18 de junho de 2008

Crónica: prostitutas

Há algum tempo que deixei de fazer fretes, mas os amigos emigrantes tendem a comover-me. a Revista Vida Lusa, em França, é feita pela comunidade portuguesa em Paris. Aqui há uns anos, foi um dos primeiros sítios a publicar um texto meu e, depois do pedido feito pelo novo editor, não pude dizer que não.

Acontece que, desses tempos idos, sobra muito pouco. Principalmente ao nível da noção do real. Escrevi uma crónica sobre a minha relação com prostitutas. Como não tenho certezas sobre a sua publicação, avanço-a aqui, em estreia mundial. Tudo por vocês, caros leitores.


Das prostitutas

Volto hoje às crónicas na Vida Lusa. Aqui há uns anos publiquei, nestas páginas, uns quantos artigos dos quais obtive um bom retorno.

É curiosa esta coisa do jornalismo. Meti-me na vida aos 17 anos, o tempo foi passando e por cá contínuo. Não é grande coisa, mas antes isto que prostituir-me. Tenho a convicção que alguma da minha família não partilha deste meu entusiasmo, mas estou certo que também eles preferem que eu não tenha que vende o corpo para pagar a prestação do carro.

Esta conversa vem a propósito do tema que escolhi para retomar a minha colaboração (regular?) com a revista. Aqui em Portugal, de onde escrevo estas linhas, há um hábito que cultivo: ler jornais. Como profissional da comunicação interessam-me particularmente algumas secções. Entre elas, as que permitem desmontar a malha social que nos rodeia – o mundo é mesmo um lugar estranho. Não dispenso um olhar atento ao caderno de classificados e às meninas que nele se anunciam.

Nunca fiz uso dos seus préstimos, embora algumas tenham o condor de me tentar – e desde já quero deixar muito claro que não é grande mérito tentar um tipo como eu, a quem qualquer rabo empinado ou busto destacado é quanto basta para despertar o pardalinho que trago sempre comigo.

Ora, acontece que eu sou particularmente expansivo, quando rodeado por “gente da nossa”. Foi num desses momentos de expansão que aconteceu uma das minhas mais recentes humilhações públicas (e reparem como seria adequado o editor esquecer-se de publicar a letra ‘l’ da palavra “públicas”). De Correio da Manhã em punho (o punho, o punho…), folheando o destacável do despudor, começo a ler, alto e bom som - que a divindade brindou-me com uma voz poderosa - sobre o potencial de todas aquelas senhoras de elevada posição moral. Admiro o facto de ter tanta mulher ali, pronta a servir-me sem pudor.

Retomando uma ideia que defendi no começo da crónica, não tenho qualquer hábito de pagar para renovar o stock, mas porque Lisboa é um meio pequeno, toda a gente se conhece e no exacto momento em que me concentro num certo anúncio, a sua protagonista entra no café onde estava sentado.

Considero humanamente impossível que ela não tenha ouvido. Quando dei conta da visita, a leitura ia num estado avançado.

Do episódio tirei duas lições. A primeira é que tenho que falar mais baixo. A segunda, bem mais interessante, é que a safada tem uma “boca marota”.

Sou muito ingénuo e por isso não sei o que é que uma “boca marota” faz e onde o faz. Mas também sou jornalista, pelo que não posso deixar a curiosidade tomar conta de mim. Confidenciaram-me que a curiosidade custa 25 euros e estou certo que os pagarei de bom grado, ainda que numa perspectiva meramente profissional, claro.

1 comentário:

gralha disse...

GOSTEI!

(e quem tem manda ler o Correio da Manhã?? Há limites)