31 de dezembro de 2009

Daqui a pouco...

... vou entrar neste avião (é mesmo neste, porque é a companhia só tem um)...

... e cinquenta minutos depois aterro aqui. Este ano a passagem de ano é no Mindelo. Divirtam-se.

2009

E Obama ganhou. Barack, que pelo meio até é Osama (onde é que ele anda?), chegou, sempre chegou, à Casa Branca e desde então, como se já não fosse assim antes, o mundo segue-lhe os passos e espera que o milagre aconteça. Obama é homem, afinal.

Quem é homem e isso faz dele um afortunado: Ronaldo, o nosso Cristiano. Mudou de país, nem tanto de vida. Elas foram vê-lo ao estádio, e eles não o deixaram vir à Selecção.

A Selecção lá vai ao Mundial e tem melhor sorte que a silenciada selecção de notícias de Moura Guedes à sexta-feira.

Para sempre calou-se Jackson. Depois de morto, continua a facturar, como terá facturado, em vida, um certo administrador, de um certo banco.

Na factura da farmácia, muitas Aspirinas para amenizar a dor de cabeça dos que ficaram sem emprego à custa da praga "crise".

Que se lixe! Meto-te uns cornos e mando-te calar. E se não sabem do que estou a falar, peguem no Magalhães do vosso filho e vão ao You Tube ver o vídeo.

Pesquisem também por Copenhaga, BPN (ou Banco Privado Português), G20, Susan Boyle, escutas a Belém e até Caim. Santinho.

28 de dezembro de 2009

Road to the world cup

A ligação é de toda a justiça. O João Fontes, com quem partilhei longas horas de reportagem pelas ruas de Luanda (ou nas infinitas estradas de Angola), o Tiago Carrasco, jornalista, e o João Henriques, fotógrafo, têm em mãos um extraordinário projecto.

Os três propõem-se a percorrer o continente africano, de Marrocos à África do Sul, ao encontro das tradições de cada povo e de cada país do grande continente. O mote é o Campeonato Mundial da África do Sul e a ‘redondinha’, que levarão com eles, o elemento de união entre cada paragem do roteiro.

Além da ousadia da ideia, o mais notável é a ingenuidade com que se lançaram à demanda. Uma ingenuidade que só consegue quem realmente acredita naquilo que persegue.

Aos primeiros dias de 2010, o João, o Tiago e o outro João vão começar a viagem das suas vidas. A epopeia vai ecoar pela imprensa – resultará depois num documentário – e pode ser acompanhada no blog criado para o efeito.

Aos três – e ao Fontes, em especial, pela amizade que nos une – que Joanesburgo não seja, como não será, uma miragem. Ide e conquistai. Ide e conquistai.

24 de dezembro de 2009

Iniciação ao crime fiscal

Era eu e sete mulheres. Arredámos as mesas e estávamos sentados numa roda imperfeita, a falar sobre a vida. Sobre a vida delas, muito mais do que sobre a minha. Não lhes perguntei como é que ali foram parar, mas elas, uma após a outra, contaram-me, quase com detalhe, o enredo que as fez ter as paredes cor-de-rosa do pavilhão dois como confidente. As 'estórias' são muitas, mas a história é só uma: todas fizeram merda em algum momento da vida.

Furtos e tráfico de droga. No essencial é isto.

Mais tarde chegou ao grupo uma outra mulher. Talvez 50 anos. Apresentou-se (ou apresentaram-na, já não me recordo). Jurista. Fez merda, como as outras. Roubou euros, só que com muitos zeros. Uma coisa em grande, portanto.

Não falou (ou voltou a falar) durante o encontro. Terminámos a reunião e marcámos encontro para daí por quinze dias. “Tragam ideias”. Estava dado o mote.

A jurista chamou-me. Tinha uma ideia. Sentou-se comigo numa mesa à parte e falou. Horas a fio. Contou-me o que queria contar, o que devia contar e o que era preferivel ter guardado para si. Despudoradamente, revelou as suas mais epopeicas façanhas no mundo do crime. Esquemas e mentiras, todas ali, reveladas ao pormenor, não fosse eu querer fazer igual.

Durante o fim de tarde e até ao toque para a contagem, fui aluno de um curso rápido de iniciação ao crime fiscal. No final, num último suspiro, já de pé, a caminho da porta da biblioteca, virou-se para trás e acrescentou: “Não imagina como estou arrependida do que andei a fazer. Felizmente, tenho muito tempo para pensar no assunto”.

Naquela tarde aprendi duas coisas: a) É muito fácil enganar o Estado; b) Nunca é tarde para recomeçar.

Recomecem agora, se for caso disso. Boas Festas.

22 de dezembro de 2009

De Londres

De Londres chegou este belo postal, com os cumprimentos da Cristina, essa querida amiga. Coisinha mais linda (e rabuda), muito obrigado!

18 de dezembro de 2009

Alterações climáticas

Nem sei como dizer isto, mas a verdade é que estou na Assomada, a uma hora da Praia e estou cheio, CHEIO, de frio. Estão 12 graus, um vento infernal e o céu está carregado de nuvens. Não para isto que eu vim para África. Não foi.

Sendo assim, espero bem que se deixem de merdas em Copenhaga, ou vou ficar sem sítio para viver. Merda.

15 de dezembro de 2009

O nada que tanto escrevo

Tenho escrito muito sobre economia, isso deixou-me a cabeça cheia de números. Tenho escrito muito sobre política, isso deixou-me a cabeça cheia de perguntas. Tenho estado muitas horas, muitos dias, no Parlamento, isso deixou-me a cabeça cheia de corredores, e escadas e portas abertas e portas fechadas e portas que, fechadas, se abrem.

Tenho escrito muito sobre muitas coisas. A maior parte das coisas que escrevo, não chegam, sequer ao papel. Estão na minha cabeça. Tomo banho e escrevo. Vou a pé para a redacção, escrevo. Tomo o pequeno-almoço, escrevo. Café, escrevo.

Claro, não escrevo assim tanto. Não escrevo tanto assim, mas quase.

Eu escrevo, oiço o que se diz sobre o que escrevi e continuo a escrever.

Escrevo tanto e, afinal, não escrevo nada daquilo que queria escrever. Aqui.

13 de dezembro de 2009

O meu pai, esse buda

E pronto, o meu pai chegou a velho e endoideceu. Como se já não bastasse saber tudo sobre ervas aromáticas e plantas medicinais, agora decidiu, acabei de saber, fazer um curso de meditação. Mas anda a ler um livro? Perguntei à minha mãe - coitada dela, sozinha a aturar isto. Não! Inscreveu-se na União Budista Portuguesa.

Chamei-o à conversa e o próprio confessou o desvario. "Ainda não cheguei ao Nirvana, mas vou conseguir", é a frase que marcará para sempre o ponto de viragem na minha relação com o meu progenitor.

Não sei bem o que é que vai sair dali, mas temo que da próxima vez que vá a Portugal seja recebido por alguém de cabeça rapada, com uma veste monástica, cor açafrão. Farei os possíveis para o acolher de braços abertos, mais não seja para o agarrar com força e dar-lhe a medicação.

Pai, descansa. Vou-te arranjar um neto para teres com que te ocupar.

10 de dezembro de 2009

Está desfeito o mistério

Afinal, contra todas as expectativas, não tenho um filho. A carta do tribunal é para me arrolar como testemunha num processo de 1934 (ou quase). Desiludam-se aqueles que já me imaginavam a passear o Tobias pela trela, nas ruas da Praia.

6 de dezembro de 2009

Déjà vu

Não sei porquê, mas sempre que chego a um novo país para trabalhar acabo por tirar um foto igual a esta:
Observem como em Angola eu já estava de boca aberta...
... embora tivesse mais roupinha no corpo.

4 de dezembro de 2009

E pronto, tenho um filho

Quer dizer, devo ter. Afinal, que outra justificação pode haver para o meu pai ter recebido uma notificação dos Correios para levantar uma carta em meu nome do Tribunal de Família e Menores?

Estava capaz de jurar que nunca fiz um filho a nenhuma das mulheres com quem mantive relações, mas pelos vistos a imprevisibilidade do cosmos reserva surpresas a cada esquina. Muito curioso, tudo isto.

Só não percebo porque é que a mulher que pariu o meu macaquinho não me disse nada sobre a concepção. Chiça, eu tive o cuidado de deixar o meu número de telemóvel a todas elas.

Além disso, tendo em conta que tenho sido particularmente fiel à minha mulher actual, o sujeito deve ser um matulão. Só espero que não se chame Tobias.

1 de dezembro de 2009

[ele] Diz que há petróleo em Cabo Verde

O jornal on-line Nha Terra publica hoje uma entrevista ao cabo-verdiano Odmir Teixeira. O homem garante a pés juntos que há petróleo no país, porque viu "algo na areia com pequeninas bolhas".

Está aqui um excerto da entrevista, que pode ser lida neste site. É um grande momento.

Quando, onde e como começou a procurar as provas?

Foi num dia em Fevereiro de 1998, saí de casa rumo a João d' Évora, Salamansa e Praia Grande. Quando cheguei na praia de João d' Évora, a maré estava baixa, muito baixa, pelo que decidí caminhar a beira do mar. A certo ponto de salto a salto, de pedra em pedra ví algo na areia com pequeninas bolhas.

Parei, ajoelhei e comecei a bater com a palma da mão direita no chão por segundos, parei e passado agluns segundos as bolhas reasurgiram um pouco mais alto, pelo que depois tomou a normaidade anterior. Repeti esta operação tres vezes e da última vez cheirei o chão e cheirava petróleo puro.


Quais foram as suas reações no momento?

