Interessam-me as pequenas histórias. Conheci a Sofia em Luanda. Angolana, passou a maior parte dos 20 e poucos anos que tem de vida em Lisboa. Estudou análises clínicas e, concluída a licenciatura, tirou um mestrado em microbiologia. Quando me foi apresentada estava a meio de um casting para apresentadora de um programa de televisão.
Pelos vistos, não serviu para o posto e acabou como repórter no magazine que, na altura, eu coordenava. De repente, além de analista formada e especializada, virou jornalista do jet7.
Apesar de ter um pai, digamos, endinheirado, a Sofia vivia num anexo, com tecto de chapa, onde divida o espaço com os parcos móveis que conseguiu comprar (um colchão, um fogão, um frigorífico e uma televisão). Para tomar banho, enchia uma mochila com toalha e roupa, saia de casa, andava dez metros e usava o exíguo poliban a que tinha acesso.
Contou-me que gostava de dançar - e conferi que dançava bem. Aliás, foi parar a Angola à conta de um convite para coreografar um bando de insípidos actores, numa telenovela de produção nacional. "Doce Pitanga", uma espécie de "Morangos com Açúcar", só que ainda pior.
O que a Sofia nunca me chegou a contar foi o verdadeiro motivo que a levou a deixar tudo para trás - "uma boa vida", assumia - em troco de nada. Uma casa com baratas, um emprego mal pago e uma solidão quase profana.
Não ficámos amigos, não mantemos contacto e, de certa forma, lamento que assim seja. A Sofia ficou, para mim, uma intriga. Admiro-a, porém. Acho que uma pessoa corajosa deve ser como ela é.
Pelos vistos, não serviu para o posto e acabou como repórter no magazine que, na altura, eu coordenava. De repente, além de analista formada e especializada, virou jornalista do jet7.
Apesar de ter um pai, digamos, endinheirado, a Sofia vivia num anexo, com tecto de chapa, onde divida o espaço com os parcos móveis que conseguiu comprar (um colchão, um fogão, um frigorífico e uma televisão). Para tomar banho, enchia uma mochila com toalha e roupa, saia de casa, andava dez metros e usava o exíguo poliban a que tinha acesso.
Contou-me que gostava de dançar - e conferi que dançava bem. Aliás, foi parar a Angola à conta de um convite para coreografar um bando de insípidos actores, numa telenovela de produção nacional. "Doce Pitanga", uma espécie de "Morangos com Açúcar", só que ainda pior.
O que a Sofia nunca me chegou a contar foi o verdadeiro motivo que a levou a deixar tudo para trás - "uma boa vida", assumia - em troco de nada. Uma casa com baratas, um emprego mal pago e uma solidão quase profana.
Não ficámos amigos, não mantemos contacto e, de certa forma, lamento que assim seja. A Sofia ficou, para mim, uma intriga. Admiro-a, porém. Acho que uma pessoa corajosa deve ser como ela é.
4 comentários:
Ou confusa...
Lembro-me dela. Uma moça cheia de virtudes!
Não deve ter um rumo definido e vai apostando nas oportunidades que lhe surgem. Não a conheci em Luanda, mas gabo a coragem e o mérito por conseguir viver nessas condições!
Pois é, maluca da miúda... ainda hoje estava a ver umas fotos da tuga e as lágrimas começaram a cair...
ainda penso na possibilidade de voltar, o bilhete está pago!
Obrigada Nuno, também me intrigas um pouco... kiss e continua maluco como és!
Sofia Lucas
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