Tu,
Não tenho memória da primeira vez que entrei numa igreja. Era muito novo, isso sim (semanas, talvez). O meu pai foi catequista vários anos, a minha mãe estudou num colégio de freiras e toda a família manteve sempre uma grande vivência católica.
Fiz a catequese (os tais 10 anos) e foi com naturalidade que se comentou o facto de, aos 16 anos, ter decidido ser catequista. E fui (ou sou, ainda) catequista até não há muito tempo.
Por isso, as linhas que se seguem falam mesmo de fé. É que, apesar de ter experimentado um pouco de tudo na igreja - além de catequista, fui leitor, voluntário e outras tantas coisas - só em 2004 descobri o verdadeiro sentido da palavra.
De facto, ter fé é mais do que um acto religioso. Pode sê-lo, sim, mas não o é necessariamente. Ter fé é, também, muito mais do que um exercício de crença. É uma entrega à certeza. Certos de um caminho, de uma opção, feita palavra, entregamo-nos a ela. Confiamos-lhe a nossa vida e deixamo-nos levar, sem reservas.
Dizia-te que, em 2004, quando ouvi falar de Taizé e enquanto fui descobrindo o dimensão do movimento (a grandiosidade da simplicidade) encontrei, também eu, o sentido da minha fé.
É impossível viver sem fé em alguma coisa. Esse acto de aceitação deixa-nos tranquilos. "Sim, creio".
O desafio de Taizé é uma vida em confiança. Trata-se de uma comunidade de monges que vivem em pobreza, não longe de Lyon. Ela foi fundada pelo irmão Roger, com o objectivo de ajudar os refugiados da Segunda Guerra Mundial. O altruísmo deste homem comoveu outros, que se lhe juntaram na demanda da justiça humana. Apesar das dificuldades com que se deparou, Roger nunca desistiu. Acreditou. Teve fé. Percebeu também que é "o essencial que torna a vida comunitária possível".
Ter fé é, por isso, também, não resignar. Uma forma de louvar o não conformismo. Encontrar, na crença, um impulso para a mudança. Fazer da possibilidade uma certeza.
Nada é tão definitivo que seja eterno.
Se fosses gente de fé em Deus dir-te-ia que Ele está a caminhar a teu lado, que Cristo pega em ti ao colo (e recordo-me das "Pegadas na Areia"). Não sendo - não és, pois não? - privo-te que quando te sentires ausente de amparo eu próprio pegarei no teu corpo exausto e levo-te até um lugar seguro.
Desiste do que quiseres, só não desistas de ti. Tem fé.
N.