Procurei numa pequenina praia próximo do local e encontrei algumas garrafas de plástico, enchi três garrafas daquela areia com água do mar e segui o meu caminho. Cheguei em Salamansa, como não tinha levado comigo ferramenta alguma, desisti de procurar o que tinha ido a procura, regressei à casa todo contente.

Quando cheguei a casa chamei duas irmãs e uma sobrinha para lhes dar a notícia, pois não conseguia aguentar aquilo tudo sozinho.

Porém, mal saí elas telefonaram a uma terceira irmã que reside em Holanda, dizendo-lhe que estavam preocupadas porque talvez estivesse dando sintomas de problemas mentais. Depois disto, de vez em quando, eu comentava sobre isso, mas eu era ignorado.


Que medidas que tomou?

Como cidadão canadiáno, regressei ao Canadá no dia 15 de Maio de 1998 e levei as três amostras -- garrafas com a areia e água do mar --, para serem submetidas a análises laboratoriais, para ter confirmação ciêntifica da minha descoberta.

29 de novembro de 2009

E se não é a minha Lena muito querida...

Olhem-me só para esta miúda, que é o orgulho do pai! A rapariga esteve comigo em Angola. Na altura não se depilava, mas agora está com muito bom aspecto e até já faz capas de revista. E pensar que vivemos juntos. Faz favor de ler o artigo.

28 de novembro de 2009

Mãe, não vais gostar disto:

Há uma série de verdades descobertas ou reconfirmadas depois de quinze dias em Cabo Verde. De todas, a mais crua é a de que o clima quente de África convida mesmo à cerveja.

Não consigo quantificar quantas cervejas é que já bebi desde que cá cheguei, mas como tenho a certeza de que o meu fígado anda a fazer as contas, um dia destes pergunto-lhe. Já experimentei a nacional, Strella - ligeiramente salgada - e a portuguesa Super Bock. É um consolo. Aquela coisinha gelada a escorregar pela garganta, hummmmm. Tão bom, tão bom, tão bom, que só tenho noção de mim próprio até à terceira do dia. Daí por diante, sejam dez ou vinte, who cares?

Presumo, mãe, que ainda não perdi o equilíbrio vez nenhuma, mas é provável que um dia precise de amparo para chegar a casa. Não te preocupes, as pessoas aqui são muito prestáveis.

Pena que tenha feito um contrato de arrendamento por um ano. Devo morrer antes disso: "Aqui jaz Nuno Andrade Ferreira, morreu novo, no dia em que o fígado lhe saiu no cocó".

21 de novembro de 2009

Contra a dengue... gritai, gritai

A campanha do Governo cabo-verdiano contra a Dengue não pára. Hoje de manhã, estava eu a montar uma mesinha de cabeceira - banquinha, como se diz por aqui - quando um camião decidiu estacionar no largo em frente à minha casa, ligar a gigantesca aparelhagem sonora que trazia no atrelado e debitar ruído durante uma hora inteirinha. Ouviu-se no bairro inteiro e sentiu-se no meu segundo andar. Aquilo eram vidros a vibrar, a porta a estremecer e sei lá mais o quê. Foram 60 minutos de uma gravação bilingue, com todo o tipo de conselhos para a humanidade.

Têm razão, comparado com o que se passou entre as 10 e as 11 o grilo defunto não incomodava ninguém. Assim os mosquitos vão desaparecer... de susto!

20 de novembro de 2009

A minha casa é um zoo


Vivo num jardim zoológico. Dormi três noites na minha nova casa e em três noites tive que aturar o desatino vocal de outros tantos bichos. Primeira noite: Um cão a ladrar durante horas a fio. Segunda noite: Um galo a cantar a partir das quatro da manhã. Terceira noite: um grilo na casa de banho. Sim, leram bem. Tinha um grilo dentro de casa, no wc, que cantou a noite toda.

O mais curioso de tudo isto é que tenho a casa (que é grande) vazia. Resultado, o barulho do grilo ecoou durante intermináveis horas pelas paredes despidas, repetindo-se até à exaustão. Acontece que eu só descobri o dito insecto hoje de manhã, quando o sujeito se decidiu a passear pelo tapete em frente à banheira. Depois do espectáculo da noite, devia estar a ir para casa dormir, o cabrão! Matei-o, claro. Matei-o e deixei-o num lugar bem visível, para os amigos perceberem o que lhes espera, assim decidam tentar a sua sorte.

Portanto, como vivo na FarmVille do Facebook, estou à espera que esta noite uma vaca me bata à porta para eu a ordenhar.

14 de novembro de 2009

A Casa

Depois de 3 (ou quatro?) dias em Cabo Verde, já tenho casa. Consegui alugar um apartamento muito jeitoso, a cinco minutos do trabalho. A ideia era mesmo essa: uma casa que, mesmo um pouco mais cara, me permitisse ir de casa para o trabalho e do trabalho para casa sem grandes complicações. Ainda que a cidade tenha uma rede relativamente organizada de transportes públicos (10 - 0 a Luanda), é sempre mais económico fazer as deslocações diárias a pé. Assim, consigo ir almoçar a casa e tudo. Para além do mais estou rodeado de sítios importantes: embaixadas (Estados Unidos e Portugal logo ali), Assembleia Nacional (onde em breve vou passar muitas horas) e Ministérios. De resto, o apartamento, um belo segundo andar, fica mesmo ao lado dos Negócios Estrangeiros.

Para já, a casa está vazia. Mudo-me, provavelmente, na segunda ou terça-feira, assim que comprar a cama. Vou faze-lo por um bom preço. Para já, as prioridades são o quarto e a cozinha. A sala ficará para outras núpcias.

"Não fui eu que disse isso"*

Todos os dias de manhã, assim que acordo, vou à casa de banho. Lavo a cara e olho-me ao espelho. Quer dizer, olho-me ao espelho assim que entro na casa de banho, até porque o lavatório está exactamente em frente à porta e não há como escapar. Bem, mas essa primeira vez não interessa nada, até porque não me presto grande atenção. O que é realmente importante é o que acontece depois de lavar a cara. Dou por mim a conversar com o meu próprio reflexo. Eu sei, isto parece conversa de doidos, mas poucas vezes estive tão certo duma frase como estou desta: Eu falo comigo, no espelho da minha casa de banho e, contudo, não sou eu que digo as coisas que costumo ouvir dizer.

Todas as manhãs, sem uma única excepção, aquele sujeito que está do outro lado do espelho - e que sou eu ou alguém muito parecido comigo - diz-me coisas que ou me envergonham, ou enaltecem. Na maior parte dos dias costumo ouvi-lo - ou ouvir-me, pelos vistos - dizer coisas sem qualquer sentido lógico, para a minha lógica imediata. Demoro sempre algum tempo a desmontar o que está subjacente àquelas conversas que mantenho com o meu reflexo, que não sou eu.

Quando me compreendo, acabo sempre, invariavelmente, por me dar razão.


*O mote desta semana é uma proposta dela, com participação dele.

11 de novembro de 2009

Primeiras impressões de Cabo Verde

E pronto, é isto. Parece que estou mesmo em Cabo Verde, sentado na secretária que vai ser minha nos próximos tempos. Porque não há nada como começar logo pela fresca, apanharam-me cedo na pensão onde passei a noite e daqui a pouco tenho a minha primeira saída. É o back to basics de que eu sentia saudades. Começou, entretanto, a busca por uma casa. Nem muito cara, nem muito longe. Poderá ser difícil conciliar as duas coisas. O jornal fica numa das zonas novas da cidade, mesmo ao lado da Assembleia Nacional e as rendas são tendencialmente caras. Será, portanto, uma questão de opção: uma casa um pouco mais cara, mas melhor, ao lado do emprego; ou uma casa mais barata, mais longe e talvez mais velha.

As primeiras impressões são positivas. Definitivamente, a Praia não tem nada a ver com Luanda. Tem o inevitável movimento de uma capital, mas está longe do fim do mundo em cuecas da sua congénere angolana.

Entretanto, já arranjei a minha primeira fonte: o recepcionista da residencial, o mesmo que me perguntou, para início de conversa, se eu gosto "de meninas".

Mais, em breve.

10 de novembro de 2009

9 de novembro de 2009

De quarta em diante

A partir de quarta-feira vou voltar a trabalhar em imprensa. Já experimentei todos os suportes - falta-me, de forma regular e sistemática, o on-line. No jornalismo, gosto especialmente de escrever. Encontro nos jornais a verdadeira essência da profissão Para mim, nenhum suporte é tão genuíno como o original. A palavra imprensa, a tinta no papel, a imagem (se forem boas imagens, ainda melhor) e o ritual da compra tornam-no quase transcendental.

Diz-se que os jornais vão acabar. Não quero acreditar nisso. Também se dizia que a rádio - com os CD's - e o cinema - com a VHS, imagine-se - iam acabar e, afinal, ainda aí estão. O que falta aos jornais - e às revistas, por defeito - é a capacidade de se reinventarem. Ninguém está disposto a pagar para ler (e ler é um exercício potencialmente chato) uma coisa a que acede à borla no FM do auto-rádio, no www da Web, num dos muitos canais do velho analógico e da nova TDT ou ainda no telemóvel. Perante isto, é muita presunção achar que alguém se vai dar ao trabalho e à despesa de comprar um jornal para ler mais das do mesmo das mesmas notícias reaquecidas, na melhor das hipóteses, do dia anterior.

Uma imprensa moderna terá de ser uma imprensa actuante, surpreendente, interventiva. Um jornal dos novos tempos terá de ser uma colectiva de inéditos, de histórias devidamente explicadas. Tem de acrescentar valor à informação. Este é o tempo daqueles que têm coragem de transformar artigos em reportagens e fazer desses textos pensados as verdadeiras notícias que marcam a agenda. Sobreviverão, quero acreditar, os jornais que não se limitarem a informar, mas que saibam, igualmente, assumir o seu papel formativo.

