30 de dezembro de 2008

Quem é quem?

Sabem quem é o Milton Barros, a Ary, o Big Nelo, o Paul G e os Armysquad? Conhecem os Queima Roupa, o Carlos Burity, Papa Ngulo ou o Jorge Antunes? E a Karine Manita, a Érica Nelumba ou a Elizabeth Santos?

Eu conheço-os a todos. Sou ou não sou uma pessoa bem relacionada?

Legenda:

Milton Barros - desportista
Ary - cantora
Big Nelo - cantor
Paul G - cantor
Armysquad - grupo musical
Queima Roupa - grupo musical
Carlos Burity - cantor
Papa Ngulo - actor
Jorge Antunes - apresentador de televisão
Karine Manita - Miss Angola 2000
Érica Nelumba - cantora
Elizabeth Santos - estilista

Cuca

Sim, eu bebo cerveja. E quando quero comprar vou ao prédio, em frente, acordo uma senhora que vem à porta de pantufos e dou-lhe 1000 kwanzas, em troca de um saco cheio de latas de Cuca. Fico sempre com a sensação que ela me quer levar para a cama.

E vou a Portugal

De férias, afinal. Chego a Lisboa dia 4 de madrugada. São 10 dias para descansar, lembrar-me do meu país e sentir saudades do que deixo. Uma dezena para regressar. Para querer voltar.

Vou abrarçar-te, pai. Vou beijar-te, mãe. Vou passar tempo contigo, sim.

Vou voltar a casa, só de passagem, mas vou.

Durante a minha ausência

Estive a um passo de ir embora. Estive de malas feitas, decidido a regressar a Portugal. Interessam poucos os motivos, interessa, isso sim, que acabei por ficar.

Frustrado, cansado, magoado e corrido imaginei-me de volta a casa (à de lá).

Acabei por ficar.

Fiquei pela terra, pelas pessoas, pelo cheiro, até pela poeira, pelos buracos na estrada, pelo engarrafamento, pelos vendedores no engarrafamento. Fiquei porque gosto de estar aqui. Porque o meu tempo não tem fim.

Fiquei porque me pediram para ficar. Fiquei porque me pediste para ficar.

Das boas festas

Os votos de boas festas são feitos de lugares comuns. Assim, este ano, o que eu quero mesmo é que vocês se danem.

Obrigado.

28 de dezembro de 2008

Sobre o Natal... em Angola

Esqueçam aquela história de um Natal passado na intimidade familiar, rodeados por gente que muito estimamos. Este ano foi diferente. Este ano foi muito diferente. Ainda assim, não faltaram as rabanadas, o bacalhau e as prendas (prendinhas, vá). Estiveram, sem falhar nas contas, umas trinta pessoas na minha sala.







15 de dezembro de 2008

Chocolate


Isto é, por enquanto, o que ando a fazer por cá. O primeiro programa foi mesmo para o ar. Em 72 horas, trabalhei 65, mas aconteceu mesmo.

10 de dezembro de 2008

8 de dezembro de 2008

A televisão do meu quarto

Já tenho uma televisão, já tenho uma televisão, já tenho uma televisão... no quarto.

Hoje, munido de 12 mil Kwanzas lá fui eu à Casacon (vende de tudo, cafés, bolos, sofás, camas - ai, camas - e também televisões, como se compreende) comprar a minha maravilhosa televisão de 15 polegadas. É tão pequena que dificilmente conseguirei, algum dia, ver alguma coisa através dela. Fica a intenção, pelo menos.

Agora, só me falta esperar pela Lifebox. Com ela, quando ela chegar, vou fazer uma coisa que muito gosto: tocar-me enquanto vejo a Anatomia de Grey.

21 de novembro de 2008

Notas de Angola IV

E bom fim-de-semana.

