22 de dezembro de 2012

Vinho

(se o autor do blogue gostasse de coisas vulgares, aqui estaria uma imagem com uma frase feita atribuída a Clarice Lispector, mesmo não sendo ela a autora)


A mais firme convicção que me chegou com os trinta é a de que não voltarei a beber vinho mau. Porque a diferença que há entre um bom e um mau tinto - e o vinho será sempre tinto - é a duração do final. 

A partir de uma determinada idade um homem deixa de ter vontade de perder tempo com copos de três, bebidos de penalti, sujeitos a uma cara feia e a um ligeiro esgar que, não sendo de dor, será sempre de algum arrependimento. 

Escolhi, então, beber vinho bom, mesmo que isso signifique que beberei menos.

Não sei o momento exacto da decisão, mas aqui há dias dei por mim a olhar para o expositor do supermercado e a concentrar-me apenas nas garrafas das prateleiras mais altas.

Acontece que este não é um texto sobre vinho. E a ser sobre alguma coisa, então ele é sobre decisões, sobre estar preparado para as tomar e até sobre a sua inevitabilidade.

Há um momento em que tudo faz sentido. O momento em que nos sentimos libertos (e não apenas livres) e em que, mesmo sem darmos por isso, respiramos de alívio porque estamos a conseguir seguir em frente.

Aceitarmos as coisas - boas e más - como naturais será a condição essencial para aceitarmos, logo a seguir, que não há histórias perfeitas. E o dia em que compreendemos isso - e compreender não é só perceber - torna-se o dia em que nos sabemos capazes de recomeçar tudo de novo. E recomeçar não tantas vezes quantas necessárias, mas tantas quantas aconteçam. 

E de repente acontece mesmo. E mesmo sem quereremos - ou querendo sem saber - deixamos que seja assim e acaba por ser muito melhor do que pensávamos que seria. 

Uma amiga que sabe da vida muito mais do que eu disse-me em Outubro, à mesa de um casamento, que é tudo uma questão de escolha, de querer e fazer por isso. Parece que a nossa vida depende muito mais de nós do que aquilo que imaginamos. 

Com a idade, tornei-me muito mais exigente com o vinho. E o que de melhor isso tem, é que sou agora capaz de o apreciar como nunca antes o fizera. 


1 comentário:

Alda Couto disse...

Parabéns Nuno, muito muito sentidos. Não é para todos a libertação aos 30 - eu diria que para muitos é bem mais tarde. Prepara-te, no entanto, para a ilusão do seu desaparecimento aqui ou ali, sempre na certeza de que não passa de uma ilusão (o desaparecimento, evidentemente).

Um grande beijo (com abraço e tudo), um muito feliz Natal e que 2013 não seja o monstro que pintam :):)