24 de dezembro de 2009

Iniciação ao crime fiscal

Era eu e sete mulheres. Arredámos as mesas e estávamos sentados numa roda imperfeita, a falar sobre a vida. Sobre a vida delas, muito mais do que sobre a minha. Não lhes perguntei como é que ali foram parar, mas elas, uma após a outra, contaram-me, quase com detalhe, o enredo que as fez ter as paredes cor-de-rosa do pavilhão dois como confidente. As 'estórias' são muitas, mas a história é só uma: todas fizeram merda em algum momento da vida.

Furtos e tráfico de droga. No essencial é isto.

Mais tarde chegou ao grupo uma outra mulher. Talvez 50 anos. Apresentou-se (ou apresentaram-na, já não me recordo). Jurista. Fez merda, como as outras. Roubou euros, só que com muitos zeros. Uma coisa em grande, portanto.

Não falou (ou voltou a falar) durante o encontro. Terminámos a reunião e marcámos encontro para daí por quinze dias. “Tragam ideias”. Estava dado o mote.

A jurista chamou-me. Tinha uma ideia. Sentou-se comigo numa mesa à parte e falou. Horas a fio. Contou-me o que queria contar, o que devia contar e o que era preferivel ter guardado para si. Despudoradamente, revelou as suas mais epopeicas façanhas no mundo do crime. Esquemas e mentiras, todas ali, reveladas ao pormenor, não fosse eu querer fazer igual.

Durante o fim de tarde e até ao toque para a contagem, fui aluno de um curso rápido de iniciação ao crime fiscal. No final, num último suspiro, já de pé, a caminho da porta da biblioteca, virou-se para trás e acrescentou: “Não imagina como estou arrependida do que andei a fazer. Felizmente, tenho muito tempo para pensar no assunto”.

Naquela tarde aprendi duas coisas: a) É muito fácil enganar o Estado; b) Nunca é tarde para recomeçar.

Recomecem agora, se for caso disso. Boas Festas.

1 comentário:

Sereia disse...

Boas Festas...pelo corpo todo!!! :)
Beijo