Não sei o que é que me faz gostar assim tanto das lojas de velharias. De início concentrei-me nos cheiros, pesados, húmidos, depois na habitual pouca luz. Não sei o que é que me faz gostar assim de lojas de velharias, mas tenho uma pequena ideia. Acho que é a história que nelas se escreve.
Para ser sincero, nem sequer estou a falar das relíquias que só um olho treinado encontraria num espaço lúgubre como é uma loja de velharias. Aquilo de que eu gosto mesmo é daqueles objectos que nunca ninguém irá comprar. Afinal, são eles que nos levam até à vida de alguém. Imaginar que aquele “aquilo” teve um dono – talvez até mais do que um – é ‘cousa’ à qual não se fica, digo eu, indiferente.
Gosto especialmente de pentes. A par das escovas de dentes, os pentes são dos objectos mais pessoais que temos. Dificilmente partilhamos, de bom grado, a nossa caspa com alguém. Queria ser capaz de perceber neles coisas sobre quem os usou. E vai daí interrogo-me: que idade teria? Cabelo comprido? Encaracolado ou liso? Não percebo nada através deles. Não percebo nada e tenho pena, mais não seja porque este texto ficaria muito mais bonito se eu tivesse uma história para contar.
Foi numa dessas frustrações que encontrei, certo dia, um molhe de cartas. Dentro de uma caixa, em envelopes amarelecidos, misturados com outros envelopes amarelecidos, estava a correspondência amorosa trocada durante anos entre um soldado e a sua amada.
Li a primeira, li a segunda e à terceira decidi que compraria, sem cuidar do preço, todas quantas encontrasse. Já em casa, organizei a novela amorosa – em 22 capítulos – numerei-a e pus-me a par. Que amor, aquele. Cheguei ao fim com o propósito de encontrar os autores das cartas. Uma bela demanda em perspectiva, ou não fosse o enredo datado dos anos 50.
Fui à morada da Maria Isabel – assim se chamava - numa rua de Lisboa, num prédio com o mesmo cheiro das lojas de velharias. Bati à porta certa, mas ninguém a abriu. Perguntei a alguns vizinhos mais antigos e nenhum me soube responder. Acabou por ser numa troca de favores que descobri que o “Do teu…” estava muito doente num lar em Santarém. Sobre ela, nada.
Gostava de lhe ter devolvido as cartas, mas o tempo passou e a vontade também. Não ficou, sequer, a intenção. Apenas a vontade de um dia escrever sobre isto.
Para ser sincero, nem sequer estou a falar das relíquias que só um olho treinado encontraria num espaço lúgubre como é uma loja de velharias. Aquilo de que eu gosto mesmo é daqueles objectos que nunca ninguém irá comprar. Afinal, são eles que nos levam até à vida de alguém. Imaginar que aquele “aquilo” teve um dono – talvez até mais do que um – é ‘cousa’ à qual não se fica, digo eu, indiferente.
Gosto especialmente de pentes. A par das escovas de dentes, os pentes são dos objectos mais pessoais que temos. Dificilmente partilhamos, de bom grado, a nossa caspa com alguém. Queria ser capaz de perceber neles coisas sobre quem os usou. E vai daí interrogo-me: que idade teria? Cabelo comprido? Encaracolado ou liso? Não percebo nada através deles. Não percebo nada e tenho pena, mais não seja porque este texto ficaria muito mais bonito se eu tivesse uma história para contar.
Foi numa dessas frustrações que encontrei, certo dia, um molhe de cartas. Dentro de uma caixa, em envelopes amarelecidos, misturados com outros envelopes amarelecidos, estava a correspondência amorosa trocada durante anos entre um soldado e a sua amada.
Li a primeira, li a segunda e à terceira decidi que compraria, sem cuidar do preço, todas quantas encontrasse. Já em casa, organizei a novela amorosa – em 22 capítulos – numerei-a e pus-me a par. Que amor, aquele. Cheguei ao fim com o propósito de encontrar os autores das cartas. Uma bela demanda em perspectiva, ou não fosse o enredo datado dos anos 50.
Fui à morada da Maria Isabel – assim se chamava - numa rua de Lisboa, num prédio com o mesmo cheiro das lojas de velharias. Bati à porta certa, mas ninguém a abriu. Perguntei a alguns vizinhos mais antigos e nenhum me soube responder. Acabou por ser numa troca de favores que descobri que o “Do teu…” estava muito doente num lar em Santarém. Sobre ela, nada.
Gostava de lhe ter devolvido as cartas, mas o tempo passou e a vontade também. Não ficou, sequer, a intenção. Apenas a vontade de um dia escrever sobre isto.
3 comentários:
És cá um romântico... =)
Imagina o que teria sentido se as tivesses devolvido...
Eu não gosto de velharias. Cheiram a vidas passadas e histórias já vividas!
Que bela encomenda me saíste, uma caixinha de pandora!
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