As paredes, de um verde não muito escuro, aqui e ali marcado pela humidade de uma construção não muito nova. A mesma humidade que contorna a janela que dá para o pátio, que dá para o prédio em frente, que dará para a rua. Lá dentro, novamente no quarto, uma cómoda antiga, com puxadores em pau santo. Em cima, um oratório fechado e sem santo; já não se reza aqui. Ao lado, por esta ordem, uma cadeira mogno com palhinha, um vazio e outra cadeira. Dando a volta, um roupeiro, uma cadeira - tantas cadeiras - e a cama. Cabeceira estilo D. José, por ventura a precisar de restauro. Colcha a despropósito e um corpo inerte, o meu.
Estou deitado há várias horas, tantas que já perdi a conta, num quarto que não sei se será meu, não sendo o meu. Comecei por tentar adivinhar o que será feito da papeleira que ocupava o vazio entre as duas cadeiras. O quarto não é meu, mas estive aqui muitas vezes, não fisicamente, acho, mas talvez em retórica. Provavelmente, tenho quase a certeza disto, também não estou aqui agora. Contudo, sei exactamente, disse-o há pouco, o que está para lá da janela que ilumina o cheiro a mofo. Sei e acreditem que nunca me abeirei dela. Sempre que venho a este quarto fico aqui onde estou, na cama. Foi daqui que te vi - ou julguei ver - a escrever na papeleira que deves ter - deves, porque não tenho a certeza que o tenhas feito, ou se sequer existes - levado contigo quando partiste, se é que partiste, porque talvez não tenhas chegado a existir.
Sempre gostaste muito de cadeiras. Ou talvez seja eu a gostar delas e por isso as tenha posto aqui. Afinal, isto é tudo fruto da minha liberdade criativa. Quando, deitado na colcha sem sentido, olho em redor, parece-me tudo tão tangível. Quase que acredito. Mas isso é só até levantar a cabeça e olhar para o céu. Desculpem, para o tecto. Que quarto bafiento teria uma representação da alegoria da Guerra e Paz. Isto não é Viena de Áustria. É só o teu quarto, ou o meu, ou o nosso, que eu, pelos vistos, só sonhei ter, mas onde vinha sempre que queria estar contigo.
Estou deitado há várias horas, tantas que já perdi a conta, num quarto que não sei se será meu, não sendo o meu. Comecei por tentar adivinhar o que será feito da papeleira que ocupava o vazio entre as duas cadeiras. O quarto não é meu, mas estive aqui muitas vezes, não fisicamente, acho, mas talvez em retórica. Provavelmente, tenho quase a certeza disto, também não estou aqui agora. Contudo, sei exactamente, disse-o há pouco, o que está para lá da janela que ilumina o cheiro a mofo. Sei e acreditem que nunca me abeirei dela. Sempre que venho a este quarto fico aqui onde estou, na cama. Foi daqui que te vi - ou julguei ver - a escrever na papeleira que deves ter - deves, porque não tenho a certeza que o tenhas feito, ou se sequer existes - levado contigo quando partiste, se é que partiste, porque talvez não tenhas chegado a existir.
Sempre gostaste muito de cadeiras. Ou talvez seja eu a gostar delas e por isso as tenha posto aqui. Afinal, isto é tudo fruto da minha liberdade criativa. Quando, deitado na colcha sem sentido, olho em redor, parece-me tudo tão tangível. Quase que acredito. Mas isso é só até levantar a cabeça e olhar para o céu. Desculpem, para o tecto. Que quarto bafiento teria uma representação da alegoria da Guerra e Paz. Isto não é Viena de Áustria. É só o teu quarto, ou o meu, ou o nosso, que eu, pelos vistos, só sonhei ter, mas onde vinha sempre que queria estar contigo.
* O mote desta semana. Para ler igualmente aqui e aqui.
1 comentário:
Se precisa de restauro eu trato disso! :)
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