23 de janeiro de 2009

De como pedi dinheiro a um agente da autoridade

Ainda a propósito dos documentos perdidos - e entretanto encontrados - escapou-me uma informação importante. Apesar de não ter como me identificar, a verdade é que achei que o mais prudente seria mesmo dirigir-me à esquadra mais próxima (a não mais de 500 metros da televisão) e apresentar queixa. Se o pensei, melhor o fiz. 
Na esquadra de Talatona - a zona mais chique de Luanda, uma espécie de Belas Clube de Campo - sou recebido por um senhor agente da autoridade que me leva para uma sala. Convida-me a sentar, o que faço com satisfação. 
O banco, corrido, de madeira, está ligeiramente tombado, parece-me, mas logo percebo que não. Afinal, torta está a mesa, que só tem pernas de um dos lados, pelo que do outro está encostada à parede, desafiando toda a lógica.
Faço a participação, colocando nela toda a minha alma. Procuro não me esquecer de nada importante que estivesse dentro da mala e quando concluo o detalhe apercebo-me do jogo de cores que o agente usou para redigir a participação. Sou, contudo, informado da total inutilidade da meia hora passada. Afinal, na segunda-feira (sim, porque só nos dias de semana se fazem participações) teria que ir ao comando central preencher alguns formulários e apelar à compreensão do senhor comandante.
À saída - recordem-se que referi anteriormente que o episódio me havia causado um avultado prejuizo e que, por conta dele, vi-me sem qualquer forma de acesso às contas bancárias - uma mulher de farda chama-me e pede-me, aqui está a cereja no topo do bolo, "alguma coisa para comprar refrigerantes no fim-de-semana".
Com a minha habitual simpatia - sou mesmo simpático, não é ironia - respondi que não tinha - e acrescentei que "se os senhores tiverem alguma coisa para mim, eu agradeço".

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