O projecto que aceitei integrar quer ser isto. Quer aprofundar as matérias, quer não só narrar histórias, mas explica-las aos leitores. Quer fazer - ambiciona fazer - bom jornalismo. Quer começar agora o caminho para lá chegar.

Não sei se serei um bom jornalista, mas gosto de gente que me dá valor. Depois de ter ajudado a fundar um canal de televisão, "refundar" um jornal parece-me um desafio muito interessante.

6 de novembro de 2009

Sou um amigo do alheio

Há uns anos, era eu estudante, marquei um encontro matinal, num Sábado, com uma colega de faculdade. Estávamos na época de exames e a ideia era tirarmos umas fotocópias de uns apontamentos. O encontro ficou marcado para as 10:30, no Colombo.

Como cheguei cedo, fui passear à Fnac. Vi livros, DVD e CD e, ao que parece, esqueci-me de um CD na mão, tapado pelos apontamentos que ia fotocopiar. Sem me aperceber do sucedido, saí. Tentei, pelo menos. Ao passar pela porta, soaram todos os alarmes da loja, fui rodeado por vários seguranças e prontamente conduzido a uma sala fechada. Não foi fácil explicar e repetir a explicação aos cinco gorilas que me ameaçavam, mas lá consegui provar a minha inocência.

O assunto mereceu umas valentes gargalhadas de amigos e família. O certo é que fiquei tão traumatizado com a situação que ainda hoje - e isto é rigorosamente verdade - continuo paranóico com as saídas das lojas que visito. Sempre, mas sempre, antes de sair de uma loja que tenha detectores, abrando o ritmo e percorro-me mentalmente, para tentar perceber se levo comigo alguma coisa que não me pertença. Da mesma forma, e apesar do exercício prévio, não deixo de suster a respiração naqueles segundos intermináveis. Continuo à espera do dia em que vou voltar a passar por ladrão. Porque vai acontecer, eu sei que vai.

5 de novembro de 2009

"... o homem ejaculou de repente, em jorros sucessivos que, ajoelhadas como estavam, as escravas receberam na cara e na boca..."

Não se assustem, é só uma citação do último livro do Saramago.

"Oh meu senhor, você está é com gonorreia!*

"... é com gonorreia".

Em zapping, só ouviu a parte final do que supõe ser uma fala de telenovela. Ou sitcom, dado o descabido. Nem sequer olhou para a imagem. Aconteceu exactamente antes de tocarem à campainha. Pegou no comando, tirou o som da televisão e foi à porta. Tem esta mania quase secular de nunca abrir a porta de casa sem antes baixar o volume da televisão. A gonorreia - a do tipo da novela, não a dele, claro - seria motivo de suficiente embaraço, mas aquilo que o chateia mesmo é imaginar que um visitante de ocasião - nunca programa visitas, logo não recebe visitantes que não os de circunstância - pode, pelo som que sai do aparelho, descobrir, de forma absolutamente inusitada, o que é que se passa naquela sala, para mais se aquilo que se passa é, acaso, um problema de gonococos.

Roda a chave uma, duas vezes e vai com a mão ao trinco. Apercebendo-se de que não faz ideia de quem seja, olha o relógio - não à procura de uma resposta, só para ver as horas - e espreita pelo "buraquinho", orifício ao qual não consegue associar outro nome. Do lado de lá, no patamar do seu segundo andar esquerdo, um indivíduo com um peculiar aspecto. São 21: 30 e à meia luz de uma lâmpada de escada, 40w, resta-se, impávido, um sujeito de aspecto cândido, segurando um livro que de tão grosso só pode ser sagrado.

"Vou abrir", convence-se.

"Boa noite".

"Boa noite. Posso-lhe falar da palavra de Deus?"

Três segundos de espera antes da resposta. Um, dois. "Sim, faça o favor de entrar". A resposta foi tão surpreendente que durante alguns instantes o próprio profeta quedou-se num sagrado silêncio, tão a propósito, dada a iminente chegada dos céus à terra.

"Entre, homem, entre". Logo reagiu o visitante, entretanto refeito do susto da afirmativa.

Encaminhado para sala, segurando a bíblia na mão direita e uma pastinha na esquerda, provavelmente carregada de Sentinelas, ajeita as calças, respira fundo, abri o santo livro na página previamente marca e sem esperar qualquer consentimento, dispara: "Então, esta cabrão tem mesmo gonorreia, não é verdade?"


*O mote desta semana, a ler aqui, aqui e aqui.

4 de novembro de 2009

Update sobre Cabo Verde

Daqui por uma semana, precisamente, estarei na cidade da Praia. Saio de Lisboa dia 10 e chego a Cabo Verde na madrugada de dia 11. É a segunda vez, em duas, que acontece assim. Também viajei de noite para Angola.

Continuo sem casa para morar. Já sei que vou passar os primeiros dias num hotel e talvez - talvez - fique o primeiro mês num apartamento "emprestado", enquanto procuro um poiso mais definitivo e o apetrecho mais importante: uma cama.

Daqui a poucos dias estarei a recomeçar de novo, "novamente". Os começos são sempre bons. Ao menos, quando nos estreamos, ainda não temos desilusões. Vou e não sei quando volto. Mas vou na mesma e esta liberdade, amigos, priceless.

Quando chegar ao arquipélago vou ter 27 anos (faço-os dia 9). Hei-de, então, experimentar trabalhar em mais um país. Contando com Portugal, mais Angola, serão três. É obra, para tão pouco tempo de vida. Cabo Verde é uma aposta pessoal minha. Os ordenados são muito inferiores aos que se praticam em Angola para os expatriados. Por isso, a oportunidade de valorização pessoal e profissional foram determinantes na minha decisão. Quero continuar a crescer como jornalista e, principalmente, enquanto Homem. Quero criar e ter liberdade criativa. Errar, reconhecer o erro e fazer melhor na vez seguinte.

Esta forma itinerante de levar a vida pode parecer uma parvoíce para a maior parte de vocês, mas saber que o mundo não se esgota no caso Freeport, no processo Casa Pia e nas goleadas do Benfica é um exercício ao qual todos se deviam obrigar. É que há tanto mundo por aí...

Este filme é...


... muito mau.

2 de novembro de 2009

Um post suburbano

Sou um rapaz da Margem Sul. Orgulhosamente, já tomei o pequeno almoço na Páscoa, almocei na Pérola da Cruz de Pau e fiz compras no Pingo Doce das Paivas. Também já acordei com o mau cheiro da baia do Seixal e fui assaltado no Miratejo. Andei de Rodoviária do Sul do Tejo e depois nos TST. Às vezes até apanhava um autocarro dos Belos. Atravessei o rio de Transtejo, primeiro num cacilheiro e depois de catamaran. Entretanto chegou o comboio e comecei a ir de Fertagus.

Nasci em Lisboa, mas o meu pai correu a registar-me na Arrentela. Fiz a primária na Torre da Marinha, o ciclo do Vale da Romeira e o secundário no Cavadas. Entretanto, fui estudar para Lisboa, não sem antes arranjar emprego na Amora. Cheguei a trabalhar num jornal chamado Margem Sul e ainda estive nas listas para uma eleição à Junta de Freguesia. Sou um suburbano e tenho muito orgulho nisso.

Por isso, é complicado perceber qual é o problema que os que moram do outro lado do rio têm em atravessar a ponte. "E se nos encontrássemos? Ah, claro, onde? Aqui na minha banda. Epá, isso é que não!".

Há uma espécie de fobia em relação à Margem Sul. Temos parques bonitos, cafés agradáveis, salas de cinema, teatros e auditórios (um deles recebe um dos maiores festivais de jazz do país, imaginem). Também temos muitos comunistas, é certo, mas estão todos vacinados.

O Barreiro pode não ser o principado do Mónaco, mas não consta que em Loures façam tortas como as de Azeitão. Da mesma maneira, não me parece que na Amadora - que terra, credo - haja uma serra como a da Arrábida. E em Oeiras, "serrá" que "carrregam" nos "rr's" como em Setúbal? Talvez enquanto "frritam" o choco.

A Margem Sul - independência já! - é isto, aquilo e o outro, mas no Verão e no Avante é vê-los em aprumado registo estival. Nem precisam de GPS para cá chegar.

Só não termino com um "Margem Norte jamais!", porque ainda me saem os planos furados - como ao outro - que isto nunca se sabe o que nos reserva o dia de amanhã. Mas fica esta, para memória futura: Caparica, Caparica, Caparica. Toma e embrulha.

António Sérgio


Habituei-me a ouvir o António Sérgio dentro do carro. Ou porque, à data sem casa, estava parado a namorar por aí, ou então, anos mais tarde, enquanto voltava tarde do trabalho. Foi dos poucos que me fez levantar o volume do rádio só para o ouvir falar ao microfone, muito mais do que para escutar as canções que escolhia.

Estive uma vez com ele, ao longe, sem contacto próximo. Ouvi-o, dessa vez, com a mesma atenção de todas as outras.

António Sérgio era um irreverente. E a mensagem que recebi no telemóvel, anunciando a sua morte, fez-me recuar até ao tempo em que "O Lobo" era a minha companhia das madrugadas.
A rádio em Portugal está hoje mais pobre. O país perde um grande comunicador e um guardião do jeito puro de falar "nas ondas do éter".

A dignidade que manteve até ao fim - mesmo depois de ser escorraçado de uma Comercial demasiado comercial - fazem dele um modelo de rectidão e profissionalismo. A cultura deste país precisa de visionários como ele. Até amanhã, camarada.