Nota: Por um erro de paginação, não verificado na revisão, o artigo "4" ficou misturado, a dada altura, com o "3". Assim, a vossa leitura deve terminar em "intenção", no penúltimo parágrafo. O erro não foi meu, mas ficam com as minhas desculpas.

(clicar para ampliar)

20 de novembro de 2008

De ler

Eu escrevo, não é? E depois de ter escrito, leio. E depois de ter lido, corrijo. E volto a ler. Às vezes até leio uma terceira vez.

Depois de ler publico. Tem dias em que não publico.

Se publico, leio.

Leio e acho que falta qualquer coisa.

Acho que falta qualquer coisa e nunca acrescento nada.

Aculturação

Desde que vim para Angola a minha vida mudou radicalmente. O meu visual também.

Efectivamente

Neste blog não se fala de futebol, a não ser que Portugal perca 6-2 com o Brasil. Como esta madrugada...

17 de novembro de 2008

Carta à tua fé

Tu,

Não tenho memória da primeira vez que entrei numa igreja. Era muito novo, isso sim (semanas, talvez). O meu pai foi catequista vários anos, a minha mãe estudou num colégio de freiras e toda a família manteve sempre uma grande vivência católica.

Fiz a catequese (os tais 10 anos) e foi com naturalidade que se comentou o facto de, aos 16 anos, ter decidido ser catequista. E fui (ou sou, ainda) catequista até não há muito tempo.

Por isso, as linhas que se seguem falam mesmo de fé. É que, apesar de ter experimentado um pouco de tudo na igreja - além de catequista, fui leitor, voluntário e outras tantas coisas - só em 2004 descobri o verdadeiro sentido da palavra.

De facto, ter fé é mais do que um acto religioso. Pode sê-lo, sim, mas não o é necessariamente. Ter fé é, também, muito mais do que um exercício de crença. É uma entrega à certeza. Certos de um caminho, de uma opção, feita palavra, entregamo-nos a ela. Confiamos-lhe a nossa vida e deixamo-nos levar, sem reservas.

Dizia-te que, em 2004, quando ouvi falar de Taizé e enquanto fui descobrindo o dimensão do movimento (a grandiosidade da simplicidade) encontrei, também eu, o sentido da minha fé.

É impossível viver sem fé em alguma coisa. Esse acto de aceitação deixa-nos tranquilos. "Sim, creio".

O desafio de Taizé é uma vida em confiança. Trata-se de uma comunidade de monges que vivem em pobreza, não longe de Lyon. Ela foi fundada pelo irmão Roger, com o objectivo de ajudar os refugiados da Segunda Guerra Mundial. O altruísmo deste homem comoveu outros, que se lhe juntaram na demanda da justiça humana. Apesar das dificuldades com que se deparou, Roger nunca desistiu. Acreditou. Teve fé. Percebeu também que é "o essencial que torna a vida comunitária possível".

Ter fé é, por isso, também, não resignar. Uma forma de louvar o não conformismo. Encontrar, na crença, um impulso para a mudança. Fazer da possibilidade uma certeza.

Nada é tão definitivo que seja eterno.

Se fosses gente de fé em Deus dir-te-ia que Ele está a caminhar a teu lado, que Cristo pega em ti ao colo (e recordo-me das "Pegadas na Areia"). Não sendo - não és, pois não? - privo-te que quando te sentires ausente de amparo eu próprio pegarei no teu corpo exausto e levo-te até um lugar seguro.

Desiste do que quiseres, só não desistas de ti. Tem fé.

N.

A minha empresa dá-me tudo

Quando cheguei a Angola foram-me buscar de Lexus. Hoje trouxeram-me a casa assim...

14 de novembro de 2008

Incertitude

E depois desapareceu. Não deixou rasto, não fez sentido, sentindo-se, contudo. Ainda há pouco estava por aqui e agora, surpresa, partiu para parte incerta e é nessa “incertitude” – é um neologismo, sim - que a inquietação se retém.

