O espaço da lusofonia resume-se a instituições com a UCCLA e tantas outras, ou é sentido pela população?
Eu julgo que a lusofonia progrediu muito nos últimos anos. Por exemplo, este mês estive no Brasil e o espaço que os noticiários dedicam a países africanos, em horário nobre, é hoje muito maior. Este interesse é inteiramente novo.
Quando começamos a ver o que representa o território dos países - e aí o Brasil é o gigante - nas áreas de territórios agrícolas mundiais, apercebemo-nos que se trata de qualquer coisa de notável.
Quando nos apercebemos da real extensão da costa dos países lusófonos - e aí Cabo Verde conta muito - numa altura em que se acredita que a resolução de muitos problemas do mundo actual pode estar no mar, vemos que temos uma brutalidade, milhares de quilómetros, de Zona Económica Exclusiva.
Finalmente, se pensarmos que, entre as quatro potências emergentes, a única que representa os valores ocidentais, a única que é uma democracia plena, é o Brasil e que o Brasil fala português, é porque temos uma palavra a dizer.
A lusofonia é hoje uma realidade muito maior do que aquilo que podíamos supor há vinte anos. Estamos a avançar.
Repare no interesse que há em Portugal pela gastronomia africana, pela cachupa ou por um caril com coco, fortemente condimentado [prato de Moçambique]. Note a implementação do futebol português nos países africanos.
É claro que gostaríamos de ver coisas mais concretas. Talvez aí, despolitizando um pouco o contexto da CPLP, seja possível a obtenção de mais resultados. Eu julgo que a hora é das pessoas se concentrarem em objectivos. Quem pretende resolver tudo, ao mesmo tempo e com toda a gente, falha.
A língua portuguesa é o principal elemento unificador dos países e das cidades lusófonas. Contudo, em Cabo Verde, há um número significativo de pessoas que não fala, ou fala mal o português, tal como em Moçambique. Em Timor, a percentagem de falantes de língua portuguesa é residual. O que é que está errado?
A língua é o principal factor de união entre os países e dentro dos países. Eu, em meados dos anos 80, estive em Moçambique, numa missão partidária. Lembro-me perfeitamente que o presidente Samora Machel dizia que o português era o que mantinha a integridade da Nação moçambicana.
Em Timor existe um problema, especialmente na geração dos 25 aos 40 anos, que foi educada pela Indonésia. Mas a população gosta muito do português.
A grande surpresa, na expansão do português, é Angola. Sobretudo, pela qualidade da língua que se fala em Angola e isso tem o seu reflexo, nomeadamente na literatura.
Eu estive na Lunda, na fronteira leste de Angola e as pessoas de lá disseram-me que o português extrapolou as fronteiras e fala-se para lá do território angolano. E dizem-me que na Namíbia dez por cento da população percebe o mínimo do português.
Veja, finalmente, o que se passa na América do Sul, onde qualquer latino-americano fala hoje, ou pelo menos ‘arranha', o ‘portunhol'.
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