1 de novembro de 2009

31 de outubro de 2009

Dos pés à cabeça

Creio que, com o avançar da idade, estou a ganhar uma peculiar excentricidade no que ponho nos pés. Durante anos, muitos anos, o tipo de sapatos ou ténis que comprava estavam absolutamente formatados. Agora, a caminho dos 30 - longe, ainda, claro - descobri que gosto mesmo é de ofuscar de baixo para cima. Ontem, numa única tarde, duas extraordinárias aquisições, com as quais conto impressionar cabo-verdianos (cabo-verdianas, de facto, mas uso o masculino para não causar celeumas familiares).

Na loja da All-Star, umas discretas botas verdes. Na loja da Adidas, uns singulares ténis azul-bebé e cor-de-laranja.

Concluo: sou um rapaz muito equilibrado e discreto, menos nos pés.

30 de outubro de 2009

Em carta fechada (updated)*

São 8:22. Precisamente, oito-e-vinte-e-dois. O relógio digital não deixa margem para dúvidas. Comprou-o há precisamente 7 meses e treze dias. Escreve treze, mas diz ‘treuze’. É como muito e ‘muinto’.

São 8:22. Aliás, com isto tudo já são oito-e-vinte-e-três. Se carregar no segundo botão do lado direito consegue até saber o segundo preciso. Não carrega. Ou carrega? Vai lá com o dedo. Não, não carrega.

Está à espera do autocarro, como faz todas as manhãs de segunda a sexta-feira e, a cada três semanas, igualmente aos sábados. Gosta desses sábados. Gosta de sábados e prefere não trabalhar, mas como trabalha – a cada três semanas – então gosta desses sábados também.

Anda de autocarro, no autocarro que vai chegar dentro de 4 minutos, quando forem oito-e-vinte-e-sete, há 745 dias. Sempre, menos aos fins-de-semana, excepto os sábados a cada três semanas. Também não anda nos feriados e não andou nos 34 dias úteis de férias que já gozou desde que há 745 dias começou a andar no autocarro que vai chegar dentro de 3 minutos. Agora são três.

Mora a 5 quilómetros e 432 metros do sítio onde trabalha. Viu no Google. Vê tudo no Google e sabes imensa coisas sobre coisas que, geralmente, não interessam a ninguém e, aqui para nós, não lhe interessam particularmente. Ou melhor, interessam, mas não interessariam se ele tivesse outras coisas que lhe interessassem mais.

Tem uma vida uma bocado aborrecida, portanto. Felizmente, não se aborrece com isso.
Podemos dizer, acho que podemos, que é um aparente – fixem-se no “aparente” – conformado. Bem, só um conformado seria capaz de há 745 dias, descontando fins-de-semana, excepto os sábados a cada três semanas e os 34 dias úteis de férias que já gozou, almoçar uma posta de peixe-espada preto, acompanhada de três batatas cozidas e feijão verde. Tudo coisas sem grande sabor, portanto. “As coisas que não sabem a nada não chegam a enjoar, porque não sabem a nada”, respondeu certa vez à indignada empregada brasileira do restaurante onde o tratam pelo nome próprio nome.

Falta um minuto. Chegou o autocarro. Um minuto antes, nota-se. Faz uma cara de desagrado. Chegar antes não é bom. Aliás, é tão mau como chegar um minuto depois. Se faltava um minuto, faltava um minuto para o autocarro chegar. Um m-i-n-u-t-o.

35 depois – que trânsito! – completa a distância até à paragem que o deixa a 57 passos do edifício do escritório. Podia subir de elevador até ao décimo quarto de 18 andares. Sobe de escada. São 255 degraus, 3 na entrada, mais 6 por patamar, três patamares em cada andar. Chega relativamente casando e relativamente com sede. Entra e vai à copa. Bebe um copo de água em quatro goles. Limpa a boca a um guardanapo de papel, nunca ao rolo de cozinha.

Trabalha quatro horas de manhã, pára uma hora para almoçar e trabalha quatro horas à tarde. Desce os 255 degraus. Apanha o autocarro que percorre 5 quilómetros e 494 metros (faz uma rua a mais) até à paragem perto de casa.

É assim todos os dias.

Agora, está à porta do prédio. Pega no porta-chaves, com quatro chaves. Prédio, correio, casa e cofre – está no armário da casa de banho, debaixo do lavatório, atrás da toalha azul escura, demasiado áspera para ser usada. Já abriu a porta. Dois passos até à caixa do correio. Chave mais pequena – ainda mais pequena que a chave do cofre. Roda, abre e dois envelopes. Primeiro, conta. Segundo, respiração suspensa. Ainda só viu o verso, mas tem uma suspeita. O envelope fechado, que segura ao contrário, é – já o sabe – o “yes, man” que tanto esperava. Vira-o. A sua vida vai mudar. Com esta é que o foderam.



* No mote anterior, além de me atrasar, escrevi uma porcaria tão valente que me causou algum embaraço. Aqui está uma versão mais pensada. Se melhor, vocês o dirão.

A alegoria não passou de moda*

As paredes, de um verde não muito escuro, aqui e ali marcado pela humidade de uma construção não muito nova. A mesma humidade que contorna a janela que dá para o pátio, que dá para o prédio em frente, que dará para a rua. Lá dentro, novamente no quarto, uma cómoda antiga, com puxadores em pau santo. Em cima, um oratório fechado e sem santo; já não se reza aqui. Ao lado, por esta ordem, uma cadeira mogno com palhinha, um vazio e outra cadeira. Dando a volta, um roupeiro, uma cadeira - tantas cadeiras - e a cama. Cabeceira estilo D. José, por ventura a precisar de restauro. Colcha a despropósito e um corpo inerte, o meu.

Estou deitado há várias horas, tantas que já perdi a conta, num quarto que não sei se será meu, não sendo o meu. Comecei por tentar adivinhar o que será feito da papeleira que ocupava o vazio entre as duas cadeiras. O quarto não é meu, mas estive aqui muitas vezes, não fisicamente, acho, mas talvez em retórica. Provavelmente, tenho quase a certeza disto, também não estou aqui agora. Contudo, sei exactamente, disse-o há pouco, o que está para lá da janela que ilumina o cheiro a mofo. Sei e acreditem que nunca me abeirei dela. Sempre que venho a este quarto fico aqui onde estou, na cama. Foi daqui que te vi - ou julguei ver - a escrever na papeleira que deves ter - deves, porque não tenho a certeza que o tenhas feito, ou se sequer existes - levado contigo quando partiste, se é que partiste, porque talvez não tenhas chegado a existir.

Sempre gostaste muito de cadeiras. Ou talvez seja eu a gostar delas e por isso as tenha posto aqui. Afinal, isto é tudo fruto da minha liberdade criativa. Quando, deitado na colcha sem sentido, olho em redor, parece-me tudo tão tangível. Quase que acredito. Mas isso é só até levantar a cabeça e olhar para o céu. Desculpem, para o tecto. Que quarto bafiento teria uma representação da alegoria da Guerra e Paz. Isto não é Viena de Áustria. É só o teu quarto, ou o meu, ou o nosso, que eu, pelos vistos, só sonhei ter, mas onde vinha sempre que queria estar contigo.



* O mote desta semana. Para ler igualmente aqui e aqui.

29 de outubro de 2009

Bom ano novo

Tive ontem o melhor jantar desde há muito tempo. Numa noite, celebrámos o Natal e a passagem de ano, em pleno mês de Outubro. Decoração apropriada, passas e espumante. Fiquei com a impressão de que foi tudo maravilhoso, mas isto também pode ter sido das minis. Foram 34, afinal.

26 de outubro de 2009

A piadinha fácil e o desabafo depois dela

Agora que Isabel Alçada é a nova Ministra da Educação é fácil perceber que livros vão ser de leitura obrigatória.

Gosto de ver os professores - para quem, em 30 anos de democracia, nunca houve um único bom ministro da tutela - a preparar as armas para começar a disparar em todas as direcções. Sinceramente, que tal dar uma oportunidade à mulher?

Em carta fechada*

Em carta fechada ele disse tudo o que não conseguira dizer em carta aberta. Os envelopes selados, lacrados, fechados, enfim, têm a grande vantagem de transportar segredos capazes de se perpetuar até que alguém, se, um dia os abra.

Na carta, por ele fechada, está o mais profundo e sincero desabafo já feito no tempo dos tempos e por lá ficará, até.



*Este é o texto (escrito a despachar) para o mote desta semana. Para ler mais aqui e aqui.

Experimenta lá isto

Eu não estava a pensar escrever por aqui nos próximos dias. Férias são férias e a ideia era estar uns dias calado. Aliás, tenho um mote em atraso e um relato sobre o Lubango para meter na ordem. Acontece que hoje fui ver uma exposição da ExperimentaDesign.

Cá um abraço a todos quantos acham aquilo fabuloso, mas se é tudo tão giro como o que está exposto no Museu do Oriente (outro espaço sobre o qual poderia falar longamente), valha-me Deus do céu, o que é que se passa com os criativos deste mundo?

E pronto, é isto.

21 de outubro de 2009

Em Portugal

Por agora as férias, dia 10, Cabo Verde. Entretanto, tenho um fim-de-semana no Lubango para resumir. Fica para depois.

20 de outubro de 2009


E é como se a vela acabasse e a ténue luz se esvaísse em escuridão, transformando em negro todo o seu redor, mesmo com os primeiros raios de sol da manhã que nasce sem nunca ser casta.

São as primeiras horas do dia. Terça-feira, 20 de Outubro. A cidade, desperta de um sono nunca demasiado profundo, regressa ao rebuliço de sempre. As filas, os ruídos, as pessoas, esses protagonistas sem rosto de um filme onde os papeis são todos feitos e só feitos de improviso e sobrevivência

Nada de novo. A cidade. As constantes. Eu e tu, na cidade das filas, dos ruídos e das pessoas. Eu e tu, hoje, nas primeiras horas do dia.

Luanda sem compasso. Água turva. Até já cidade, até já.