Não há partes incertas. Não existem, não são reais. As partes incertas - olá boa tarde, muito prazer - são apenas desconhecidas por quem procura.

Portanto – já me apresentei? – dispenso justificações, clarividências ou demagogias. Também passo essa tentativa de conforto, que mais não é do que um exercício de retórica. Não me convenço assim tão facilmente. Incertamente, a parte incerta há-de estar em qualquer lado. Só se lhe desconhece o paradeiro. Não à parte, mas à coisa que está na parte… incerta, pois.

A coisa que à e a coisa que há é incerta como e na parte incerta – afinal já nos tínhamos mesmo apresentado - pois.

Dá-me jeito saber de ti. Até porque não estás incerta. Eu é que não conheço a tua certeza.

'A Kiss is Not a Contract'

Oh Raminhos, porra que isto é mesmo bom pá!

11 de novembro de 2008

Chuva de Verão

Raio de sol beija a pele de uma criança que ri
Há tanto tempo que a àgua da vida não caía aqui.

Obrigado, S.


5 de novembro de 2008

Obrigado

E mesmo que seja apenas por algumas horas, por dias ou meses. Se não passar de uma ilusão, se, ingénuos, acreditarmos que é mesmo possivel mudar, então que nos bastem esses fragmentos de tempo.

Se lhe faltarem outros atributos, eis o homem que tem o poder de fazer a humanidade sonhar.

3 de novembro de 2008

Acabei de pronunciar uma frase que é digna de figurar neste blog, contudo, porque amo a vida, não a vou transcrever. Disse.

A casa (em Angola)

Em Luanda, o projecto Nova Vida construiu um imenso bairro, com dezenas de prédios que variam apenas na tipologia dos apartamentos. É aí que moro. MJ1, o meu prédio.

O objectivo do Nova Vida é ser o paradigma de uma nova cidade, onde a paisagem urbana seja menos agressiva e mais ordenada. Há uma preocupação de planeamento, muito mais do que um cuidado estético. Não é uma zona bonita, mas é uma área limpa, pensada, projectada e isso acaba por fazer toda a diferença.

Obama

O McCain não é descendente da família Bush. Aliás, o homem tem tanta idade que, quanto muito, seria ascendente. Não sendo nem uma coisa nem outra, dificilmente terá grandes amigos no Supremo. Assim, Obama deve ganhar as eleições de amanhã.

O mundo depositou tantas e tão épicas esperanças no senador Barack que, necessariamente, o seu mandato será uma desilusão. Obama pode ter ares de profeta, mas está longe de ser Deus. Nunca, em qualquer circunstância, a sua governação poderá ser metade do que o mundo deseja: seja um quarto e já ficamos a ganhar.

Só a morte do próprio preservaria o mito. Este blog já manifestou o seu apoio a Barack Obama, mas este blog questiona-se do que haverá para lá da fé.


O assalto (versão abreviada)

Tinha um texto enorme, pronto a ser usado como justificativo da parvoice que fiz este fim-de-semana. Acontece que Deus, no momento da concepção - oh Deus tu que tudo sabes, tudo podes e tudo etc., não me lixes a vida, não? - esqueceu-se - foi esquecimento, bem sei - de garantir que a minha existência seria pautada de uma grande elevação intelectual. Assim, apaguei o que escrevi e o blogger não tem undo.
Resumindo: Roubaram-me a mala gay com que costumava andar e a culpa foi minha que a deixei onde não era suposto.

É isto. Obrigado.

31 de outubro de 2008

A (verdadeira) guerra das nações


Trabalho numa empresa angolana, gerida por portugueses e passo o dia num edifício em obras feitas por brasileiros, apesar de me terem dito que seriam chineses.

Vivo numa casa projectada por cubanos e tenho água quente graças a uma caldeira inglesa, que vem da África do Sul.

