19 de maio de 2009

33H

Tenho a carteira cheia de notas de 10, tantas que não a consigo fechar. As notas de 10, e as de 5, também, circulam ao ritmo da vida: acelerado. Não é que tenham grande valor, como a vida, volátil, mas são tantas e tão chatas que qualquer pretexto é bom para as despachar.

Em rigor, a minha carteira está quase sempre assim. Se calhar devia fazer como o Ricardo e guarda-las. Tivesse ele falado disso antes e talvez eu próprio fosse hoje um coleccionador de notas de 10. Em cada uma teria escrito uma memória, uma história, um episódio. Sobrariam as narrativas, por falta de notas.

São 9 meses disto, aqui. Fora o que se faz, há tão pouco para fazer que tudo parece imenso. Por falta de distracção, concentramo-nos nas coisas simples. Simples demais, às quais não daríamos importância, não fora o facto de andarmos entretidos com nada, além do circunstancial.

No fundo, é uma estupidez esta maneira de levar a vida. Vai-se da paixão ao desamor num fragmento de segundo, de novo à paixão e daí sabe-se lá para onde. Se agora somos líricos, a seguir seremos é uns grandes idiotas porque perdemos tempo com poesias.

Tenho África entranhada. O calor abre-me os poros e a poeira enche-me a pele de coisas que não consigo definir melhor do que isto.

Tudo é tão rápido, só o tempo demora a passar. Não é que seja penoso, apenas demasiado intenso, real e longe da saída para se fugir “em caso de emergência”.

Ninguém passa por aqui e continua igual a si mesmo. É-se – sou – uma metáfora (na melhor das hipóteses) do que estava convencido ser. Ao olhar do espelho sou mesmo eu, mas o tipo que se reflecte é quanto muito um heterónimo do 33H, TP257.

Não sei quanto tempo é que isto ainda vai durar. Já percebi é que não vai acabar no dia em que me for embora.

6 comentários:

Sereia disse...

Não há ninguém que tenha ido a África sem falar no seu cheiro sem igual, nas suas paisagens únicas, no tempo que parece não passar por lá e em como tudo isto se entranha e se torna inesquecível.
Eu não sei porque nunca pisei essa terra mas sei é que devias poupar essas notas em vez de as gastares em cucas!

anDrEIA disse...

Caro Nuno,
Um mero acaso deu-me a conhecer o teu blog e tenho vindo a segui-lo desde então. Este post merece o meu primeiro comentário pela maneira como falas dessa África entranhada. Senti na pele o significado de "ninguém passa por aqui e continua igual a si mesmo". Os cheiros, as cores do pôr-do-sol, os sorrisos, o tempo que parece não passar e aquele viver tão típico dos seus povos.
Embora só tenha estado de férias em Moçambique por duas vezes, deu para sentir isto tudo e muito mais. Uma coisa é certa, voltei sempre com vontade de voltar... uma e outra vez :)

andorinhaavoaavoa disse...

Não amigo! Ninguém volta igual! Piores ou melhores, crescemos muito com todo esse tempo que não passa, com os sentimentos à flor da pele e com a sensação de as coisas simples são afinal as mais importantes.
Aí damos valor a tudo e a nada, ao circunstancial e ao que realmente vale a pena.
E não acaba...

gralha disse...

Gostei muito deste post e também gosto da renovação do look.

António Raminhos disse...

Anda para cá pá! Temos tanta coisa para fazer os dois... (ui que isto soou a bichanice)

AR


www.antonioraminhos.blogspot.com

Miss Kin disse...

Gostei mto do texto.
Diz quem sabe q esse é continente q se estranha, mas q depois se entranha, e quando isso acontece, trazêmo-lo connosco para sempre e faz-se sentir em mtos aspectos da vida.

Como costumamos dizer "África é África!"