Depois do crime da noite anterior, a cidade acordou com um cheiro pérfido no ar. Um cheiro a morte, a sangue e a terror. As manchetes dos jornais narram, nesta manhã fria de Dezembro, o horror vivido na rua 23 daquele bairro escondido para lá da grande colina. Da origem do corpo pouco se especula. O sumo da história parece estar e importar, por enquanto, nos detalhes sórdidos do estado de putrefacção em que o cadáver foi encontrado ao lado de um Citroen AX.
Ao ver a fotografia escarrapachada na primeira página do tabloide, a primeira pergunta que me surge é "mas quem é que ainda tem um AX?". E demoro algum tempo a perceber o disparate para onde a minha cabeça me levou. Mas quem é que, no seu perfeito juízo, tem uma foto com um corpo desfeito, rodeado de uma gigantesca poça de sangue, entranhas e larvas, e está interessado na antiguidade da viatura que o levou até lá?
O cenário é impressionante. As televisões demoraram demasiado tempo a chegar e o melhor registo perpétuo foi feito por um telemóvel de última geração, desses que se fazem agora, cheios de megapixels. O que choca são os detalhes.
Uma mala caída, manchada de sangue. Um sapato, meio salto, ganga escura, e um pé descalço. Alguns papeis espalhados pelo chão. A cara tapada - as formas que se notam - por um pano empapado e cabelos castanhos ligeiramente desvendados. O tronco esburacado pela força dos disparos. Estou prestes a vomitar.
Pego no telefone e preparo-me para te ligar. Será que já viste a imagem de que toda a gente fala? Será tens uma teoria? Tens sempre uma teoria. Telemóvel, lista telefónica. A minha péssima memória fez com que memorizasse quase todos os números com associações parvas. Raquel Piscinas, António Bar Azul, Luís 3 direito, Ana AX.
*Pela terceira semana, eu, ela e ele participámos neste desafio e escrevemos um texto sob o mesmo mote. Todas as quintas-feiras é assim: Um mote, três textos.
Ao ver a fotografia escarrapachada na primeira página do tabloide, a primeira pergunta que me surge é "mas quem é que ainda tem um AX?". E demoro algum tempo a perceber o disparate para onde a minha cabeça me levou. Mas quem é que, no seu perfeito juízo, tem uma foto com um corpo desfeito, rodeado de uma gigantesca poça de sangue, entranhas e larvas, e está interessado na antiguidade da viatura que o levou até lá?
O cenário é impressionante. As televisões demoraram demasiado tempo a chegar e o melhor registo perpétuo foi feito por um telemóvel de última geração, desses que se fazem agora, cheios de megapixels. O que choca são os detalhes.
Uma mala caída, manchada de sangue. Um sapato, meio salto, ganga escura, e um pé descalço. Alguns papeis espalhados pelo chão. A cara tapada - as formas que se notam - por um pano empapado e cabelos castanhos ligeiramente desvendados. O tronco esburacado pela força dos disparos. Estou prestes a vomitar.
Pego no telefone e preparo-me para te ligar. Será que já viste a imagem de que toda a gente fala? Será tens uma teoria? Tens sempre uma teoria. Telemóvel, lista telefónica. A minha péssima memória fez com que memorizasse quase todos os números com associações parvas. Raquel Piscinas, António Bar Azul, Luís 3 direito, Ana AX.
*Pela terceira semana, eu, ela e ele participámos neste desafio e escrevemos um texto sob o mesmo mote. Todas as quintas-feiras é assim: Um mote, três textos.
1 comentário:
Meu amigo, isto é digno de um guião do CSI! Fabuloso! Adorei o AX. Muito original, mas também te digo que ainda conheço muita gente com esse bolinhas de outras eras!
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