Calculo que tenham sobrado da obra os mosaicos partidos que cobrem o passeio na entrada do prédio. A porta de ferro parece um improviso. É que, transpondo-a, existem dois canteiros daqueles que costumam ficar do lado de fora e não de dentro. Dois canteiros e outra porta. São duas, então.
A parede das escadas, pintada de amarelo, precisa de tinta. Aliás, não sou engenheiro mas acho que precisa de mais do que isso. Deve haver algum cano roto.
São três andares até lá e lá é onde eu moro, mesmo antes do terraço. Primeiro: duas portas, uma ao lado da outra; direito, esquerdo; um par de apartamentos, ambos vazios, alugados ocasionalmente e ao dia a emigrantes ou turistas barulhentos. Segundo (estou a contar os andares): senhorio; Eugénio, viúvo, dois filhos que se saiba; no patamar, um arranjo floral de plástico, um leque gigante e um vaso que me faz tropeçar diariamente.
Terceiro e é aqui. Chegando, a porta está logo em frente. Tem ela um postigo que costumo deixar aberto.
Não, não é só pequena a minha casa. É esquisita. Parece o pedaço de uma coisa maior, porque, de facto, é disso que se trata: de um retalho arrancado ao T4 que antes existia.
As janelas são altas e o o tecto baixo (não tão altas, nem tão baixo, porém). Nunca está quente. Enquanto todos se queixam de calor, à noite tenho de me cobrir melhor para não ter frio.
Tem móveis baratos, móveis que mandei fazer, móveis que outros começaram e eu acabei, moveis que eu próprio fiz do princípio ao fim. Tem também um gato. Tinha outro, mas fugiu. Pela janela. Calculo que tenha morrido e só espero que não tenha sido suicídio. Detesto depressivos.
A minha casa, que é a mais pequena e estranha onde já morei (a segunda mais estranha, agora que penso nisso), é de todas a melhor. Morar num sítio assim... é como morar num sítio assim. É bom.
2 comentários:
Mas são dessas mais pequenas e estranhas que nos ficam na memória e ajudam a passar ou a ultrapassar as coisas da vida...como eu também já morei em algo estranho percebo os teus sentimentos.
Gosto de tua casa.
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