15 de outubro de 2009

A cidade acordou com um cheiro pérfido no ar...*

Depois do crime da noite anterior, a cidade acordou com um cheiro pérfido no ar. Um cheiro a morte, a sangue e a terror. As manchetes dos jornais narram, nesta manhã fria de Dezembro, o horror vivido na rua 23 daquele bairro escondido para lá da grande colina. Da origem do corpo pouco se especula. O sumo da história parece estar e importar, por enquanto, nos detalhes sórdidos do estado de putrefacção em que o cadáver foi encontrado ao lado de um Citroen AX.

Ao ver a fotografia escarrapachada na primeira página do tabloide, a primeira pergunta que me surge é "mas quem é que ainda tem um AX?". E demoro algum tempo a perceber o disparate para onde a minha cabeça me levou. Mas quem é que, no seu perfeito juízo, tem uma foto com um corpo desfeito, rodeado de uma gigantesca poça de sangue, entranhas e larvas, e está interessado na antiguidade da viatura que o levou até lá?

O cenário é impressionante. As televisões demoraram demasiado tempo a chegar e o melhor registo perpétuo foi feito por um telemóvel de última geração, desses que se fazem agora, cheios de megapixels. O que choca são os detalhes.

Uma mala caída, manchada de sangue. Um sapato, meio salto, ganga escura, e um pé descalço. Alguns papeis espalhados pelo chão. A cara tapada - as formas que se notam - por um pano empapado e cabelos castanhos ligeiramente desvendados. O tronco esburacado pela força dos disparos. Estou prestes a vomitar.

Pego no telefone e preparo-me para te ligar. Será que já viste a imagem de que toda a gente fala? Será tens uma teoria? Tens sempre uma teoria. Telemóvel, lista telefónica. A minha péssima memória fez com que memorizasse quase todos os números com associações parvas. Raquel Piscinas, António Bar Azul, Luís 3 direito, Ana AX.


*Pela terceira semana, eu, ela e ele participámos neste desafio e escrevemos um texto sob o mesmo mote. Todas as quintas-feiras é assim: Um mote, três textos.

13 de outubro de 2009

Porque é que a televisão vai dar cabo de mim


Nas últimas semanas, as minhas noites têm sido, irrepreensivelmente, assim: 20h00, Telejornal; 21h00, fim do Jornal da Noite; 21h25, Jornal das Nove; 21h40, Gato Fedorento; 23h05, House. Acontece que, e isto é um problema, não o minimizem, que no intervalo entre o fim do Gato Fedorento e o começo do House, naqueles 55 minutos, fico sem saber o que fazer da minha vida.

A Ana Lourenço não faz o meu género, o Eli Stone é uma parvoíce pegada, a série espanhola do Fox Crime é um disparate sem sentido, o Alô Portugal do José Figueiras (Sic Internacional, seus incultos) está fora de questão e o À Noite as Notícias é mais do mesmo todos os dias. Merda.

O que é que faço neste intervalo? Como porcarias. Entrego-me aos prazer dos diabetes. Ataco a minha caixa de gelado Kit Kat e percebo que a culpa da minha morte anunciada e prematura é dos programadores. Ai a televisão, essa puta.

11 de outubro de 2009

Dias agitados

Tenho tido tanto trabalho que mal dei conta que estou a pouco mais de uma semana de deixar Luanda e Angola. Os últimos dias têm sido de muita agitação, muitas chatices e muitas confirmações. Sim, é uma boa ideia ir-me embora já. Sim, a empresa onde trabalho tem um longo caminho a percorrer para se tornar um local com boas práticas. Sim, esta cidade muda as pessoas e não necessariamente para melhor.

Estou aliviado por ir. Pessoal e profissionalmente, o tempo é de fazer coisas novas. A bem da minha própria sanidade mental esta é a melhor altura. Só quem passou por aqui - aqui não é Angola, aqui é a empresa onde estou, mas é também Luanda - sabe como ela(s) é(são) capaz(es) de consumir uma pessoa. Para o bem e para o mal, esta experiência profissional e pessoal mostrou-me que eu sou capaz de muito mais do que imaginava. Mais criativo, mais tolerante, mais flexível e mais resistente.

É com pena que percebo que a Angola que os meus pais relatam, já não existe, mas é com esperança que compreendo que talvez um dia, daqui por muitos anos, ela se aproxime do que em tempos já foi. Ao caminho da paz segue-se agora o caminho da reconstrução e o betão demora sempre algum tempo a secar.

E o mote desta semana é:

"A cidade acordou com um cheiro pérfido no ar"

Textos para ler, quinta-feira, aqui, aqui e aqui.

9 de outubro de 2009

Sobre o Nobel de Obama

Nunca, como no momento em que recebe o Nobel da Paz, Barack Obama foi tão pouco consensual. Horas depois do anúncio oficial da atribuição do galardão, contam-se por muitas as vozes que se levantaram a dizer que Obama fez, até agora, pouco mais do que falar.

Ainda que perceba os críticos, prefiro acreditar que esta atribuição é um reconhecimento do carisma de Obama. Não sei se esta variável é suficiente para se traduzir em acções práticas, mas não há como negar que Obama foi e será, sim, um case study de popularidade e mobilização. Há quantos anos um político (friso, político) não originava tamanha mobilização? E para mim, se um homem é capaz de ser motor de união à escala global, esse homem merece que esse mérito seja reconhecido ao mesmo nível.

Obama ainda fez pouco pela paz no mundo, mas o prémio que hoje recebeu, por ventura o mais importante da Humanidade, compromete-o nesse caminho. E compromisso é o que de melhor podemos esperar de alguém em quem acreditamos.

8 de outubro de 2009

Vôo VR n. 6215

Origem: Lisboa (LIS) Hora de partida: 21:50 Data: 10.11.2009

Destino: Praia (RAI) Hora de chegada: 01:00 Data: 11.11.2009


Perceberam?

Tu és tão estúpida*

Não sei ao certo o que fazer com isto. No domingo deram-me uma frase “tu és tão estúpida” e disseram-me para escrever sobre o assunto. Não seria difícil, achei. O que não falta por aí é gente estúpida. O complicado é fazer a coisa sem dar a entender de quem é que estou a falar. Vocês percebem, não é? País estrangeiro, outra cultura, balas perdidas, um tiro nas pernas, aleijadinho para o resto da vida.

Pensei em começar assim: “Tu [que] és tão estúpida. Que me consomes, que me gastas e levas de mim o melhor, o pior e o vazio que fica depois de levares tudo o resto. Levas o vazio, até esse levas contigo. Não que precises dele, só porque te dá prazer deixar-me sem nada.” Mas depois mudei de ideias. A cena do vazio é um bocado despropositada. Ninguém leva o vazio de ninguém, porque o vazio não tem sítio para se agarrar.

Ao segundo ensaio, uma versão minimalista: “Puta uma vez, duas, três vezes”. Durante trinta segundos fiquei entusiasmado com o resultado, mas a euforia esvaiu-se na constatação de que, convenhamos, prostituição implica uma transacção comercial, absolutamente inexistente no particular e no geral. Felizmente, nunca precisei de pagar para me fazerem bicos.

“Exploras as minhas entranhas, sujas as mãos nelas”. Prossegui assim, de forma nojenta! Credo, ao que um homem se sujeita. Que fique bem claro que nunca ninguém ousou, sequer, meter um dedinho neste ânus, que permanece um mero periférico de saída. “Gozas sobre o despropósito”. O despropósito de expor o cocó ao mundo, claro está.

No fundo, fartei-me de tentar abordagens mais ou menos civilizadas à frase que me deixaram de presente. Tentei e tentei tanto, até que me ocorreram duas ideias geniais. Primeiro, “tu és tão estúpida” é como um bilhete para ver Vaya Con Dios, não se sabe ao certo o que fazer com ele. Segundo, tu não és assim tão estúpida.

Não és mesmo. Limitas-te a ser tu, estúpida, claro, mas não mais do que se esperava de alguém como tu. Tens esse jeito de ser, fazer o quê? Aceitar-te ou deixar-te, mas sempre sem esperar grande coisa daí.

Tu és tão estúpida, but not all that much.



* Esta semana, ele deu o mote e ela também escreveu. Todas as semanas é assim. Aos domingos um de nós, rotativamente, dá o mote para o texto que é publicado na quinta-feira seguinte. O próximo mote é meu. É de ler, é de ler.

5 de outubro de 2009

Talvez por uma noite, talvez

Eu volto de Angola e a Susana de Moçambique. A Paula está a caminho da casa nova e a Patrícia está a meio da sua caminhada. Em breve, por uma noite que seja, vamos voltar a estar juntos. Muitos anos depois (quantos, ao certo?), vamos voltar a ocupar as quatro cadeiras do Maya. Por uma noite apenas, vamos voltar a Peniche, ao Redondo, a Badajoz, a Barcelona, a Saragoça e a Milão e também ao autocarro que nos levou até lá. Por uma noite só, vamos beber cinco litros de sangria, assar chouriços com uma tremenda falta de jeito, destilar vinho tinto e quase pegar fogo à cozinha. Vamos todos dormir no chão e deixar as camas vazias, só porque não chegam para toda a gente.

Andaremos tantos quilómetros no nosso carro velho que os pneus não aguentarão. O Variações e o Paião vão cantar ao lado do Bonga, do Manu Chao e da Cesária Évora. Será muito pimba, mas ninguém se vai ralar com isso.

Talvez a Susana beba demais, a Patrícia amue quando estivermos a gozar com ela e a Paula diga piadas de que toda a gente se ri sem perceber. Talvez eu diga coisas obscenas ao dono do restaurante que mal fala português. Talvez haja cigarros de louro que tão bem fazem ao trânsito intestinal.

Por uma noite só, por uma noite apenas, vamos todos voltar à idade que tínhamos quando fomos tão felizes como talvez não voltemos a ser, a não ser por uma noite só.

