- Mas tu vais sair a esta hora, Rúbito? - pergunta-lhe a mãe, depois de entrar na sala e sentir um cheiro forte a perfume.
- Vou sim, mamã. Vou ter com uns amigos - responde-lhe o rapaz, que de catraio até tem muito pouco, pois ninguém chega menino aos 42.
- Com uns amigos? Mas isto agora é todas as noites? Com quem é que tu andas Rúbito? Com quem é que tu andas Rúbito, Rúbito? - exalta-se a mamã - Quem são essas companhias?
- Oh mamã, não se preocupe. Já não confia no seu filhinho. Não sabe que eu me porto sempre bem?
Tem razões para confiar, a mamã. Lá em casa, Rúbito é todo delicadezas. Joelhinho no chão pela manhã e ao deitar, Pai nosso que estais no céu dai-me força, daí-me sabedoria, amor e humildade. Camisa aprumada, calça vincada e sapatinho lustroso.
- A sua bênção mamã.
- Não me tires do sério. Dormes na rua se voltas tarde - Ai, ai, ai - pausa para respirar e corrigir a entoação - ai, ai, ai - esforçando os graves.
Olha para o relógio Rúbito. São 20 agora. Tem duas horas entre ir e voltar. Apressa o passo, com o coraçãozinho a bater rápido.
A ele nunca ninguém conheceu namorada. Caseirinho, trabalho, casa, casa, trabalho, acredita-se que leva a vida de feição, comendo a horas certas - e nunca sai da mesa sem acabar o que está no prato - abdicando do futebol e indo à missa todos os domingos e dias santos.
Aos ímpetos das partes baixas, pecado, pecado, sempre respondeu com uma enérgica punhetinha debaixo dos lençóis, luz apagada, sem ui que se ouvisse. Se ao despertar lhe aquecessem os ânimos durante o banho, que lugar impróprio, desligava a água quente de rompante e esperava que o frio se entranhasse no corpo, descesse até ao membro armado e desse cabo da libido matinal.
O dia da desgraça de Rúbito chegou aos 13 de Outubro do ano da graça de 2011, mais precisamente às 15:32, hora a que, depois de um robalo assado no forno, com batatinhas e salada, tudo empurrado com um copinho de sumo de laranja, que este homem nunca foi de vinho, Rubito estacionou a Renault Kangoo três ruas a seguir ao mercado, pegou na caixa de cartão, 20 de largo, 20 de comprimento e outros 20 de altura - um cubo, portanto - e, depois de andar duzentos metros a pé, tocou no 5º F da morada que estava escrita.
- ¿Hola, quien eres?
- Estafeta. Para entregar uma encomenda.
No quinto andar, à saída do elevador, a Terra parou. Ao olhar para a porta, sentindo o volume púbico a aumentar, Rubito teve de se esforçar para voltar ao essencial.
- Ponchita Lizarraga?
- Para ti, Toda Ponchita.
- Tod... Pon...
- Se quieras, Ponchita, la Peruana.
Posto isto, nem cinco segundos passaram, avé Maria cheia de graça, de nada lhe valeria a água fria, gelada que fosse, Rúbito foi todo fel. O estafeta teve o seu primeiro orgasmo com uma mulher sem que esta, sequer, lhe pusesse as mãos.
Caído em tentação, não mais o menino da mamã, conseguiu parar. Desde aí, então, não há dia que passe sem que, de manhã, à tarde, ou à noite, não interessa, tanto faz, o ex-beato, agora visitador, se entregue aos prazeres da carne e se delicie em actividades exploratórias, pelos seios redondos, os mamilos rosados e duros, o ventre liso - um desvio - a coxinha de pele sedosa e, agora sim, o sexo húmido que, de ser o primeiro, lhe parece o mais perfeito de todos.
- Ponchita, queres ser a minha putinha?
- Ya lo soy, Rúbito. Ya lo soy.
1 comentário:
Oh Ponchita, Ponchita !!!! Que delicias escondes tu !?
Gostei. Bj
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