14 de setembro de 2011

Pepetela

"Quem sabe, talvez a transgressão nunca fosse possível. Mas a granada existiu, essa granada que traçou no ar espantado do planalto a figura da mulher amada. Mas uma granada, mesmo com tal magia, pode materializar um Mundo?"

Foi leitura de um fim-de-semana recente esta Parábola do Cágado Velho. Não leio tanto quanto gostaria,  mas tenho desde há muito o hábito de me fazer acompanhar sempre de um livro. Trago-o comigo e chego a estar uma ou duas semanas sem o tirar de dentro da pasta. Ainda assim, ele lá continua, à espera de ser companhia numa pausa para café. 

Dentro da mesma pasta tenho também um bloco que uso para trabalhar e um outro, mais pequeno, de capa dura, que espera o dia em que me torne escritor, usando-o para posterizar ideias geniais.

Voltando aos livros, consumo-os muito mais quando saio de casa, durante dias de passeio ou mesmo de trabalho, desde que fora da minha área geográfica de todos os dias.

Foi assim com Parábola. Em Santo Antão, encontrei-o por mero acaso numa mesa de cabeceira na casa onde fiquei e, sem pedir autorização à sua proprietária, assumi-o como meu durante as 48 horas que se seguiram.

Gosto do Pepetela. Quando em Luanda, cruzámo-nos algumas vezes em eventos dos quais ambos tomámos parte. Trabalhava na altura para um canal de televisão e entrevistei-o brevemente em duas ou três ocasiões. Consentiu em agendar uma conversa mais demorada, que nunca chegou a acontecer.

Gosto, e volto à palavra porque é de gostar que se trata, da forma como escreve, mas também do seu ar sério e pesado. Nos seus livros, de contos e lendas tão simples, simples era a vida que nós complicámos, há sempre algo mais do que aquilo que o papel nos diz. 

Considero-o um dos maiores escritores africanos da actualidade, como virtuosa é a geração de Homens de letras que representa. 

Sendo eu neto de uma avó e filho de um pai que nasceram e cresceram a amar aquela terra para lá do Equador, sempre que o leio recordo-me das muitas histórias que ouvi enquanto crescia. Lembro-me ainda daquilo que eu próprio experimentei nos meus tempos de Angola.

Tenho tido a oportunidade de viajar, viver e estar em sítios diferentes e distantes uns dos outros. Tenho tido a sorte de conhecer gente extraordinária, que parece pertencer a outro mundo que não o nosso. Pepetela está nessa lista. 



2 comentários:

Diwane disse...

temos saudades tuas por essa banda Nuno. Vou ficar a espera do teu livro, se o escreveres...Bjos

Nuno Andrade Ferreira disse...

Olá Diwane. Envia uma abraço meu a toda a gente.

É bom saber-te por aqui.