29 de abril de 2008

Que emprego?

Fala-se tanto da importância de criar emprego e louva-se de tal forma o mérito das empresas que, num cenário de crise internacional (e nacional, dissimulada pelos número oficiais e pelo discurso político), tendemos a esquecer a questão que nas sociedade desenvolvidas (entenda-se o conceito na sua dimensão humana) deveria merecer igual dose de protagonismo: Que emprego?

Um emprego a 500 euros, mediante recibo verde, é suficiente para a estatística, mas o que é que resulta daí para o individuo? Pouco ou nada. Está empregado, sim, mas em que condições?

O combate ao desemprego e o desígnio da competitividade devem ser concretizados tendo os trabalhadores como aliados e nunca como inimigos a abater.

Ontem, no debate televisivo das segundas-feiras, defendeu-se, a dada altura, o fim da luta contra o trabalho precário, considerando-a assunto menor (que ideal fascista é este?). Nada mais falso. A valorização do emprego passa também pela valorização do trabalhador, enquanto agente fundamental para o funcionamento das empresas.

O cumprimento das obrigações definidas na legislação, mas também no ordenamento moral das sociedades civilizadas, é um objectivo que deve acompanhar sempre a relação laboral que se estabelece entre um qualquer patrão e um qualquer empregado.

A luta por um trabalho digno, feito de direitos e deveres entre as partes, é tão actual quanto urgente.

Não será fácil, porém, a labuta. Olhando para a classe empresarial a que estamos entregues, percebemos que ela nunca vai aprender as boas práticas que já são seguídas por algumas das maiores empresas mundiais, que até operam em Portugal, e que já realizaram que ter quem trabalha do lado certo da barricada é fácil e vantajoso. Respeitem o meu trabalho, respeitem a minha condição de Homem e terão o meu respeito no regresso.

Honrar o acto de trabalhar é muito mais do que falar em melhores salários - também eles fundamentais, certo. A honra de quem trabalha passa também por assistir à concretização dos mais básicos direitos inerentes à condição humana.

Caminhamos para um quadro de relações laborais feito à medida das empresas, muito mais do que à exigência do mercado. Até porque, admitamos, o mercado somos nós. Somos nós, consumidores, também operários, que damos corpo ao mercado. Somos nós que compramos e vendemos, somos nós que estabelecemos o funcionamento das economias. Onde cabe, na definição, a contradição de sermos causa, consequência e dejecto de algo que existe em nós e por nós?

O mercado, esse Estado sem bandeira, que se sujeite à nossa vontade e não o contrário!

Sempre me inquietaram as leis, as políticas e as regras que se viram contra as pessoas, como se elas fossem um estorvo e não a "razão para". Naturalmente, preocupam-me também as tendências de mercado que nos levam para uma nova espécie de escravatura de sanzala livre, onde tudo é permitido e onde não somos mais do que agentes ao serviço da arbitrariedade humorística de quem chefia.

Perante isto, já erguemos as mangas e tomámos por nosso o que nos pertence por direito? Não. Assistimos passivos. Queixamo-nos aos colegas, na pausa do café (enquanto ainda a temos), à noite, ao jantar, à família e deitamo-nos na amargura de desconhecer o que nos espera.

Não há leis que nos valham, se a mente humana continua corrompida e não pode ser mudada por decreto.

1 comentário:

Anónimo disse...

Ora aqui esta um grande texto...
Parabens, touché!!!