27 de janeiro de 2012

Hora de fecho

Manifesto a favor do jornal espanhol Público que corre o risco de fechar

Primeiro serão os jornais, depois as revistas. No final, à imprensa 'impressa' (redundância, sei) restará um papel de objecto de culto, numa onda meio vintage, como acontece com o vinil.

O processo está em curso em todo o mundo e ninguém minimamente informado pode nega-lo. Ainda que a ritmos diferentes - consoante o nível de penetração das novas tecnologias de comunicação - no tempo máximo de uma geração ou duas gerações, o assunto estará definitivamente resolvido.

Os consumidores estão cada vez mais familiarizados com os suportes digitais. Uma fatia importante da população dispõe - ou irá dispor brevemente - de pelo menos um dispositivo com ligação à Internet. 

Se o digital é o caminho, a questão que permanece é de sustentabilidade. Os jornais dependem das receitas publicitárias e estas estão em queda acentuada. Por outro lado, o investimento que está a sair das edições impressas, não está a ser conquistado pelas versões on-line.

São raros os projectos editoriais só web que sobrevivem com um nível de qualidade aceitável, para lá dos primeiros meses de vida. Como são efémeras as experiências de limitar o acesso a determinados conteúdos, disponíveis apenas por subscrição paga.

O mercado dos media demorou demasiado tempo a acordar para o inevitável. Durante anos, acreditou-se na fidelidade dos leitores, na eternidade de um produto em decadência há duas décadas. 

Não tenho resposta para a pergunta que resulta de toda esta conversa: se os consumidores não querem pagar, se as marcas não anunciam, que futuro para o jornalismo escrito?

Apesar disso, acredito que no final sobrará uma imprensa reformulada, digital e intangível, num universo ao qual só chegarão os melhores projectos - apostados num jornalismo de qualidade e não descartável, como aquele que andamos a fazer. Uma imprensa segmentada, especializada em áreas de interesse, virada para nichos de mercado específicos - e não para um público generalista e abrangente - acompanhando assim a vontade crescente das marcas em dirigir as suas campanhas de marketing para uma audiência (a sua) definida e claramente identificada.

O caso do espanhol Público, a braços com um eminente fecho de portas, é mais um dos exemplos que se vão somando. E ainda que o efeito prático possa ser nulo - nunca o será, mesmo que residual - é incrível a forma como os leitores, cientes da importância que o diário tem na construção de uma opinião pública plural, lançaram mãos ao jornal e tentam agora resgata-lo.

1 comentário:

gralha disse...

Haverá sempre imprensa e livros impressos. Te garanto.