1 de outubro de 2009

Depois da decisão errada... *

Depois da decisão errada, tomada semanas antes, Luísa vê-se agora perante um grande dilema. Porventura, o mais grave de todos os dilemas numa vida cheia deles.

Ao decidir “desaparecer”, sair sem avisar, virar as costas sem deixar rasto, teve o cuidado de preparar tudo meticulosamente. Conciliou argumentos que lhe permitissem ganhar tempo e distância. Pensou tão rigorosamente em tudo que, à data em que a sua ausência prolongada começou a levantar suspeitas, já Luísa estava suficientemente longe. Longe demais para ser encontrada. O objectivo estava conseguido: fugira de si própria e estava pronta para recomeçar sem o peso do passado.

No seu emprego, no seu bom emprego, usou o pretexto de uma reunião de trabalho fora do país. Três dias. Em casa, avisou a família da viagem ao estrangeiro. Três dias. E foi. Foi ao primeiro, passou o segundo, só não voltou ao terceiro.

Não é que Luísa tivesse uma vida má. Pelo contrário. Um bom emprego, já o tínhamos dito, um bom marido e um filho demasiado pequeno para ser uma dor de cabeça. “O problema não és tu, sou eu”. Nunca chegou a usar o chavão nos inúmeros silêncios que teve – o silêncio também pode ser uma forma de discussão – mas pensou nele repetidas vezes. O problema de Luísa – Luísa, sempre Luísa – era ela própria e a forma como não estava disposta a aceitar ter, aos 31 anos, a vida fatalmente programada. “Porra, aos trinta ainda se é uma garota”, palavras dela. E então fugiu. Fugiu e achou que estava a fazer uma grande coisa.

Mas isso foi semanas antes.

Agora Luísa está longe. Longe da vida programada, dos horários, do marido e do filho, demasiado pequeno para ser uma dor de cabeça. Está longe do caminho que fazia de segunda a sexta – despertador 6:30, filho na creche, trânsito, trabalho, trânsito, filho na creche, casa – do café onde almoçava mini-pratos, do ginásio onde ia às terças e quintas (bem, às vezes não ia às quintas), do supermercado onde fazia compras aos sábados. Está longe e continua a achar o que achava antes de estar.

Depois da decisão errada, tomada semanas antes, Luísa vê-se agora perante um grande dilema. Está longe da sua vida programada, mas continua a sentir-se presa a um programa que alguém escreveu no seu lugar.

Depois da decisão errada, Luísa percebeu que podemos fugir de tudo, menos de nós próprios. É muito provável que volte para casa.


*Este texto é em resposta ao mote lançado por esta menina. Todos os domingos, rotativamente, eu, ela ou ele vamos dar o mote para um texto que será depois publicado às quintas-feiras nos nossos próprios blogues.

30 de setembro de 2009

O discurso que eu teria escrito para Cavaco Silva:

Portugueses,

Dirijo-me hoje ao país com o objectivo de comentar as notícias vindas a público sobre a existência de escutas ou outra forma de vigilância ao Palácio de Belém.

Faço-o por considerar que tal suspeita deve ser esclarecida. Os portugueses têm o direito de saber se podem ou não confiar na segurança da residência oficial do seu Presidente da República.

Escolhi este momento e não um anterior, por considerar que esta é a altura oportuna para falar ao país. O Presidente da República escolhe os seus tempos e não se deixa influenciar por pressões de qualquer espécie.1

Respondendo ao essencial da questão, e não obstante a existência de falhas, como em qualquer rede, a Presidência da República baseia as suas comunicações num sistema seguro. Isso mesmo foi-me garantido pelos serviços do Estado a quem cabe zelar por estas questões.2

Sobre o essencial das notícias divulgadas, não lhes atribuo qualquer credibilidade. Confio no meu staff e confio, em particular, no assessor do Palácio de Belém visado pelos órgãos de comunicação social.3

Não obstante, como é do conhecimento público, o Dr. Fernando Lima foi por mim mudado de funções. Fi-lo porque, ainda que não acredite no seu envolvimento neste caso, entendo ser meu dever proteger a Presidência da República de quaisquer dúvidas.4

O país atravessa um momento político delicado, a par de uma situação económica difícil. O Presidente da República é e será sempre factor de estabilidade. Devemo-nos concentrar na tomada de posse de um novo Governo e no início de uma nova legislatura. Os portugueses exigem que os órgãos de soberania do país sejam capazes de resolver os problemas da Nação e para isso as instituições democráticas devem funcionar regularmente. Esta é a minha verdadeira preocupação. Tudo o resto não passa de ruído eleitoral que deve ser sanado.5

Termino, garantindo que, por parte do Presidente da República, este assunto encerra aqui. Estou certo que os partidos políticos terão a mesma atitude. O país precisa do esforço de todos e os portugueses precisam de saber que podem contar com o empenho da sua classe política. Quero que saibam que podem contar com o vosso Presidente da República.

Boa noite.



1. Justificação para o tempo escolhido, explicando o porquê de falar agora e não antes, como todos os comentadores e partidos políticos esperavam. Sinal de poder: O Presidente gere o seu tempo político.

2. As comunicações. O sinal de segurança aos portugueses. Reconhece que o sistema de comunicações não é perfeito - nenhum o é - mas assegura a sua confidencialidade.

3. Para sua defesa e para acabar com a polémica, o Presidente retira a credibilidade às notícias publicadas e afirma confiança no seu staff.

4. Contudo, explica ao país o porquê da sua decisão de mudar Fernando Lima de funções: Quis proteger o Palácio e poupar os portugueses a mais polémicas e suspeitas.

5. Recoloca as atenções políticas no que realmente importa. Desvaloriza o episódio e mostra postura de Estado.
Como se não nos bastassem duas eleições num ano, ainda arranjámos uma terceira. Esta estranha combinação de actos eleitorais, originada pelo acaso, bem sabemos, condenou as autárquicas a um certo segundo plano (ou terceiro, se quisermos), para o qual o Presidente da República, com os seus silêncios perturbadores e com o seu discurso ruidoso em muito contribuiu.

Adiante.

A verdadeira revolução autárquica acontecerá daqui por quatro anos, quando, fruto da actual lei de limitação de mandatos, muitos dos actuais presidentes da Câmara (e de Junta, se quisermos ser justos) abandonarão o poiso. O mandato que se iniciará depois das eleições de 11 de Outubro será, por isso, interessante de acompanhar, com as máquinas partidárias, parece-me óbvio, a lançarem, lá para 2011, os “senhores que se seguem” nos feudos em que este país está dividido.
Nesta corrida, sigo com particular interesse algumas disputas da Área Metropolitana de Lisboa:


António Costa vs Santana Lopes

O confronto que concentra todas as atenções. Porque é Lisboa, a capital. Porque é Santana (PSD) e porque é Costa (PS). O primeiro equilibrou as contas da autarquia, no seu “meio mandato”, o segundo é um fenómeno de sobrevivência política.


Fernando Seara vs Ana Gomes

Quando, há dois mandatos, Seara (PSD) ganhou a câmara a Edite Estrela o país político – o seu próprio partido – surpreendeu-se. Ana Gomes (PS) é um “peso pesado” do PS e uma não alinhada. Oito anos depois, estará Seara em forma para resistir à combativa adversária?


Maria Emília de Sousa vs Paulo Pedroso

Maria Emília de Sousa (CDU) teve um mandato difícil. As obras do metro de superfície deixarem insatisfeitos muitos munícipes. Mas a obra acabou e o ruído silenciou. Maria Emília é uma das veteranas das autarquias. Deve ganhar. A questão é saber que valor político tem Paulo Pedroso (PS), depois da novela onde esteve envolvido.


Susana Amador vs Hernâni Carvalho

Incomoda-me sempre um jornalista que concorra a cargos políticos, mas Hernâni Carvalho (PSD) está no seu direito e quanto a isso, nada a fazer. A curiosidade aqui está em saber que credibilidade o eleitorado atribui ao senhor “Crime diz ele”. Susana Amador (PS) não terá uma tarefa fácil, o seu oponente é um notável com grande aceitação popular.


Maria Amélia Antunes vs Lucília Ferro

A histórica Socialista enfrenta a sua última batalha eleitoral autárquica. É a luta pela sobrevivência. Apesar de ter maioria absoluta, a margem é agora mais curta. O PSD de Lucília Ferro tem feito uma campanha determinada, em contraponto com a aparente excessiva confiança da obra feita de Maria Amélia Antunes (PS).


No Seixal, um dos últimos redutos – “avante camarada, avante” – comunistas, Alfredo Monteiro deve vencer sem grandes alaridos. As concelhias já sabem que 2013 é o ano para jogar forte e por isso limitam-se, nestas eleições, à gestão corrente de candidatos.

Em Oeiras, o interesse está em perceber como é que o eleitorado reage à condenação, em Primeira Instância de Isaltino Morais. O que falará mais alto, afinal? A obra ou os valores?

29 de setembro de 2009

Say what?

Perdi os últimos minutos a tentar perceber o verdadeiro significado da comunicação ao país de Cavaco Silva. Fiquei sem perceber se o Presidente acha que houve escutas ou não. Quer dizer, parece que não, mas como ele não o disse explicitamente, fica a incerteza.

O discurso foi tudo menos claro. Ambíguo, como toda a história, de resto. E, sinceramente, quando andamos cheios de perguntas na cabeça, tudo aquilo de que não precisamos é de um Presidente da República que se ocupe a confundir-nos ainda mais. Além de que agradeço que o meu Chefe-de-Estado guarde para si as suas próprias emoções. A sério.

28 de setembro de 2009

Quando o inacreditável acontece em São Tomé

Daqui.