23 de outubro de 2008

A primeira vez

Já tive a minha primeira vez. Conduzi em Luanda. Certo que foi de noite, que não havia quase ninguém na estrada e que o trajecto não durou mais que uns escassos 20 minutos, mas ainda assim, o feito conta para a história.

Consegui ficar impressionado com um ou outro doido, consegui enervar a pessoa que ia ao meu lado (e que até é dona do carro) com a minha mania de respeitar o código da estrada (português, pelo menos) e logrei não bater em nenhum carro ou atropelar qualquer peão.

A experiência serviu também para perceber que ainda sei usar a caixa de velocidades, o travão e aqueles dois outros pedais... como é que se chamam?

21 de outubro de 2008

Uma nova cara

O blog tem dois anos. Desde a sua fundação já lhe foram conhecidas muitas caras. O preto dá agora lugar ao branco luminoso e ao vermelho vivo. Troco também a minha identidade. Assumo o nome próprio e coloco de lado o "nickname" que usei desde a fundação.

O resto fica como até aqui. Temas variados, de interesse relativo. Aqui cabe tudo: Futilidades, política e desporto (ok, pouco desporto, de facto). Cabe também a minha nova visão do mundo, motivada pela coordenada geográfica em que acordei há coisa de dois meses. Por vezes, imagine-se, um ou outro desabafo.

Espero que não se importem, afinal a casa também é vossa... embora seja minha, em primeiro lugar.

18 de outubro de 2008

A verdade aos olhos do Messenger


Discurso de agradecimento

Muito obrigado, muito obrigado.

É para mim uma honra receber o prémio "A Noite Mais Longa" e quero dedica-lo, por inteiro, ao meu motorista. Januário, homem de palavra, obrigado por teres adormecido. Foi bom ficar à porta da discoteca até às 5 da manhã. O que vale é que aquilo fechou cedo e o estacionamento ficou vazio. Bem sabes que não gosto de confusões e sempre quis ficar apeado em Luanda com três portugueses.
Este prémio é para ti, meu caro.

17 de outubro de 2008

16 de outubro de 2008

Dos leitores

Não sei deva ficar contente ou simplesmente temer por mim próprio. O advogado José Maria Martins consta da lista de leitores do meu blog. Olá viva, senhor Dr.

13 de outubro de 2008

Estivesse eu em Portugal e daria tudo para não perder esta:

"Café Portugal"

Originalmente apresentada ao público na Eslováquia, a propósito da visita do Presidente da República ao país, "Café Portugal" apresenta um conjunto de obras, de 21 artista, que partem de um mesmo ponto: o café enquanto lugar de disussão política, social e cultural.

Ângela Ferreira, João Pedro Vale, Joana Vasconcelos e Manuel Botelho são alguns dos autores presentes na mostra que pode ser vista no Fórum Eugénio de Almeida, em Évora, até 18 de Janeiro.

A caldeira: o grande final

Sábado, depois de vários dias de incerteza, chegou ao fim a saga da caldeira. Estando a nova montada, as medidas tiradas e a esperança instalada, eis que a solução encontrada para haver água quente no apartamento foi: Ligar a caldeira antiga!

10 de outubro de 2008

Ai estes óculos...

Eu tenho uma estima especial pelos meus óculos. A paixão é tal que, nem à noite, no momento de recolher, ouso tira-los da cara. Não são raras as vezes em que adormeço com eles postos. A proeza correu sempre bem... até ontem.

Estava eu entre os lençois e Albert Camus, quando fecho subitamente a pestana. Na revolução do leito perco os óculos, que ficam aconchegados entre os meus muitos quilos e a parede.

Hoje - usa-se muito em África - dou por mim com um novo olhar sobre o mundo. Vejo tudo com riscos, numa permanente imperfeição visual.

Resultado, ainda não tinha mandado vir nada de Portugal e estreio-me com duas lentes graduadas da Zeiss.

CONTINUAMOS A APRESENTAR: Relatório de instalação de uma caldeira (parte III)

Dia 30 de Setembro: Colocação da caldeira dentro de casa.

