24 de maio de 2007

Carta Aberta ao Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações

Seixal, 24 de Maio de 2007


Exmo Senhor,

Ouvi, com surpresa e alegria, as suas declarações relativas à eventual construção do novo aeroporto a Sul do rio Tejo. Os sentimentos que experimentei devem-se, fundamentalmente, à novidade que constituiu para mim o facto Vossa Ex.a saber que há país entre a avenida da Ponte 25 de Abril e a Via do Infante. Sim, porque deserto, mas terra de alguém.

Senhor Ministro, não sei ao certo se tem noção de como é um dia no deserto, mas para ter uma ideia é mais ou menos como um dia num órgão de soberania: uma pasmaceira, percebe? Perdemos muito tempo à procura de água, alimentação e passatempo. Quando damos conta, fruto das horas passadas ao sol, estamos com um escaldão. Acontece que, como na “margem Sul não há hospitais”, citando-o, acabamos todos esturricados.

Por acaso, não sei se sabe (ontem não me pareceu uma pessoa muito informada), os Presidentes de algumas das Câmaras Municipais do Império do Sul têm tentado explicar o porquê da necessidade de construção de um novo hospital, para lá do de Almada. É que, sabe, somos poucos (apesar de sermos quase 1 milhão), vivemos em tendas montadas nas dunas, mas também adoecemos. Coisas de camelos.

Camelos, sim. Repare: Se isto é um deserto e não mora cá ninguém, então somos camelos. Entre amigos tratamo-nos como ‘Os Areias’. Não queira o Senhor Ministro saber o que lhe chamamos desde ontem.

Exmo, o senhor que é, como disse quando gozou com o seu chefe, “um engenheiro inscrito na Ordem” deveria saber que prédios, estradas, rotundas (e são tantas), enfim, obras de engenharia, não são competência dos drumedários que povoam este imenso e desértico território.
Sabe, a pensar em si, figura por quem tenho o maior apreço, eu não queria o aeroporto deste lado. Imagine como seria, nas suas idas a Bruxelas, onde defende os interesses do Norte do Tejo, porque a Sul não há nada a não ser areia e ventania, ter que cruzar quilómetros e quilómetros, integrado numa expedição de Land Rovers. Afinal, essa seria a única forma de chegar à infra-estrutura que o senhor tanto insiste em edificar na Ota (nome que se proporciona a um curioso trocadilho com uma palavra que rima com canário).

Engenheiro Mário Lino, Ministro das Obras Publicas, Transportes e Comunicações de Portugal, do deserto e do Algarve, queria-lhe pedir a devolução da totalidade dos impostos que dei ao Estado na minha carreira contributiva, bem como do dinheiro que ofereci à segurança social para pagar as reformas de alguns dos seus colegas governantes. Convenhamos, camelo que o é, não paga impostos, nem tem apoio social.
Já agora, peça ao seu colega Silva (o Jaime, que é Ministro da Agricultura), que mande mais veterinários. Anda para aí uma praga de pulgas dificil de suportar.



Respeitosamente,





PS – Diga-me: Se não há hospitais, escolas e por aí, de quem é a culpa? Não cabe ao Governo promover o desenvolvimento do país, através da construção de, digamos, Obras Públicas, ou pela criação de condições que favoreçam a iniciativa privada?

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