16 de setembro de 2009

Morreu de doença prolongada

Não sei o que é que se passa com a espécie humana, mas tenho para mim que coisa boa não é de certeza. Já repararam na quantidade de gente que, todos os anos, morre de “doença prolongada”?

Como sabemos, morrer de doença prolongada é, quase sempre, eufemismo para bater a caçoleta com um cancro e eu não me lembro de nos meus primeiros anos de vida assistir a este corrupio de óbitos tão sofridos. O que me chateia na morte não é tanto o acto em si. Havendo vida depois dela, encontramo-nos por lá. Não havendo, paciência… estarei morto, de qualquer maneira. O que me aborrece na morte é a possibilidade de ter consciência de que o meu desfecho está para breve. Detestaria que me dessem uma deadline para eu fazer tudo aquilo que ainda espero conseguir acabar.

As “doenças prolongadas” não são, não o são sempre, pelo menos, uma sentença de morte. Mas depois da fatídica conversa com o médico, o que é que poderia esperar do meu futuro? De que é que me valeria a vida sem imprevisibilidade?

Se morresse agora, sendo súbito, deixaria uma família desgostosa, um ou outro amigo entristecido e duas repórteres aliviadas (elas acham-me um horror porque as obrigo a fazer guiões e planos de reportagem). Contudo, nada disso me ralaria por aí além. O súbito costuma ser muito rápido e alguém haveria de fechar o programa desta semana e transferir o dinheiro para Portugal. Preferiria assim.

Antigamente, as pessoas morriam de velhas. Agora morrem de coisas terríveis que as levam para uma espiral de sofrimento durante anos.

Por isso é que eu acho que as doenças prolongadas foram feitas para serem vencidas com medicina e força de vontade. Elas são só chatas, como o IRS. Se fossem a sério levavam-nos num instante.

3 comentários:

Sereia disse...

Morrer já é mau, então se for de doença curta ou longa muito pior.
Como se costuma dizer eu quero uma coisinha rápida e sem sofrimento.

PS: a mim também me deixavas entristecida a não ser que me deixasses um livrinho de memórias,para poder matar saudades. Não o blog não chega, começa lá a tratar disso!

andorinhaavoaavoa disse...

Costuma dizer-se que a hora e forma como morremos só o destino conhece. Cada um com a sua, porque afinal é o mais certo que temos após o nascimento.
Não me deixavas entristecida, mas sim de rastos! Deixa-te de considerações doidas pá!
Love U

you know who disse...

Nem sempre as doenças prolongadas conseguem ser vencidas, apesar da medicina e da força de vontade.