30 de agosto de 2009

Um ano disto (revisto)

Há um ano por esta hora (são 11:20) estava eu às voltas na minha nova casa a tentar perceber o porquê de não ter água quente. O meu quarto cheirava a mofo, não tinha cabides no guarda-fatos, nem gavetas onde guardar as coisas. À data, andava longe de imaginar a importância que a água, quente ou fria, teria na minha vida.

São 365 dias de poeira, engarrafamento e surpresas, boas e más. De ensinamentos e aprendizagens. Cinquenta e duas semanas de novos protagonistas. Doze meses de partidas e chegadas, de ilusões e desilusões, alegrias e tristezas, entusiasmos e frustrações.

Um ano de Angola foi também um ano sem lugares comuns. Para o bem e para o mal, quase tudo foi novidade.

Entre relatos emocionados e desabafos entristecidos, fiz novos amigos e já perdi uns quantos. Também perdi peso e voltei a ganhar parte dele. Ri, chorei e voltei a rir, desta vez de mim próprio. Agradeci a oportunidade e arrependi-me de a ter aceitado. Apaixonei-me, detestei-me por isso e orgulhei-me por ter insistido. Perdi-me em musseques, fiquei sem gasolina no meio da estrada e com o carro avariado no puro gueto. Exagerei nas misturas e os meus intestinos cobraram-me a ousadia. Comi funge, calulu, peixe seco, maboques, múcua e kisangua. Bebi maruvu e rebentei uma garrafa no colo. Sentei-me no passeio com uma lata de Cuca na mão. Sentei-me na piscina com uma grade inteira. Vi teatro, exposições, dança e concertos, muitos concertos. Veio cá a Mariza para me lembrar da minha portugalidade e eu disse-lhe que não era preciso, pois por essa altura já tinha percebido que jamais me esqueceria dela. Trabalhei numa sala sem ar condicionado e noutra sem janelas. Fui assaltado e perdi os documentos. Chamei filho da puta a um gajo, sem que ele tivesse ouvido, e fiz questão de abraçar outro sem lhe explicar porquê. Arranjei uma cadela e fui chamado à atenção por o ter feito. Dormi sozinho, dormi acompanhado, beijei e fiz amor. Fiz também outras coisas das quais não posso falar aqui.

Há um ano por esta hora (é meio-dia) estava a sair para almoçar num restaurante chamado Paradyse. Fui do céu ao inferno até sossegar no sítio onde está a virtude. Estou há um ano em Angola e até parece que já fiz muitas coisas. Eu acho que me limitei a viver. Mas foi um ano em cheio.

6 comentários:

Sereia disse...

E viver é bom!
beijo

Alda Couto disse...

Boa síntese :):)

andorinhaavoaavoa disse...

Tenho orgulho em ti. Sei o que é viver na surpresa da descoberta, mas no fundo limitar-se a tentar viver. Mas, quero-te de volta um dia destes! Ya?

you know who disse...

E esses anos é que são bons!

gralha disse...

Já passou um ano? Bolas... Por tudo o que ouço falar da Angola de hoje, és um homem de coragem.

Bluesy disse...

Este post faz-me lembrar os meus anitos de trabalho em Timor. Muitas saudades :)