28 de abril de 2008

As toalhas na dicotomia ser e parecer

Talvez seja de mim, mas incomodam-me as toalhas. Não as toalhas em geral, apenas aquelas "tão portuguesas", que só podiam ser feitas em Portugal. É que as há com bordados, com desenhos ou até com renda e ainda assim não há uma que seja gira. São iguais desde sempre e igualmente feias desde então.

Depois é vê-las na feira, dobradas em bancas repletas ou penduradas na corda, mostrando todo o seu brilho natural (que o linho é "cousa" que brilha imenso, em especial quando fica cagado de nódoas).

No Sábado, passeando-me em Cascais, encurto caminho por entre feirantes e logo sou convidado a prolongar o olhar num ou noutro produto seleccionado. Certo vendedor, coitado, sem qualquer talento para a coisa - que até para vender toalhas é preciso arte e engenho - lá tentou impingir-me a sua mercadoria. A julgar pelo escasso movimento do recinto, o negócio corre mal. Será que já ninguém quer toalhas à portuguesa?

Tenho um armário repleto delas. Uma tia, típica aldeã, acha que é uma ofensa um rapaz tão formoso não ter o seu próprio lote de toalhas e toalhinhas. Cabe-me a tarefa de aceitar e agradecer - missão que cumpro com elevada consideração, porque engolir os preconceitos é, no caso, aceitar o fado de ser português. Não se nega uma existência milenar, só porque o se prefere o plástico como material.

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