Dia 1 de Outubro: "Esfuração" da varanda.

Dia 2 de Outubro: Nada a registar.

Dia 3 de Outubro: Colocação dos camarões no local da esforação.

Dia 6 de Outubro: Caldeira pendurada nos camarões.

Dia 9 de Outubro: Samuel entra em casa e mede uma parede ao acaso.


Updates em breve.

6 de outubro de 2008

E o prémio "homofóbico que diz que não é, mas não há ninguém como ele" vai para:

João César das Neves, pelo seu artigo de hoje no Diário de Notícias:

"Apesar de tudo o número de coabitações de irmãos, tios, sobrinhos ou amigos é maior que a dos gays, para não falar dos casos de poligamia, incesto e pedofilia, que a mesma sociedade (ainda) insiste em repudiar. Porquê esta obsessão com uma situação particular?"

(...)

"A grande maioria da população considera a homossexualidade uma depravação, um acto intrinsecamente desordenado e contrário à natureza. Não se trata de um preconceito, mas de uma opinião válida e legítima a ponderar. E não deve ser confundida com homofobia, que é agressão ou discriminação de pessoas."

3 de outubro de 2008

27 de setembro de 2008

A piscina é já ali ao lado

Finalmente o condomínio onde estou a morar já tem piscina. Há muito que os moradores reivindicavam do INEJ, entidade que gere o espaço, a abertura do mesmo.

Em final de mandato, a actual direcção brindou todos com a abertura do local de descanso e diversão, introduzindo, aliás, algumas alterações na disposição do espaço. A partir de agora, a própria da piscina funciona no apartamento 32, pelo menos a julgar pela quantidade de água que eu tinha em casa, quando regressei de uma ida ao Jumbo (em Luanda, sim!).

Pouca coisa: 3 cm de altura, tirados à força de pás de cozinha ("há que contornar", já dizia a outra).

Aproveito para agradecer à minha empregada por ter deixado a torneira da banheira aberta, com a tampa no ralo. Muito bem, minha menina. Muito bem, mesmo! Tanto favor sexual que tu me deves a partir desta tarde!

Protesto

Às 7:45 da manhã fui acordado por um martelo pneumático que, ruidosamente, partia uma parede, dois andares por cima do meu. Estão a ampliar o wc mais pequeno dos apartamentos alugados onde vivemos.

Fiquei muito mais aliviado quando constatei que existem dois homens, para 20 apartamentos. Vai ser uma obra rápida, portanto.

26 de setembro de 2008

Notas

Artigo publicado hoje em Portugal. Fiquem com ele e bom fim-de-semana.

Clicar na imagem para ampliar.

21 de setembro de 2008

Ai os buracos

O presidente da empresa que presta abastecimento de água à capital, em declarações à Rádio Nacional, justificou uma série de obras, que vão implicar vários cortes no abastecimento, dizendo que "o ano passado aconteceram várias roturas, aproximadamente cerca de quatro".

18 de setembro de 2008

Miramar


Em Luanda, num alto a partir do qual a cidade de estende a nossos pés, há um cinema. Chama-se Miramar. Ao ar livre – calor a quanto obrigas – está hoje meio ao abandono. O ecrã, outrora branco, é agora uma gigante tela cinzenta, na sombra do esplendor que figura, por enquanto apenas, nos compêndios de histórias ou nas memórias de “estórias”.

Quantos heróis salvaram inocentes? Quantos beijos apaixonados? Quantos enamoramentos aquela gigante montra de sonhos teve oportunidade de testemunhar na plateia?

O espaço, igual ao antes, está reduzido à missão de sala ocasional de espectáculos ainda mais ocasionais. O público já não é fixo, os filmes são outros e os enredos bem mais previsíveis. Ainda se vê o mar, a baia e a cidade. Vê-se como é e imagina-se como foi. Só.

