29 de dezembro de 2011

2.0


Lembrei-me da simpática família Parret. Os Parret, pai e mãe, acolheram-me há alguns anos, durante a minha passagem por Londres.

Relativamente formais, relativamente afectuosos, zelosos de uma boa experiência londrina, receberam-me no quarto de hóspedes da sua casa, num dos bairros periféricos da cidade.

Desse bairro, partia todos os dias para o centro da capital britânica. Fazia a pé o trajecto até à estação de comboios. A meio caminho, passava por um pub, a very typical one, que tinha este escrito numa das janelas da frente: "Pass by us, and forgive us our happiness" (Fyodor Dostoyesky, O Idiota).

Quem me conhece sabe que não sou - e tenho em relação a isso uma certa mágoa - um tipo de citações. Admiro muito aquelas pessoas que têm sempre a sentença perfeita para todas as ocasiões, mas a minha memória não dá para tanto - dá até para muito menos, devo admitir.

Acontece que estas palavras, talvez pela apresentação original - a ideia da montra de bar, com um grupo de bêbados bem dispostos no seu interior - ficaram-me na memória e a imagem é um belo mote para o exercício que se segue.

Foram voláteis os dias de 2011. Tão vorazes que tenho alguma dificuldade em me encontrar na vida que tinha nos primeiros de Janeiro.

Comecei o ano com uma casa, uma vida partilhada, e a certeza absoluta de estar onde queria estar, sem precisar de mudar nada do que é essencial. Termino-o noutra casa, para a qual me mudei sozinho, e com mais dúvidas do que alguma vez me lembro de ter tido.

Agora, agora que estamos no fim, revisito essas tão certas certezas - todas elas - e já não me parece lógico que fossem tão absolutas assim. 

Se pudéssemos antecipar, se conseguíssemos saber antes, cometeríamos menos erros, faríamos menos disparates.

Não compreendo aquelas pessoas que insistem em defender que nunca se arrependem de nada (a não ser do que não fizeram). Há algo de 'desumano' nisto. Ser Homem é errar, reconhecer os erros, mostrar arrependimento, pedir perdão por eles,  pelos outros e por nós mesmos.

Sou dado à razão, mas isso, e é este o compromisso que assumo para 2012, não me impedirá de viver o dia-a-dia. Farei a minha parte, anteciparei o que puder ser antecipado, mas aceitarei que nem tudo depende de mim.

A vida tem duas vidas: a que temos e a que nos escapa. Uma percentagem significativa da nossa felicidade devirá (na Filosofia, devir é o movimento pelo qual as coisas se transformam) de guardarmos os bons momentos e não o seu fim.

Há muito medo no ar. Eu também tenho medo. Mas acho que todos estaríamos menos receosos se aproveitássemos a oportunidade para um regresso às origens, à vida simples, aos amigos e à família. É esse o caminho que quero fazer a partir de Janeiro.

Estamos juntos. Bom ano para todos.

8 comentários:

Alda Couto disse...

Um muito bom ano para ti Nuno :):) Um belo texto, como sempre. E muita verdade. Quem diz que não se arrepende de nada mente. Eu sei, já o tentei fazer e não resultou :):)

Um beijo grande

Nuno Andrade Ferreira disse...

Obrigado Antigona. Sempre atenta ao blogue :)

Rui Filipe disse...

epah ganda nuno...sempre a inovar e a mostrar k tens tudo para ser o futuro Primeiro Ministro ou Presidente da Republica de Portugal... :-) se a gente não se falar amigo...desejo-te um bom ano com td d bom e toda a sorte do mundo pa ti e para os teus...ganda abraço

Unknown disse...

Arrepndo-me de muitas coisas que fiz. Quem me conhece sabe disso. Uma coisa de que não me arrependo é de vir aqui desejar-lhe um ano cheio de coisas simples, mas boas.

Bom ano.

Nuno Andrade Ferreira disse...

Obrigado Carla. E um bom ano também para si.

Diwane disse...

Feliz Ano Novo Nuno.Como sempre,excelente texto. Continuo tua fã.

Abraço

Anónimo disse...

Uma escrita simples mas que nos deixa envolvidos. Amei o texto. Bj

Nuno Andrade Ferreira disse...

Obrigado Diwane e obrigado Anónimo.

Nuno