Um mote

A C., pessoa porque quem tenho grande estima (especialmente quando ela vai dois passos à minha frente e usa calças justas), reuniu dois homem, eu e outro, e combinou uma orgia. Como não sou esquisito, disse que sim, mas aí ela mudou de ideias e afinal já não há loucuras nos lençóis para ninguém, apenas um tremendo orgasmo intelectual em perspectiva.

A partir de agora será assim: Eu, ela e o outro vamos escrever, once a week, um texto sob o mesmo mote. Ou seja, todos os domingos, rotativamente, um dos três dará um mote do qual sairão, às quintas-feiras, extraordinárias obras literárias... ou inqualificáveis narrativas de terceira categoria.

Tendo em conta que, além de mim e da C. o outro participante assina um blogue que se chama "Sexo (ou) Posto" quero avisar que tudo farei para que, no fim, eu fique com o sexo e ele com o posto, que eu dispenso títulos. Enfim, contingências da vida.

Esta quinta-feira esperem o primeiro texto. O mote é: "Depois da decisão errada".

27 de setembro de 2009

Nunca ninguém perde eleições. Esta noite, ao que parece, todos ganharam, menos o partido vencedor. O Partido Socialista, que teve mais votos e elegeu mais deputados do que todos os outros candidatos, não ganhou porque perdeu a maioria absoluta. Todos os outros ganharam porque tiram a maioria ao Partido Socialista. Estou baralhado.

Está é...

... uma grande primeira página.

26 de setembro de 2009

Estou a pensar no assunto

Estou convencido de que não é difícil chegarmos a um consenso em torno do facto dos "dias de reflexão" que antecedem qualquer eleição serem um grande disparate. No meu caso, que nem estou em Portugal e não me inscrevi no Consulado (da última vez que fui um bom cidadão o Estado cobrou-me a ousadia em 1500 euros de IRS), a reflexão resume-se a este post. Para a generalidade dos Portugueses o Sábado terá continuado a ser dia de Jumbo.

Se pensarmos bem, o dia de reflexão é até uma espécie de censura pela qual somos obrigados a ficar de bico calado sobre as nossas preferências político-partidárias, para não perturbarmos a meditação dos nossos concidadãos. Mas ok, vamos lá reflectir.

Ora, vamos votar em quem? Nas escutas a Belém, no Fernando Lima (ele é candidato, não é?) ou na Manuela Moura Guedes? É que, afinal, foi sobre isso que passámos 15 dias a ouvir falar.

25 de setembro de 2009

23:18

O telefone tocou. Mensagem. A mensagem de um colega e amigo, dentro do avião, prestes a deslocar de Luanda para Lisboa. Dizia assim: "Sei que tentaram boicotar o teu trabalho e tu deste a volta por cima. Acho que és um excelente profissional". Não vale a pena, sinceramente, explicar o contexto em que ela surge, mas surgiu na altura certa, no final de três dias muito complicados, em que precisei de apelar tanto à minha escassa autoridade, como à destreza na retórica. Ao lê-la, pensei qualquer coisa como - o inglês compromete menos - my job is done e respirei de alívio.

Quando aceitei vir para Angola, não fazia ideia do que a estadia me reservaria. Sei - e acaba aqui o que percebo - que em nenhum dos meus planos imaginei qualquer coisa de parecido àquilo que experimentei ao longo deste ano e mais algum. Para dizer a verdade, o inexplicável e o inenarrável são as únicas certezas com que a vida em Luanda pode contar.

Descobri o que custa estar longe de casa, senti saudades do cheiro da minha terra e aprendi a dar valor ao que é “nosso”. E foi bom sentir tudo isso.

Fiz coisas que nunca tinha feito. Gostei de algumas e detestei outras. Mas fiz. Fiz tudo o que sabia – mais o que aprendi a - fazer e é por isso que me vou embora.

Deixo a televisão e volto às palavras escritas e impressas. Só não devo é voltar para casa. A itinerância continua já a seguir, numa outra paragem.

23 de setembro de 2009

Cristina, essa mulher sem lei

A história de Cristina Araújo é triste pela forma, conteúdo e mensagem subliminar. A espertalhona, que já foi apanhada 38 vezes a conduzir sem carta de condução, é a perfeita representante de uma certa forma de ser português que ainda persiste: Aqueles que acham que a lei é feita para todos, sim, desde que com a sua própria e devida excepção. Estes sujeitos continuam a povoar o país e a ridicularizar qualquer tentativa de civilização que possa ser feita.

Ao que parece, agora, Cristina foi mandada parar pela polícia quando ia para a aula de código, como se isso, para o caso, serviço de atenuante, até porque estava, claro, a conduzir. A mulher é um paradigma de como, ao fim de tantos anos de Nação, continuamos a ser capazes do pior.

Tudo isto seria engraçado, se não fosse trágico. Lamentavelmente, Portugal está cheio de "Cristinas" do Minho ao Algarve. Gentinha que não perde uma oportunidade de passar a perna à lei e gozar descaradamente com qualquer tentativa de autoridade. Felizmente, não somos todos assim. Se fossemos, Portugal seria uma selva. Ainda há esperança, portanto.

22 de setembro de 2009

A vida privada de Salazar

Fui ver este filme. Tem uma história fraquinha, com mulheres a entrarem e a sairem de cena. Só.
O grande mérito da película é fazer do nosso ditador uma putinha atrevida e admitamos que há um lado cómico nessa aproximação.
Além disso, Diogo Morgado está muito bem, Soraia Chaves sempre no mesmo registo de galdéria (será que ela já percebeu que só faz papeis assim?) e a Maria João Pinho tem um je ne sais quoi muito agradável à vista. E como o cabelo ruivo lhe fica bem.

21 de setembro de 2009

Com a melhor das intenções

Saí de casa cheio de boas intenções. Queria chegar e escrever um post sobre os sapos que não me deixaram dormir. Só que, a caminho da estação, cruzei-me com um miudo, com não mais de 10 anos, descalço, completamente drogado, a arrastar-se no meio da estrada e percebi, como se já não soubesse, que a minha vida não é assim tão má.

19 de setembro de 2009

Muito tempo, nem tanto assim. A Saudade. E.

E um ano é muito tempo. Muito tempo para se estar longe. E um ano é muito [pouco] tempo para não fazer caso disso.

Tempo que chegue para desorganizar recordações e mudar - os - hábitos. Já não adormeço com a televisão ligada ou com os óculos postos (não adormeço mesmo, mãe!). Não tomo cinco cafés por dia. Os óculos ficam na cabeceira, já não adormeço com eles.

Não vou à missa ao domingo depois de dar catequese. Não dou catequese. Não vou ao café ao domingo, depois da missa a que não faltava depois da catequese. Já não vou à missa ao domingo. Continuo a não apagar a luz. Adormeço antes de conseguir, mas não tomo cinco cafés por dia.

Um ano é muito tempo. Muito tempo e A Saudade. A do que, do que eu estou a perder. Do que eles estão a fazer sem mim, porque podem - isso - sozinhos. Hoje é Sábado e amanhã não vou dar catequese, mas a catequese vai lá estar. Não vou à missa, mas a missa vai lá estar. Hoje é Sábado, amanhã é domingo e eu não vou ao café depois da missa. Olha, não vou e é disso que tenho Saudade. Do que [não] vou fazer amanhã. A pior saudade é a do presente que não estás a viver.

Estão lá todos e eu não. E a vida a passar e eu não [estou].

Duas perguntinhas:

As perguntas foram respondidas. Eternamente agradecido

18 de setembro de 2009

O poder da imagem

A sondagem de ontem no Diário de Notícias prova duas coisas, a primeira das quais uma “não notícia”: Sócrates é televisivamente muito melhor do que Manuela Ferreira Leite; Sócrates não está vencido.

Feita antes do duelo “Fedorento”, a sondagem prova ainda que Portugal entrou definitivamente na era da televisão. Daqui para a frente, as campanhas e a política serão necessariamente diferentes, ainda que não orbigatoriamente melhores. Os políticos e as máquinas partidárias - com as agências de comunicação que contrataram - perceberam o poder da imagem (perceberão ainda melhor depois das sondagens feitas a seguir ao programa do Ricardo Araújo Pereira e dos outros três) e é por isso que todas as agendas pré-eleitorais convergem num ponto: o boneco televisivo.

Manuela Ferreira Leite pode ser o anti-político, mas o eleitor não quer anti-políticos. O eleitorado quer quem fique bem no ecrã. E Sócrates fica. Assim como fica Louçã (12%). E daqui por diante, venham denuncias, suspeitas e acusações.

Se a política fosse música, os partidos bandas pop e as eleições o Ídolos, ganharia quem tivesse a melhor melodia, mesmo que ninguém percebesse nada a letra.

16 de setembro de 2009

Viver em Luanda

Levo um ano e tal de Luanda. Angola está na moda e [quase] toda a gente quer vir para cá, gostava de querer ou já pensou em. Fica um post de serviço público sobre este admirável mundo novo. O texto destina-se a quem está de malas feitas ou a pensar nisso… para que se deixem de ilusões.

Luanda não é Angola e Angola não é só Luanda. Hoje vamos falar de habitação, transportes, compras e vida em geral. Destaco palavras-chave, para que se orientem.


Habitação

Luanda tem três áreas habitacionais distintas. O centro da cidade, todo ele com construções antigas, do tempo colonial e prédios que fazem lembrar a Amadora dos anos 60, sem obras desde então. Existem também, na Maianga ou no Bairro Azul, algumas vivendas da mesma época, embora em melhor estado de conservação. Desconheço o preço do aluguer de uma vivenda, mas sei que nos apartamentos as rendas mensais rondam os 3000 / 4000 dólares.