15 de setembro de 2008

Um jeito diferente de ser...

Ele é Tókinho, artista de rádio nas horas vagas. Aos Sábados, entra no Submarino Angolano e, entre as 18h00 e as 19h00, na antena da rádio LAC, dá música dos Beatles para toda a cidade de Luanda.

A história da LAC é muito peculiar. Foi fundada por dissidentes da Rádio Nacional de Angola e vive, há 17 anos em contentores, num espaço improvisado, que proporciona, ao visitante, uma estranha sensação de conforto.

Alucinado, como poucos, Tókinho é um verdadeiro rei da rádio. Recebe visitas e manda recados, por entre cigarros. Por entre muitos cigarros.

Há mais fotos, aqui.

9 de setembro de 2008

Foi-se a Marlene

Mudei de apartamento e com a mudança troquei também de empregada. Foi-se a Marlene. Agora há uma Ângela. Já fui repreendido pela primeira, por ter "saído de casa" e comprometi-me a visita-la com regularidade.

Não deixa de ser significativo que as primeiras kambas que faço em Angola sejam empregadas domésticas.

iPod Angolano


8 de setembro de 2008

Recadinho:

Para todos aqueles que, em Lisboa, teimosamente, perguntam "que horas são aí?", a minha indignação, travestida de carinho: porra, é a mesma hora que aí!

Moeda angolana

Em 2000 Angola adoptou o Kwanza como moeda oficial. O novo kwanza substituiu o velho, a uma proporção de 1 para 1000 (e obrigadinho Wikipedia).

Não existem moedas, pelo que é comum termos a carteira cheia (muito cheia, aliás) de notas que, todas somadas, dão para comprar pouco mais do que uma cuspidela de boi, que é uma coisa que, parece, usa-se muito aqui em África.

Ora, depois de terem constatado o quanto eu sei de política monetária, aqui vai mais um ensinamento.

Notas de kwanza:

1 kwanza
2 kwanzas
5 kwanzas
10 kwanzas
20 kwanzas
50 kwanzas
100 kwanzas
200 kwanzas
500 kwanzas
1000 kwanzas
2000 kwanzas

Ora, sem moedas de cêntimos, por exemplo, a vida pode ficar bem complicada, porque os preços não são lineares.

Hoje, no supermercado local, perante uma conta dificil, o operador de caixa achou justo facilitar a vida a si próprio e o troco foi dado com a ajuda de... pastilhas elásticas!

And I rest my case.

4 de setembro de 2008

Afinal, de que rabos gostam eles?

A resposta amanhã (talvez).

Espera eleitoral

A partir de hoje e até Domingo aguardam-me vários dias de clausura. As eleições – e tenho uma mesa de voto à porta de casa – fazem parar o país, seja por tolerância de ponto do Presidente, que o povo chama de Zé Du, ou por receio do que possa acontecer. Um dia basta para levar às urnas os muitos milhões de eleitores angolanos, mas serão precisos vários para a divulgação de resultados, que deve acontecer lá para o final da próxima semana.

3 de setembro de 2008

Marlene, essa estranha mulher

A Marlene é a minha empregada.

A Marlene faz-me o pequeno-almoço, o almoço e o jantar.

A Marlene desmancha a minha cama e diz que “assim não fica bem, os lençóis têm que ficar esticados, para conseguir dormir bem”.

A Marlene muda as coisas de sítio, “porque as coisas têm que ficar onde no sítio delas”.

A Marlene dobra-me a roupa tudo, até a suja.

A Marlene canta enquanto trabalha.

A Marlene ralhou comigo, hoje de manhã, porque às sete e meia ainda estava de pijama.

A Marlene ralhou comigo porque deixei arrefecer as torradas.

A Marlene tomou banho e deixou as cuecas – vermelhas, de renda – na casa de banho.

A Marlene mandou-me esperar e, com um guardanapo, limpou-me uma ramela.

