21 de julho de 2008

Da mocidade*


Quando miúdo, os meus heróis eram o He-Man, o Justiceiro e o BA, do A Team. Agora, enterrados os defensores da lei e da verdade, a ‘criançada’ ficciona, não com um imaginário fantástico, de gente com poderes únicos ou acessórios fantásticos, mas com sujeitos que representam uma espécie de mito urbano, como se os sonhos dos mais novos coubessem todos num personagem de série juvenil.

Não sei se sabem quem é a Hannah Montana. Permitam-me, pois, apresenta-la (e obrigado Wikipedia).

Hannah tem 14 anos, acaba de chegar a Malibu. Juntamente com os seus melhores amigos, Lilly e Oliver, vive todo o tipo de aventuras na escola, nomeadamente, o esforço para impressionar o rapaz de quem gosta. Apesar dos seus colegas não o saberem, ela é também uma famosa cantora, o que a faz viver uma vida de sonho, com muito glamour.

Acontece que a jovem veio agora dizer, na vida real, que «eu creio que não ter relações sexuais é uma obrigação». Está parva, só pode. Ou então tinha o pai ao lado.

Primeiro, porque toda a gente sabe que não há adolescente de 14 anos que conserve pureza intelectual, que lhe permita dizer, sem estar debaixo do efeito de uma substância estupefaciente, que ser virgem é que é fixe. Depois, a Britney também garantia o mesmo e agora é só ver no que deu tanta virgindade. É por isso que gosto de ver os Morangos com Açúcar, onde a sexualidade, as drogas e a desgraça se misturam, no espelho partido do que é a vida dos queques da linha. Imaculadas como a Hannah só me fazem rir.

Recordo-me, com exactidão, do meu tempo de adolescente. Das conversas com o Rui e com o André (credo, Rui, estás tão bimbo, homem). Lembro-me, na perfeição, de quando encontrámos as revistas porno ao pé da escola. Que grande tesouro, aquele (e tão gastas que ficaram as suas 60 páginas).

A revistas, quase tão preciosas quanto o primeiro pelo púbico, sinal de maturidade e masculinidade. A mim aconteceu a arbitrariedade de, ao primeiro, terem vindo muitos menos do que eu esperava e desejava. O meu “amacacamento” não foi além de um tufo ligeiro, de perímetro limitado e personalidade pouco assertiva. Pelos no peito, nem vê-los. Nas axilas, loiros. Nas pernas, sem intensidade.

E perguntam vocês: oh Nuno e “aquilo”? Feliz ou infelizmente, não se proporcionou fazermos “aquilo” em grupo, mas relatávamos uns aos outros como é que era. O André, mais detalhado, chegava a cronometrar o tempo entre o começo e o fim… do jogo de Elifoot.

O Rui tirava-lhe as medidas, mas já deixei entender que o rapaz era, de todos nós, o mais infeliz. Sei que o meu era o “Senhor Imponente” – os balneários, senhores, os balneários – embora, dado o termo de comparação, não tenha grandes motivos de orgulho.

No nosso tempo não havia Hannah Montana, mas existisse ela e, com toda a certeza, imaginaríamos fazer-lhe o mesmo que pensámos fazer à Cindy Crawford. Agora, sonhar com heroínas virgens e angelicais? Poupem-me. Para isso há a catequese.


* para a revista Vida Lusa - França - de Agosto

2 comentários:

gralha disse...

Olha que na minha catequese não falo dessas coisas! (já sabias que te ia cair em cima, não sabias?)

Mas também não dou exemplos como a Hannah Montana, credo. Para exemplo, basta-lhes moi même :P

Paula disse...

Berm, os meus heróis eram o He-man, a Sheera, o Justiceiro, o Macgyver e muitos outros. E como eu os adorava!
Creio que cada geração tem os seus heróis e os seus ícones mas, muito sinceramente, é como tu dizes:mais vale "ver os Morangos com Açúcar, onde a sexualidade, as drogas e a desgraça se misturam, no espelho partido do que é a vida dos queques da linha. Imaculadas como a Hannah só me fazem rir."
Achoq que nenhum ser humano que já teve 14 anos, gostava de ser conhecido como a/o totó da escola.
:)
Bjs!