Depois de um dia cansativo, chegado a casa, para lá das dez da noite, sentei-me no sofá a comer noodles e a ver o Pontos de Vista, na RTPN.
A meio do debate, enquanto os representantes dos partidos dissecavam a Lei da Rolha - não sei qual é o espanto, ou não existisse, desde há muito, em todos os partidos parlamentares, aquela coisa chamada de disciplina partidária - diz-me a mulher com quem partilho os meus dias, até então sentada e enfastiada, a um metro de distância: "no teu país passam a vida a debater tudo e mais alguma coisa, arre, que dá asco".
Bem, talvez não tenha sido exactamente assim, mas no essencial foi isto. Precisei apenas de 20 segundos para engolir o orgulho patriótico e lhe dar razão. De facto, no meu país, toda a gente debate sobre todas as coisas. Debate-se muito. Só.
Não faço ideia - e não me vou dar ao trabalho de contar - quantos programas de análise política, desportiva, económica e social é que existem nas televisões portuguesas. São muitos, de certeza. Fazer informação de baixo custo tem este preço. A dada altura, todos os canais generalistas acharam que era um imperativo moral ter um canal de informação. À falta de orçamento, usam do método fácil: mesas redondas, entrevistas, gente em estúdio a falar durante uma hora, quase sempre sobre os mesmo temas - Portugal nem sequer é um país onde aconteçam coisas muito interessantes - só que em horários e sob nomes diferentes.
Enfim, no país onde até o Pacheco Pereira tem um programa só dele, tudo é possível, claro. Mas soubessemos nós canalizar tanta capacidade de análise para acções concretas e teríamos um país bem melhor. Ou isso ou murros, que cenas de pancadaria também ficam bem em qualquer democracia.
2 comentários:
:):):) Bem dito :):)
Como diz o outro... Falam, falam, falam e não dizem nada! Isso é que era! Wrestling parlamentar num canal e luta livre ideológica no outro! Rendia audiências e divertia-nos!
Enviar um comentário