A Marlene é bem capaz de me dar umas palmadas se eu fizer asneira.

A Marlene foi à rua e por isso é que estou a escrever este texto.

Constatação angolana, a dois dias das eleições

Se é certo que devia estar a trabalhar desde as 9:00, não é menos verdade que não posso ir a lado nenhum. Os motoristas não apareceram. O Presidente deu tolerância de ponto.

2 de setembro de 2008

Uma bola

Numa terra onde é mais fácil comprar gasolina em bidões, vendida por miúdos, à beira da estrada, comprar uma bola de basquete seria, tendencialmente, uma tarefa difícil. Mas não. A primeira tentativa foi vitoriosa.

A ideia original: aproveitar o campo de jogos do condomínio onde estamos e mexer o corpinho, por estes dias já habituado aos estofos do Lexus.

Se aqui se paga 50 euros num restaurante médio, para comer sem sobremesa, quanto custaria uma bola? Não tanto, por certo, mas não tão pouco quanto menos de 5.

De facto, parece que o basquetebol é um desporto de eleição, o que torna a compra de acessórios mais fácil, numa cidade onde quase tudo está longe da vista, “perto do coração”.

Maya Cool

Pais Novo - Maya Cool

Um dos sons do momento recebe a assinatura de Maya Cool. A música "País Novo" transformou-se, rapidamente, numa espécie de novo hino do país, até porque define aquilo que Angola quer ser.

1 de setembro de 2008

A extensão

Viver em Angola, viver em África, implica ser-se capaz de abdicar de uma série de pequenos luxos a que estamos habituados, como ter transporte ali à mão (por enquanto, pelo menos). Não há transporte facilitado, nem fica tudo "ali ao lado". Demora-se duas horas a percorrer a cidade de uma ponta à outra, não porque seja grande, mas porque é confusa, caótica, se preferirem.

Ainda estranho estar dependente de um motorista para ir a qualquer lado. Ainda duvido que não seja normal sair depois do jantar para tomar café não longe de casa, mas hoje, ao fim de duas noites, acordei e já sabia onde estava.

Precisamos de extensões triplas. Missão razoável? Nem pensar! De facto, a simples intenção de ligar à corrente um candeeiro, longe da tomada, está sujeita à possibilidade de se arranjar, ou não, o dito cabo. Fez-se o pedido. Aguarda-se resposta.

Valha-nos ter o frigorifico cheio de comida. Isso e o calor, tão próprio. O ar, que se respira diferente. O cheiro, que se sente mais forte. A terra, que se apresenta mais vermelha.

31 de agosto de 2008

Uma cidade louca

Luanda é uma cidade louca. Vendedores no meio da rua, competem o espaço com os carros nas enormes filas que antecedem qualquer rotunda ou cruzamento.

Muito lixo e muita improvisação. Em cada percurso cruzamo-nos com centenas de jipes e dezenas de Toyotas, deambulando, quase tão ao acaso como os peões. Afinal, não há exactamente faixas de rodagem. Apenas uma estrada, ocupada, na sua largura, por tantos carros quantos os que couberem lado a lado.

Faixas improvisadas e enormes cartazes fazem as honras. Afinal, estamos a uns dias das eleições legislativas, as primeiras desde 1992.

“Apatia”, descreve a imprensa internacional o estado de espírito dos Angolanos perante a chamada às urnas. Não sei se o será. Talvez receio que se repitam os graves conflitos que se seguiram a outros actos eleitorais.

Dia 5 – talvez só uns dias mais tarde – se verá se a história se repete.

25 de agosto de 2008

Um pouco de religião (em jeito de desabafo)

Passeava-me ontem por Évora e decidi, porque não conhecia o monumento, visitar a Sé. Ao chegar à porta, qual não é o meu espanto quando verifico que o acesso ao interior está sujeito ao pagamento de um determinado valor. De resto, uma fila de turistas formava-se até à “recepção”.

