa disse...

Com merdas e sem elas, continuas a ser um Tuga! E a escrever bem!

andorinhaavoaavoa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.