7 de setembro de 2011

Silêncios


Não sou grande coisa com sentimentos. Aliás, corrijo-me, sou uma merda com sentimentos. Bom ou mau, prefiro quase sempre guardar o que sinto, ao invés de o dizer imediatamente. Nas relações de amizade e, especialmente, nas amorosas rendo-me ao comodismo do silêncio. 

Claro que isto é um disparate. O som oco das palavras que não são ditas é ainda mais ensurdecedor do que aquele que sai de uma discussão acesa, cheia de argumentos e opiniões. Ninguém preserva para sempre o que, por ser sobre outro alguém, não lhe pertence verdadeiramente.

Talvez por isso seja um pouco rancoroso. Acho sempre que perdoo depressa, que ultrapasso e esqueço o assunto mas afinal, dias, semanas ou meses depois, dou por mim a reavivar tudo, a fazer renascer uma discórdia passada. 

Acontece que as coisas fazem sentido quando fazem sentido. Se alguém me desilude hoje, então hoje é o tempo certo para que se saiba que assim foi.

Gostava de não ligar, de esquecer. Não consigo. Fica tudo aqui dentro, a consumir-me, fingindo dormir mas esgravatando. Faço metade do que quero fazer: evito o confronto, mas não passo por cima.

Sei que esta é uma parte importante da minha personalidade. Mas também sei - e portanto não pensem que me fazem passar por parvo - que não é a essencial. 

Quando estamos chateados com alguém, tendemos a reduzir essa pessoa ao pior dela própria. Como se, de repente, tudo o que de bom ela em nós representa perdesse o sentido. Aos nossos olhos, nem dois braços, nem duas pernas, rosto ou corpo inteiro. Ali, um sujeito que sequer ao nome próprio pode aspirar.

Felizmente, somos sempre mais do que quem olha vê. Felizmente, somos sempre mais do que quem vê quer ver.



2 comentários:

gralha disse...

Isso é das maiores limitações humanas: reduzirmos o outro consoante o nosso olhar apaixonado/ferido/inebriado/rancoroso. Mas é o que todos fazemos, com maior ou menor frequência. Se tivermos consciência disso já não é nada mau.

Alda Couto disse...

Mas todos nós aspiramos àquele ou àqueles capazes de nos ver como o tanto que somos :)
É uma característica terrível essa de não dizer na hora H o que nos vai na alma. Acaba-se sempre acumulando rancores, como tu dizes e muito bem. Mas não é fácil também, dizer o que se sente, principalmente se temos de o fazer a quem gostamos e o que há a dizer não é assim tão agradável. É preciso ter coragem. Coragem, e a frontalidade que se vai adquirindo à medida que a vida se acumula em nós.
Mesmo assim - mesmo depois de passarmos a ser capazes de dizer quase tudo a quase toda a gente, ainda ficam umas pontas que nos calam e nos obrigam a inventar uma outra forma de perdão que não passe pela frontalidade. E olha que não é fácil! Nada fácil.