9 de novembro de 2012

Esfénico

Ontem, a propósito de um vídeo viral, escrevi um artigo de opinião para um jornal digital (link no post abaixo) que se tornou, também ele, alvo de muitas atenções. 

Tanto quanto percebi, o texto foi lido uns milhares de vezes, partilhado várias centenas e comentado outras tantas. Como esperava, a maioria dos comentários foi desfavorável ao que defendi. 

Fui insultado como nunca antes. Ameaçado de porrada, rotulado e ofendido.

Estou habituado à ira dos leitores - a maioria de dedo rápido e reacções desmedidas. A maior parte das pessoas que comenta nem lê os artigos ou quando lê, não os percebe.  

Um dos leitores disse-me que só posso ser de famílias ricas ou boy do PSD. Outro sugeriu que eu deveria arranjar um emprego no governo. 

Eis-nos chegados. 

Faço hoje trinta anos. E o que sou fala por mim. 

Os únicos que algum dia me deram alguma coisa foram os meus pais. Deram-me a melhor educação, a oportunidade de estudar e a formação humana que me transformou no homem que sou (e se não passo disto, a culpa é minha).

Sou íntegro, esforço-me por ser justo e, apesar de intempestivo, demasiado exigente e dono de um mau feitio senhorial, as pessoas não se costumam queixar da minha falta de humanidade. 

Trabalho desde os 17 anos. Estudei e trabalhei em simultâneo e sei o que custa conciliar as duas coisas. Estive um ano sem folgar, cheguei a ter três empregos e a trabalhar 20 horas por dia, várias semanas seguidas.

Um dia fiz as malas e fui para Angola. Depois voltei a fazer as malas e vim para Cabo Verde. Vivo há mais de quatro anos longe da minha família que, na melhor das hipóteses, vejo uma vez por ano. 

Tenho um ordenado pequeno e uma conta de electricidade que todos os meses me parece demasiado grande.

Continuo solteiro, mas sei como é que se fazem bebés (embora ainda não tenha feito nenhum). Não tenho a certeza se já sei amar, mas tentei algumas vezes e, pelo menos a espaços, acho que me desembaracei com relativa desenvoltura. Por falar nisso, amei a uma mulher mais do que a todas as outras e apesar de não ter acabado bem, foi o melhor que me aconteceu. 

Não tenho grandes perspectivas, mas tenho ambições.

Ambiciono sair-me bem. Ambiciono um filho. Ambiciono escrever um livro. Ambiciono que os meus pais percebam o quanto são importantes para mim. Ambiciono manter-me fiel a mim mesmo e leal aos outros. Ambiciono menos dez quilos. E ambiciono, acima de tudo o resto, continuar sempre a ter ideias próprias.

Não vejo nenhum romantismo nos trinta. A primeira coisa que me aconteceu depois da meia-noite foi uma dor de barriga. Agora, se querem saber, acho que não me estou a dar nada mal nesta coisa de viver.


9 comentários:

Jardineiro do Rei disse...

E eu continuo a ter um orgulho desmedido em ti, Nuno. Pela tua coragem, pela tua frontalidade, pela tua humanidade, pelo calor humano que pões em cada gesto e que transmites aos outros.
Infelizmente vivemos num mundo cego, de valores rasteiros, em que o que conta é o ter e não o ser.
"Aquilo que tu fazes, filho, é saltar até ao Sol! Bom... talvez nunca chegues a poisar os pés no Sol, mas pelo menos, conseguiste levantá-los do chão."

Um beijo

Pai

Inês Aroso disse...

Caro Nuno trintão,

Repara que "orgulho" é uma palavra comum quando se fala sobre ti. Eu tenho um grande orgulho em ser tua amiga. Já aprendi muito contigo e és uma pessoa que admiro, profissional, pessoalmente e como "escrevinhador".

Obrigada pela amizade e por teres entrado na minha vida.

Inês Aroso

Inês Aroso disse...

Caro Nuno trintão,

Repara que "orgulho" é uma palavra comum quando se fala sobre ti. Eu tenho um grande orgulho em ser tua amiga. Já aprendi muito contigo e és uma pessoa que admiro, profissional, pessoalmente e como "escrevinhador".

Obrigada pela amizade e por teres entrado na minha vida.

Inês Aroso

Inês Aroso disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
andorinhaavoaavoa disse...

És um dos meus amigos que mais pena tenho não ter à minha beira! És tu e basta! Sei que com 30 ou 40 anos vais continuar a ser assim. A distância separou a nossa amizade ( os coments em criolo no face tb, porque não entendo nada do que queres transmitir), mas continuas a ser um grande amigo! Adoro-te!!

Anónimo disse...

...um destes dias quem sabe se tenho a sorte de encontrar um Homem assim ;)

Nuno Andrade Ferreira disse...

Anónima das 8:12, se o género do sujeito desta frase estiver correcto, casamos já.

Anónimo disse...

Fica combinado! Casamos um destes dias! isto se o 'género' for o certo, está claro

Alda Couto disse...

Estás a sair-te maravilhosamente mas não sei se dez quilos a menos te ficarão bem :):). Ainda que atrasados - muitos parabéns Nuno. Que faças muitos mais e cada vez mais felizes. Que esse amor que conheceste se repita mais forte e duradouro e que a conta da electricidade deixe de te parecer excessiva :):)

Um beijo grande