À volta do centro estão os musseques. Estes “bairros da lata” não obedecem a nenhum tipo de ordenamento e, em alguns casos, como o Cassenda, junto ao aeroporto, confundem-se com o que já foram zonas ordenadas. O saneamento básico, projectado para um número bem inferior de moradores, não consegue responder às necessidades actuais e por isso é frequente existirem verdadeiras lagoas disso que estão a imaginar. Nos musseques existem casas de três tipos: vivendas recuperadas, com altos muros e um segurança à porta, casas e anexos de tijolo, com telhado de chapa, sem tecto e sem água (a não ser em balde) e casas de chapa. A renda de uma casa de tijolo com dois quartos, sala e wc, mesmo sem água, ronda os 700 a 800 dólares. Aumentará se precisarem de mais espaço. Comprar um terreno nestes bairros é um risco. Muitos são vendidos a várias pessoas e o dinheiro acaba por ser deitado fora.

Em Luanda Sul está a crescer a “cidade nova”. Talatona assemelha-se a uma cidade europeia, com ruas alcatroadas, iluminação pública e relativa segurança. As casas são de acordo com os padrões europeus, os preços é que não. Luanda Sul é a capital dos condomínios, ocupados quase todos por expatriados. Um T3 pode custar, mensalmente, 20 mil dólares. Comprar casa nesta área pode significar desembolsar entre 1 a 5 milhões de dólares.

Uma nota ainda para o projecto Nova Vida. É um bairro militar, construído pelo Governo. Parece um bairro social, mas é uma zona tranquila, embora sem os luxos de Talatona. As casas são maioritariamente atribuídas pelo Estado, pelo que só em regime de subarrendamento é possível alugar habitação no local. Rendas entre 3 e 5 mil dólares.


Transportes

“Luanda é um caos”. Provavelmente já terão ouvido esta expressão da boca de alguém que está ou esteve recentemente na capital angolana. A mais pura das verdades. Uma viagem entre o centro e a periferia, à distância de 10 quilómetros, pode levar 3 horas. A circulação dentro da própria cidade é infernal desde as seis da manhã e até às 22. O domingo, quando está tudo fechado, é o único dia razoável para se sair de casa.

Um empresário brasileiro dizia-me há dias que “tudo quanto é negócio de carro resulta em Luanda”. O homem estava certo. São milhares (milhões?) de carros nas esburacadas ruas da capital. O desfile de viaturas é digno de registo. Entre, velhos Starlets (que, com 15 anos, custam 6000 dólares) e potentes Hummers, Tundras e Escalades, estes importados directamente dos Estados Unidos. Nenhuma outra cidade terá tantos 4x4 como Luanda.

A falta de transportes públicos agrava a situação. A TCUL – Transportes Colectivos Urbanos de Luanda e a Macon são as principais empresas, mas a sua frota é escassa, passa a maior parte do tempo avariada e tem dificuldades de circulação por entre o trânsito caótico em quase todas as artérias. As viagens custam 30 kwanzas (30 cêntimos de euro).

E eis-nos chegados aos táxis. Os táxis não são como nós os conhecemos. Esqueçam as filas de Mercedes à espera de passageiros. Táxi, aqui, é carrinha Hiace (“iáce”, como pronunciam os angolanos) de nove lugares, onde nunca vão menos de 12 passageiros. Os “taxistas” conduzem que nem uns loucos, sobem passeios, andam em contramão, param onde lhes apetece, mas são responsáveis por manter a cidade em funcionamento. Quando a polícia decide apreender carrinhas ilegais, a cidade cai na quase ruptura absoluta, as pessoas não aparecem para trabalhar, o trânsito aumenta e o cenário é apocalíptico. As viagens podem custar 100 a 150 kwanzas e há quem precise de apanhar cinco táxis diferentes para chegar de um sítio a outro na cidade.


Compras

Luanda é uma cidade cara. O facto de ser deficitária em termos produtivos leva a que quase tudo tenha de ser importado. A escassez de oferta faz aumentar os preços e o tempo que os cargueiros esperam para atracar (várias semanas, por vezes) no saturado Porto de Luanda não ajuda. Chegam a estar 80 navios ao largo, em lista de espera.

Para comprar bens essenciais existem cadeias de supermercados e pequenos minimercados ou cantinas, como são apelidadas as lojas de bairro.

O Shoprite, o Mundo Verde e o Nosso Super têm os preços mais populares, embora continuem caros. A Casa dos Frescos é a loja dos expatriados endinheirados, com todas as marcas de um qualquer Pingo Doce português, mas onde um pack de quatro Suissinhos pode custar 15 euros e onde eu já paguei – sou um excêntrico – 2000 kwanzas (20 euros) por uma caixa de gelado Olá.

Outra forma de comprar é no mercado informal, ou na zunga. À beira da estrada, no meio do trânsito. Os preços são mais baratos – continuando caros – porque os vendedores compram directamente nos armazéns. Há de tudo – fruta, legumes, bolachas, ovos, ferros de engomar e móveis para a casa - e chega a ser pitoresco. Quem é que não acha piada a um sofá à venda no passeio?

A comida é cara. Não será à toa que a base da alimentação é o feijão e o funge (papa feita com farinha de mandioca ou milho).


Vida em geral

… telecomunicações

Existem duas redes móveis e uma fixa. A saber: Unitel, Movicel e Angola Telecom. A primeira e a última são do Estado. A do meio é “mais ou menos” privada (os privados aqui são sempre só “mais ou menos” privados). A Unitel tem cinco milhões de clientes e é a principal rede do país. Tem muitas falhas e entope à sexta-feira, altura em que, durante horas, é difícil fazer qualquer ligação. Funciona o sistema de pré-pago, com os clientes a comprarem os cartões na rua (raspam-se, tal Lotaria Instantânea) ou a levantarem um talão com um código de recarga no ATM.

Por falar nisso, os ATM estão quase sempre fora de serviço ou sem dinheiro. A rede chama-se Multicaixa, e só nalguns terminais são aceites cartões Visa (para levantamentos internacionais, por exemplo). Os cartões Maestro não são aceites. Nas lojas, os terminais de pagamento, quando existem, estão muitas vezes fora de serviço.

A internet mais rápida no país é a 4 mb/s, oferecida pela Tv Cabo. Está acessível apenas nalgumas zonas da cidade e o preço é de 450 dólares. Existem preços - e velocidados - mais baixos. Unitel e Movicel têm internet móvel, mas o serviço tem muitas falhas, embora venha a melhorar desde a sua entrada em funcionamento.

Como se subentende pelo parágrafo anterior, há televisão por cabo e os preços são razoáveis, com todos os canais a que estamos habituados (Fox e Axn também, descansem). O campeão de vendas é, contudo, o serviço satélite, mais barato e com o mesmo pacote de canais da Tv Cabo.

… outros serviços

Luz é água são bens escassos em Luanda. É frequente o corte durante horas ou mesmo dias. Há zonas da cidade onde, simplesmente, não existe fornecimento. A solução adoptada por muitos passa por comprar um gerador próprio, para a electricidade, e um tanque de água que é depois abastecido por um camião cisterna.

… segurança

Luanda é uma cidade insegura. Os assaltos são frequentes. Telemóveis, computadores pessoais e, claro, dinheiro são os alvos principais dos “amigos do alheio”. Há que ter alguns cuidados: evitar andar a pé na rua em especial durante a noite; trancar as portas do carro; de noite, não parar nos semáforos e, acima de tudo, não confiar na sorte. Uma atitude consciente e defensiva é sempre a mais prudente. Em caso de assalto, raramente há violência. Embora os delinquentes andem quase sempre armados, só usarão a arma (e usam) se houver resistência. Para mim, a vida tem mais valor que um iPhone, mas isto sou eu a falar.

… enviar dinheiro para o estrangeiro

É difícil. Até há uns meses atrás era relativamente fácil enviar dinheiro para fora, mas com a escassez de dólares no mercado e com a crise (também aqui, sim!) a situação complicou-se. Pelo banco, o Governo obriga à apresentação de um atestado de residência e do contrato de trabalho, este último uma miragem para muitos trabalhadores estrangeiros em Angola. Existem alguns balcões da Western Union e semelhantes onde é mais fácil o envio, embora limitado a uma determinada quantia mensal.

… as pessoas

É como em tudo, há gente boa, gente assim-assim e gente má. Em geral, o angolano tem pouca responsabilidade, mas isto é uma coisa que se constrói com o tempo. Há uma nacional dificuldade em se cumprir um horário e a palavra dada é só palavra dita. Contudo, as pessoas genuínas são verdadeiras. Convém andar sempre com uns kwanzas no bolso, podem dar imenso jeito.

… lazer

Luanda não é uma cidade com muitas ofertas de lazer. Talvez por isso o Belas Shopping, o único centro comercial a funcionar (apesar de existirem muitos outros já em projecto ou mesmo em construção), seja, ao domingo, sítio de romaria e um local a evitar. O Belas que é aproveitado como cenário bucólico para fotografias de casamento. Às quintas e sextas é ver as comitivas em animados desfiles por entre lojas e corredores. O Cineplace, um complexo com oito salas de cinema – as únicas no activo – está lá instalado.

Quem procura diversão nocturna vai à Ilha, que é apenas uma península e que não deve ser confundida com o Mussulo. O Chillout é o ponto de encontro dos portugueses, com música House. Faz lembrar as discotecas lisboetas, mas ao ar livre. Miami Beach, Caribe e Jango Veleiro são outros nomes a decorar. Fora da Ilha do Cabo (ou de Luanda, como é coloquialmente chamada), o Palos é a Meca da noite. Por ter sido a primeira e pelo seu dono, o exuberante Paulo Von Haff, a discoteca / bar tem às quintas-feiras a sua grande noite semana. São as noites latinas. Se estiverem à procura de sons mais tradicionais, vulgo Kizomba, Don Q e W são os sítios onde querem ir.