11 de junho de 2007

A vida ao telefone

Então e aquelas pessoas que, ao telefone, contam todas as maleitas de que padecem?

- Então o número de telefone é o XX XXX XX XX - digo, com a voz mais simpática que consigo produzir, o que equivale a dizer que falei num tom anitpático q.b.

- Só um bocadinho, por favor, é que eu tremo muito da mão direita, apesar de ser canhota. Já fui ao médico e tudo mas ele diz que não sabe do que é. Eu tenho para mim que talvez seja porque eu sou uma pessoa muito nervosa. Enervo-me por tudo e por nada. Ele bem me diz para ter cuidado, para me desligar das coisas, mas eu não consigo. Sou muito atenta. Sempre fui. Já em 1973 estava atenta quando ouvi o meu marido grunhir que nem um porco no momento em que, sem querer, lhe enfiei o dedo no... você imagina onde.

O meu marido era um senhor muito bom, um bocado cabrão, com um cheiro terrivel e um mau feitio que só ele, mas ainda assim, um homem muito bom. Tirando as surras que me dava, claro. Uma vez espancou-me tanto que a seguir aproveitei e fiz uma cabidela comigo mesma. Um senhor muito bondoso.

Já o meu pai não era nada assim. O raio do velho borrava as cuecas de tal maneira, que a minha mãe, coitadinha, passava um mau bocado a esfrega-las no tanque. Que Deus o tenha, que também era filho de Deus, apesar dos peidos.

Eu tremo muito, tremo.

Se não se importa repita o número para eu ver se anotei correctamente.


- XX XXX XX XX


- Ah, desculpe, só mais uma vez. Sabe, eu vejo muito mal e então com números é terrivel. Fiquei assim desde aquela vez em Paço de Arcos. Estava a olhar para um moçambicano que passeava sem roupa pelo jardim junto à Igreja...

- Desculpe - digo, interrompendo a afoita senhora - já tem o número, não tem? É que tenho muito trabalho (disse, pensando que ainda não tinha actualizado o blog) e não posso ficar aqui a ouvir a sua vida.

- Ah, sim, mas não precisa de ser mal educado.



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