29 de setembro de 2011

Monos

Uma das coisas que aprendi nestes anos que levo entre Angola e Cabo Verde é que tudo tem uma segunda vida. Não estou a fazer poesia, até porque não existe nada de lírico em ter o frigorífico avariado, que foi o que me aconteceu.

Lembro-me de ser garoto e de, lá em casa, sempre que se estragava alguma coisa, a primeira preocupação ser tentar repara-la.

Tudo era passível de conserto. Varinhas mágicas, ferros de engomar, televisões, rádios, máquinas de lavar, de barbear e por aí adiante.

Claro que nesses tempos os electrodomésticos tinham outra resistência, mas acho que o fazíamos, essencialmente, porque a vida nos era mais difícil.

Entretanto, Portugal transformou-se num canteiro de Wortens. Deixou de compensar arranjar o velho, porque passou a sair mais barato comprar novo.

Ainda assim, as coisas mudam quando não está tudo acessível ou quando, estando, o preço é quase pornográfico. 

Aqui onde vivo - cidade onde faltou o fiambre durante um mês - tudo tem uma vida muito para lá de útil. Há sempre alguma coisa a fazer, nem que seja apertar com um arame. Nada de se deita fora. 

A oficina onde deixei o frigorífico parece um cemitério de monos brancos, alguns dos quais meio esventrados, sem partes e peças que passaram para outros à procura de salvação. É que mesmo quando não há nada a fazer, há sempre alguma coisa que pode ser feita.





4 comentários:

Ana C. disse...

Já ouvi a comparação entre os electrodomésticos (hoje em dia) e o casamento :)
Já não se tenta arranjar, troca-se por outro.

Alda Couto disse...

Espero que valha a pena o arranjo. Há bem pouco tempo mandei arranjar uma máquina de lavar que ficou na mesma, ou pouco melhor, e por pouco mais tinha comprado outra... :(

Anónimo disse...

ufa! como estas coisas são chatas, ainda bem que não estou aí de férias...o melhor é comprar novo, nem que seja mais pequeno....e não te esqueças deve "repousar" 12 horas antes de o ligar.

Nuno Andrade Ferreira disse...

Actualização: Problema resolvido. Em pouco mais de 24 horas.