Convencido de que apenas se pagaria para visitar uma determinada parte museológica do espaço, observo mais atentamente o preçário. Não. Afinal, a primeira impressão estava certa: Queres ver Cristo? Então abre aí a carteira.

Não é a primeira vez que, em Portugal, assisto a tal fenómeno. Nesta, como noutras situações, virei as costas e desci a rua.Acho ofensivo, irónico até, que o acesso a um lugar sagrado seja, desta forma, vilipendiado.

Que se cobre o acesso a determinadas partes – dessacralizadas – da “casa do Senhor”, mas que não se vede o acesso gratuito e livre ao altar.

Visto ter passado, a bem da pureza da fé, o tempo da dízima, os profetas de Évora conseguiram encarnar, com mestria, a figura bíblica dos vendilhões do templo. Pois que o são eles próprios.

Argumentará, por certo, o douto clero, que durante as cerimónias religiosas as portas estão livremente abertas. Então o catolicismo só acontece com hora marcada?

Dirão ainda, achando-se na posse da razão, que a contribuição é a forma encontrada para manter o monumento. Mentira, pois que são mais que muitas as capelas, igrejas e catedrais deste país que estão abertas e estimadas, sem que para isso recorram à ingenuidade dos visitantes mais incautos.

Perante tão frouxas justificações, digo eu que aquilo que aqui se trata é da usurpação de um património que, erigido pelo Homem, ao Homem não pertence.

No fotógrafo

Com as fotos "tipo passe" na mão.

Eu, irónico: Epá, que homem mais bonito!

Funcionária, séria: Deixe lá, há bem piores.

22 de agosto de 2008

Festival Internacional de Máscaras e Comediantes


Começou ontem, no Castelo de São Jorge, o Festival Internacional de Máscaras e Comediantes. Trata-se da sétima edição de um evento que surge integrado nas Festas de Lisboa. Além do Castelo, também o Museu da Marioneta é palco das apresentações que vão decorrer até dia 31 e que têm em comum a máscara como elemento central.

Assisti ao espectáculo de estreia - Splash - e deixo os demais por vossa conta. Mais informações aqui.

Update sobre Angola

Para quem se tem perguntado sobre a minha ida para Angola, uma breve nota: A partida, inicialmente agendada, como se recordam, para 21 de Julho, já tem nova data. Não a revelo por enquanto, aguardando a confirmação de quem de direito.

16 de agosto de 2008

Deolinda

Os Deolinda apresentam uma nova abordagem ao fado. São frescos, são diferentes e muito engraçados. Música bem disposta.

Fica o video da passagem pela Antena 3.

13 de agosto de 2008

O jeito que a guerra lhe dá


Ainda que ao mundo ocidental, no qual nos incluímos – geograficamente falando – pareçam estranhos os motivos da guerra que a Rússia “declarou” à Geórgia, uma coisa é certa: a guerra deu-lhe um jeito imenso.

Pela primeira vez, desde que chegou ao cargo, o actual presidente russo consegue afirmar a plenitude do seu apelido, Medvedev, descolando de Putin. Ainda que o ex-presidente continue, porque continua, a ter grande influência no Kremlin, o que o actual ocupante da “casa do poder” russa recolhe, depois da cruzada bélica na Ossétia do Sul é uma grande dose de protagonismo.

Mais do que meia dúzia de discursos bem feitos, eloquentemente afirmados, perante uma ruidosa multidão, que se rende às palavras do seu líder, a guerra, ou se quiserem, “A Guerra”, consegue fazer dos homens que a protagonizam, figuras míticas. Agora, certamente que a História dos povos não se vai esquecer desse apagada figura.Ela fica-te mesmo bem, Dmitri.

12 de agosto de 2008

O espanto dele

George W. Bush mostrou-se hoje totalmente "contra a invasão da Rússia a um país soberano", o Iraque... perdão, a Geórgia.